DÉCIMA SEGUNDA CANÇÃO IMPRONUNCIÁVEL
-
Árvores corcundas
em um jardim
de escuros.
Onde os dedos;
não, onde os olhos;
não, onde os lábios;
não, onde o onde
sereias ou morteiros
br...
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Das coragens
Paraty 2010
"Não diga porém: descobri que ainda há muita coisa viva em mim. Mas não, minha querida! Você está toda viva! Somente você tem levado uma vida irracional. Uma vida que não parece com você. T, não pense tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (...) Nem sei como lhe explicar querida irmã, minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. Depois que uma pessoa perder o respeito de si mesma e o respeito de suas necessidades - depois disso, fica-se um pouco um trapo. Eu queria tanto, tanto estar junto de você e conversar, e contar experiências minhas e dos outros. Você veria que há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. (...) Pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver. (...) Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo aquilo que sua vida exige. Parece uma moral amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. (...) Tenha coragem de se transformar, minha querida, de fazer o que você deseja. (...) Que o ano novo lhe traga todas as felicidades, minha querida. Receba um abraço de muita saudade, de enorme saudade de sua irmã, Clarice."
Correspondências
Clarice Lispector
página 165
carta para Tania K.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
500 dias
"Acredite, esta não é uma história romântica"
"to die by your side is such a heavenly way to die"...
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Invisível
Eu sou invisível.
"... porque estar perto não é físico e,
estar longe não é definitivo..."
estar longe não é definitivo..."
- Os famosos e os duendes da morte -
domingo, 26 de dezembro de 2010
Nem linho, nem seda
Índios
Legião Urbana
Quem me dera
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha
Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...
Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.
Ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha
Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda
Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.
Eu quis o perigo
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...
Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.
Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.
Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.
E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
sábado, 18 de dezembro de 2010
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Passagem, paisagem
O bar, erguido em meio a ruínas é autêntico e charmoso...
feito areia de deserto na beira-mar...
Chuva de peixe
Se eu estivesse em Brasília, iria para Asa Sul voando, ou melhor nadando, nesta Chuva de Peixe linda...
O cartaz é maravilhoso: Baboo Matsusaki !
Das antigas
La Collectionneuse, de Eric Rohmer [1967]
A história de uma jovem de olhos frágeis que colecionava homens. Um dos Seis Contos Morais, o quarto para ser exato, e um dos mais imorais, que o indispensável colaborador do Cahiers du Cinéma e precursor da Nouvelle Vague cometeu. A tríade: mulheres bonitas, lugares lindos e papo-cabeça sobre sexo e amor, está sempre presente. Rohmer utiliza-se de um casal passando férias numa casa de praia e da ingênua colecionadora para criar mais um de seus despretensiosos – até a página dois - tratados sobre a alma humana. Um filme com trejeitos de literatura, desaconselhado nos anos sessenta para menores de idade, vencedor de dois prêmios no Festival de Berlim.
A história de uma jovem de olhos frágeis que colecionava homens. Um dos Seis Contos Morais, o quarto para ser exato, e um dos mais imorais, que o indispensável colaborador do Cahiers du Cinéma e precursor da Nouvelle Vague cometeu. A tríade: mulheres bonitas, lugares lindos e papo-cabeça sobre sexo e amor, está sempre presente. Rohmer utiliza-se de um casal passando férias numa casa de praia e da ingênua colecionadora para criar mais um de seus despretensiosos – até a página dois - tratados sobre a alma humana. Um filme com trejeitos de literatura, desaconselhado nos anos sessenta para menores de idade, vencedor de dois prêmios no Festival de Berlim.
Manhas e mãnhas
Hoje acordei pensando que minhas mãnhas são boas, o que me tira a paciência são as coisas que acontecem no decorrer do dia. Sou moça que acorda de bom humor, que não se estressa se o cabelo não secou e que não se importa de passar o esmalte no carro.
Mas, eu não tenho muita paciência para coisas bobas não.
Praticidade é o meu lema. Dá pra fazer, façamos. Não dá, adiante meu bem e vamos que vamos.
Gente que pensa devagar, que trabalha devagar e que pensa vagamente me deixa extremamente irritada. Não fazer direito o que poderia ser feito com mais cuidado (quantas vezes você sabe que bastava um pouquinho de boa vontade para aquele trabalho ficar genial ?) me deixa zangada mentalmente. Mas, tem pessoas que são assim, simplesmente não fazem, não querem saber.
O meu problema é este. Eu sempre quero saber, e pior, eu abraço cada jacaré que não é meu, que depois me sinto assim, lutando no lodo do fundo de um rio. Daí, é partir para matar um jacaré por dia, e olha que eu mato, mas me canso... canso mesmo.
Ultimamente ando me sentindo manhosa, é verdade. Ando querendo mais dengo do que posso ter, ando querendo mais cuidados comigo (meu e dos outros!), ando querendo atenção, atenção por favor!
Sei que é tudo manha, e que vai passar. Mas, enquanto não passa, eu tô querendo me vestir com voial e cetim, usar echarpès de flores do campo, colher margaridas para brincar de bem-me-quer e ver filme antigo na tv.
É manha, de mãnha, vai passar, eu sei.
Menina, amanhã de manhã
Tom Zé - Perna
Menina , amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Na hora ninguém escapa
De baixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado
Menina, olhe pra frente
menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segure o jogo, atenção de manhã
Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça
Menina, a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
Menina, a felicidade é cheia de ano,
É cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de onu
Menina, a felicidade
É cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on
Menina, a felicidade é cheia de a,
É cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó
É cheia de a, é cheia de é,
É cheia de i, é cheia de ó
Tom Zé - Perna
Menina , amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Na hora ninguém escapa
De baixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado
Menina, olhe pra frente
menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segure o jogo, atenção de manhã
Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça
Menina, a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
Menina, a felicidade é cheia de ano,
É cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de onu
Menina, a felicidade
É cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on
Menina, a felicidade é cheia de a,
É cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó
É cheia de a, é cheia de é,
É cheia de i, é cheia de ó
Moço rico, moça pobre
A atração fala sobre uma moça pobre que se apaixona por um moço rico, comprometido com outra dama, e que se veste como pobre. Ao descobrir a farsa, ela morre. No segundo ato, a reafirmação do amor como ideal se manifesta no pós-morte. Giselle, agora no mundo dos mortos, continua apaixonada pelo moço e ainda luta para manter o sentimento que dá sentido ao espírito.
A nova versão coreografada por Luiz Fernando Bongiovanni para o Balé da Cidade de São Paulo apresenta uma série de mudanças na dramaturgia original. A começar por dividir a personagem principal --Giselle-- em três intérpretes, que representam, cada, um estado de espírito.
Outra alteração é a de fazer com que as Wilis (criaturas femininas sobrenaturais do mundo dos mortos), se tornem criaturas tanto femininas quanto masculinas. Myrtha, rainha das Wilis e personagem originalmente niilista, também ganha um caráter “sensível e complexo”, diferente do “vingativo e culpado” da versão original.
Outra alteração é a de fazer com que as Wilis (criaturas femininas sobrenaturais do mundo dos mortos), se tornem criaturas tanto femininas quanto masculinas. Myrtha, rainha das Wilis e personagem originalmente niilista, também ganha um caráter “sensível e complexo”, diferente do “vingativo e culpado” da versão original.
"GISELLE", DO BALÉ DA CIDADE DE SÃO PAULO
Quando: de 17 a 19 de dezembro de 2010. Sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h
Onde: Auditório Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - portão 2 do parque Ibirapuera)
Quanto: R$ 30 (R$ 15 meia)
Mais informações: 0/xx/11/3629-1014 e site do Auditório Ibirapuera.
Para mim, para ti.
Se você adora teatro, como eu, e não conhece o projeto Teatro para Alguém... está perdendo tempo a toa...
"O Grupo de Teatro Para Alguém é o primeiro grupo de teatro brasileiro a produzir espetáculos especialmente para a internet, no site www.teatroparaalguem.com.br, onde também são apresentados trabalhos de outros grupos selecionados por uma curadoria.
Criado pela atriz Renata Jesion e pelo diretor de fotografia Nelson Kao, o grupo convida diversos artistas e grupos renomados para participarem de suas produções.
Desde 2008, o TPA já transmitiu ao vivo mais de 40 peças inéditas, AO VIVO, e hoje disponíveis gratuitamente para acesso a qualquer hora. O trabalho inédito motivou dezenas de reportagens e levou o site à indicação ao 22º Prêmio Shell de Teatro de São Paulo 2009, na Categoria Especial, “pela iniciativa de criação cênica via internet”.
Olha só que genial: TEATRO PARA ALGUÉM
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Era uma brasa, mora ?
Aposto que você não sabia que a música Cavalgada do Robertão (Carlos) era puramente sexual... eu não sabia...
CAVALGADA
Roberto Carlos/Erasmo Carlos
"Vou cavalgar por toda a noite
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E a minha mão mais atrevida
Vou me agarrar aos seus cabelos
Pra não cair do seu galope
Vou atender aos meus apelos
Antes que o dia nos sufoque
Vou me perder de madrugada
Pra te encontrar no meu abraço
Depois de toda a cavalgada
Vou me deitar no seu cansaço
Sem me importar se neste instante
Sou dominado ou se domino
Vou me sentir como um gigante
Ou nada mais do que um menino
Estrelas mudam de lugar
Chegam mais perto só pra ver
E ainda brilham de manhã
Depois do nosso adormecer
E na grandeza deste instante
O amor cavalga sem saber
E na beleza desta hora
O sol espera pra nascer."
Do livro Roberto Carlos Em Detalhes:
"Cavalgada não existiria se antes Chico Buarque não tivesse composto Sem açúcar, mais uma da sua safra de canções que tratam de temas do universo feminino. Lançada por Maria Bethânia em 1975, a canção de Chico é narrada do ponto de vista de uma mulher de malandro, resignada, que, em uma das estrofes, diz: "Longe dele eu tremo de amor/na presença dele me calo/ eu de dia sou sua flor/ eu de noite sou seu cavalo". Foi depois de ouvir Maria Bethânia cantar Sem açúcar que Roberto Carlos se inspirou para fazer Cavalgada. O cantor achou aquele verso com a referência ao cavalo muito forte e bonito, e durante alguns dias ficou com ele na cabeça. Certa noite, depois de mais uma apresentação no Canecão, Roberto Carlos voltou para o hotel e se lembrou novamente do verso de Chico Buarque. E aí ele decidiu iniciar uma nova canção, na qual ele narra, do ponto de vista do homem, como seria aquela noite cavalgando sobre a mulher. "Anotei a idéia e, no dia seguinte, continuei em cima porque foi uma música que me preocupei em terminar rápido para não perder a ideia", recorda Roberto Carlos.
O cantor logo procurou o parceiro Erasmo Carlos e juntos burilaram cada verso da canção, que começa exatamente onde a de Chico Buarque termina: "Vou cavalgar por toda a noite/ por uma estrada colorida/ usar meus beijos como açoite/ e a minha mão mais atrevida/ vou me agarrar aos seus cabelos/ pra não cair do seu galope/ vou atender aos meus apelos/ antes que o dia nos sufoque...". Segundo Erasmo Carlos, eles conseguiram dizer tudo o que queriam naquele tema. "Cavalgada é a narração de um ato sexual e nós temos consciência de que fomos muito felizes na escolha das palavras. Em vez de dizer Vou trepar nessa mulher a noite inteira", nós fizemos uma coisa de bom gosto para dizer a mesma coisa."
Cavalgada é uma daquelas canções que não foi um grande sucesso na época do seu lançamento, mas com o tempo acabou se tornando um clássico. O disco no qual Roberto Carlos incluiu a canção teve outras faixas com muito mais força de execução no rádio, caso de Amigo, Outra vez ou Falando sério. Aos poucos, porém, Cavalgada foi se firmando na preferência do público, sendo solicitada nos programas de flashback e ganhando destaque nos shows de Roberto Carlos. Nos anos 90, o maestro Eduardo Lages criou um novo arranjo para a música, mais pesado, grandiloqüente, que ajudou a promover ainda mais essa belíssima composição de Roberto e Erasmo Carlos."
Por uma estrada colorida
Usar meus beijos como açoite
E a minha mão mais atrevida
Vou me agarrar aos seus cabelos
Pra não cair do seu galope
Vou atender aos meus apelos
Antes que o dia nos sufoque
Vou me perder de madrugada
Pra te encontrar no meu abraço
Depois de toda a cavalgada
Vou me deitar no seu cansaço
Sem me importar se neste instante
Sou dominado ou se domino
Vou me sentir como um gigante
Ou nada mais do que um menino
Estrelas mudam de lugar
Chegam mais perto só pra ver
E ainda brilham de manhã
Depois do nosso adormecer
E na grandeza deste instante
O amor cavalga sem saber
E na beleza desta hora
O sol espera pra nascer."
Do livro Roberto Carlos Em Detalhes:
"Cavalgada não existiria se antes Chico Buarque não tivesse composto Sem açúcar, mais uma da sua safra de canções que tratam de temas do universo feminino. Lançada por Maria Bethânia em 1975, a canção de Chico é narrada do ponto de vista de uma mulher de malandro, resignada, que, em uma das estrofes, diz: "Longe dele eu tremo de amor/na presença dele me calo/ eu de dia sou sua flor/ eu de noite sou seu cavalo". Foi depois de ouvir Maria Bethânia cantar Sem açúcar que Roberto Carlos se inspirou para fazer Cavalgada. O cantor achou aquele verso com a referência ao cavalo muito forte e bonito, e durante alguns dias ficou com ele na cabeça. Certa noite, depois de mais uma apresentação no Canecão, Roberto Carlos voltou para o hotel e se lembrou novamente do verso de Chico Buarque. E aí ele decidiu iniciar uma nova canção, na qual ele narra, do ponto de vista do homem, como seria aquela noite cavalgando sobre a mulher. "Anotei a idéia e, no dia seguinte, continuei em cima porque foi uma música que me preocupei em terminar rápido para não perder a ideia", recorda Roberto Carlos.
O cantor logo procurou o parceiro Erasmo Carlos e juntos burilaram cada verso da canção, que começa exatamente onde a de Chico Buarque termina: "Vou cavalgar por toda a noite/ por uma estrada colorida/ usar meus beijos como açoite/ e a minha mão mais atrevida/ vou me agarrar aos seus cabelos/ pra não cair do seu galope/ vou atender aos meus apelos/ antes que o dia nos sufoque...". Segundo Erasmo Carlos, eles conseguiram dizer tudo o que queriam naquele tema. "Cavalgada é a narração de um ato sexual e nós temos consciência de que fomos muito felizes na escolha das palavras. Em vez de dizer Vou trepar nessa mulher a noite inteira", nós fizemos uma coisa de bom gosto para dizer a mesma coisa."
Cavalgada é uma daquelas canções que não foi um grande sucesso na época do seu lançamento, mas com o tempo acabou se tornando um clássico. O disco no qual Roberto Carlos incluiu a canção teve outras faixas com muito mais força de execução no rádio, caso de Amigo, Outra vez ou Falando sério. Aos poucos, porém, Cavalgada foi se firmando na preferência do público, sendo solicitada nos programas de flashback e ganhando destaque nos shows de Roberto Carlos. Nos anos 90, o maestro Eduardo Lages criou um novo arranjo para a música, mais pesado, grandiloqüente, que ajudou a promover ainda mais essa belíssima composição de Roberto e Erasmo Carlos."
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Experimente São Paulo
O Mapa das Sensações
O Mapa das Sensações surgiu como um caminho para encantar e surpreender o turista que vem à São Paulo, fazendo da sua vivência na cidade momentos emocionantes. A idéia era captar, mensurar e espacializar as variadas sensações experimentadas pelo turista na Cidade, tomando como base os 5 sentidos (visão, audição, tato, olfato, paladar).
Participe: Aqui
(dica bacana recebida da Tami Viana)
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Deleitosa
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Hilda Hilst - Do Desejo - 1992)
Descomedida
"Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer"
( Hilda Hilst - Do Desejo - 1992)
Égua fantasmagórica
A mesma ilusão
Da égua que sorve a água pensando sorver a lua.
De te pensar me deito nas aguadas
E acredito luzir e estar atada
Ao fulgor do costado de um negro cavalo de cem luas.
De te sonhar, tenho nada,
Mas acredito em mim o ouro e o mundo.
De te amar, possuída de ossos e abismos
Acredito ter carne e vadiar
Ao redor dos teus cismos. De nunca te tocar
Tocando os outros
Acredito ter mãos, acredito ter boca
Quando só tenho patas e focinho.
De muito desejar altura e eternidade
Me vem a fantasia de que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua fantasmagórica
Sorvendo a lua n'água..."
Hilda Hilst
Três por Quatro
Bem humorada ao acordar + moleca numa pista de dança + moça de tantos quereres e de tantas delicadezas + doida, perdida, totalmente perdida, desgovernada.
Sou assim, 3 x 4.
La Photo Cabine
Eu tenho muitos vícios, manias e desejos. Dos vícios e manias, creio que o pior seja a fotografia. Gosto de captar instantes para transformar em poema, em conto, história qualquer. É difícil, lidar com isto, eu sei... sinto... porque eu fotografo muito. E, dos desejos, um deles é de ter uma cabine fotográfica na sala da minha casa.
Acreditem, eu gostaria e muito!
Receber amigos e juntar todo mundo para uma foto na cabine. Acordar de manhã e antes do banho, tirar uma 3x4, toda descabelada e amassada. Ir ao salão e voltar linda (tanto quanto possível)... cabine em mim. Minha mãe querida apareceu... boto o mãe na cabine...
Tá, é estranho, eu sei... mas, eu queria, muito ter uma Photo Cabine em casa, queria sim, queria mesmo.
Enquanto tudo isto fica só na esfera do querer, eu vou brincando por aqui...
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
de verdade,
... para mim, já é Natal...
... comprei hoje meu primeiro presente...
Escrito ao longo de quatro décadas, e na voz de quatro narradores, De verdade — que alguns críticos reputam como a obra máxima do húngaro Sándor Márai — disseca os conflitos do amor e do casamento, além de revelar os bastidores da burguesia decadente da Europa Central entre as duas grandes guerras. Demarcando com agudeza a fronteira intransponível que separa as classes sociais, o romance reabre as cicatrizes de uma capital agonizante, sitiada pelas tropas comunistas.
Numa confeitaria de Budapeste, Ilonka conta a uma amiga a história de seu casamento desfeito, e relembra a inutilidade do esforço para conquistar a alma do ex-marido, encantado desde a juventude por Judit, uma simples criada. Depois, na atmosfera carregada de um café, Péter, o ex-marido de Ilonka, narra a um amigo a mais tarde, na cama de um quarto de hotel em Roma, Judit fala ao novo namorado, músico, sobre a união fracassada com Péter, condenada de início pelo abismo existente entre seu ressentimento indissolúvel e as amarras impostas a seu parceiro, nobre por herança e filiação. Finalmente, em Nova York, o baterista de cabaré, o último confidente de Judit, faz uma crítica áspera da ditadura da sociedade de consumo, responsável pelo fim do sonho americano.
Numa confeitaria de Budapeste, Ilonka conta a uma amiga a história de seu casamento desfeito, e relembra a inutilidade do esforço para conquistar a alma do ex-marido, encantado desde a juventude por Judit, uma simples criada. Depois, na atmosfera carregada de um café, Péter, o ex-marido de Ilonka, narra a um amigo a mais tarde, na cama de um quarto de hotel em Roma, Judit fala ao novo namorado, músico, sobre a união fracassada com Péter, condenada de início pelo abismo existente entre seu ressentimento indissolúvel e as amarras impostas a seu parceiro, nobre por herança e filiação. Finalmente, em Nova York, o baterista de cabaré, o último confidente de Judit, faz uma crítica áspera da ditadura da sociedade de consumo, responsável pelo fim do sonho americano.
Saiba mais sobre Sándor Márai AQUI
O Poeta Do Castelo (1959)
"...o sol tão claro lá fora,
o sol tão claro, Esmeralda,
e em minhalma — anoitecendo."
Manuel Bandeira
Ensaios
Talvez nenhum escritor do século XX tenha sido tão observador e elegante quanto Truman Capote ao retratar seu tempo. Ensaios é o primeiro volume dedicado unicamente a todos os ensaios publicados por este que é um dos mais apreciados escritores do século XX. De seus esboços de viagens escritos quando ele tinha 22 anos, às meditações sobre a fama, a fortuna e a arte de um escritor no auge desua carreira, esses ensaios são uma janela essencial para a América do meio do século XX aberta por um de seus mais sagazes observadores.
Leia um trecho AQUI
Capote, Truman, 1924-1984.
Ensaios / Truman Capote ; tradução: Débora Isidoro. – São Paulo :
Leya, 2010 - 608 páginas
Do jeito que eu queria
ART MUST BE BEAUTIFUL, ARTIST MUST BE BEAUTIFUL [A arte deve ser bela, o artista deve ser belo], 1975. Parte integrante da videoinstalação VIDEO PORTRAIT GALLERY [Vídeo galeria de retratos], 2007. Cortesia: artista & Sean Kelly Gallery, Nova York.
"Em novembro do ano passado, Marina Abramovic convidou amigos para o jantar de seus 63 anos em seu loft no SoHo, bairro de Nova York, um espaço luxuoso, com um vestiário de peças de metal ao lado de uma enorme banheira - presente que ela se deu após ter se separado de Paolo Canevari, seu segundo marido, escultor italiano. Marina estava maravilhosa, trajando um vestido preto justo e maquiagem criativa, cabelos soltos. "Quero que você conheça alguém", disse, conduzindo-me até um canto onde havia um querubim com rosto tristonho e tranquilo e cabelos despenteados. "Este é Antony. Espero que ele cante em meu funeral." Antony Hegarty, do grupo Antony and the Johnsons, é famoso por sua voz etérea. A música que ele irá cantar quando ela morrer, "se tudo der certo", diz Marina, é My Way. Então, ela me conta como será sua performance de despedida. Irá ocorrer em três cidades: Belgrado, Amsterdã e Nova York. Quem comparecer deverá usar roupas coloridas. E haverá um caixão em cada cidade. "Ninguém saberá", diz, "em qual deles estará o verdadeiro cadáver." - Revista Bravo
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Eu nada pedi
Meu Mundo Caiu
Maysa
Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim
Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí
Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim
Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí
Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar
domingo, 5 de dezembro de 2010
Escrita
Obrigada à vocês, leitores do Letreira.
Vocês também fazem parte do meu Universo (se não o real, pelo menos o virtual). E daqui, já ganhei muitos amigos (alguns que estimo muito mais do que uns alguéns reais) .
Estranho o momento, em que vocês, que por aqui passam deixando suas impressões, se tornam tão próximos que parecem sempre ter existido na minha vida.
Estranho o momento, em que vocês, que por aqui passam deixando suas impressões, se tornam tão próximos que parecem sempre ter existido na minha vida.
Alguns eu gostaria mesmo, de ter conhecido há muitos e muitos tempos, e gostaria mais ainda de que soubessem muito mais de mim, e saberiam assim quem eu sou (não só pelo que escrevo hoje, mas pelo que já vivi, quais os caminhos que me trouxeram até aqui).
Mas, sabendo que o tempo não se muda, apenas se segue...
Sigamos juntos: "para o infinito e além".
Obrigada por me seguirem.
Olhar distante
A uma passante
Charles Baudelaire
A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;
Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.
Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?
Longe daquí! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste
Rebelião
Você já foi em alguma Rebelião que o Ademir promoveu ? Você já deu as caras no Espelunca em noites quentes ? Você já pensou "putz, é isto mesmo ? tá tudo assim (ou assado) , perdido e mal pago ? " . Se você sabe quem é este moço, então não precisa do convite. Deve saber que com ele não tem meia boca, tudo é sempre no fio da navalha. E, corta a alma ao meio e deixa sangrando, sem dó, sem arrependimentos.
Não vai perder, heim ?
"Quarta-feira que vem vou fazer a última apresentação do ano do show Rebelião na Zona Fantasma. Não deu para entrar no flyer, mas eu aviso aqui: além do Marcelo Watanabe (Bob Wata) na guitarra e do Caio Góes no baixo, teremos Caio Dohogne na bateria. Agora fechei a banda que estava procurando há um bom tempo. Depois de 15 shows no interior, mais um em Recife e outro em Belo Horizonte, o som está tinindo. A entrada é franca." - Ademir Assunção
Eu tenho
cena do filme Bee season
... um mundo brilhante, secreto e imaginário ...
mas, eu estou sempre na janela,
olhando tudo do lado de fora
mas, eu estou sempre na janela,
olhando tudo do lado de fora
Leio entre travesseiros
Marc Chagall, Aniversário
Meu maior sonho hoje é poder ler...
Não tenho tido tempo para minhas leituras...
Eu quero ficar rica pra ler o tempo todo...
o tempo inteiro...
Comendo, bebendo, cozinhando,
andando pela casa, roçando meu pé na tua perna
Se você me ama, me adote...
Eu ficarei lendo...
Posso ler pra você...
No banheiro, no chuveiro, no rodapé..
Leio entre travesseiros,
leio no seu peito, deitada sobre você..
Eu leio você!
Eu leio...
Não tenho tido tempo para minhas leituras...
Eu quero ficar rica pra ler o tempo todo...
o tempo inteiro...
Comendo, bebendo, cozinhando,
andando pela casa, roçando meu pé na tua perna
Se você me ama, me adote...
Eu ficarei lendo...
Posso ler pra você...
No banheiro, no chuveiro, no rodapé..
Leio entre travesseiros,
leio no seu peito, deitada sobre você..
Eu leio você!
Eu leio...
Felicidade
FelicidadeMarcelo Jeneci
Composição: Marcelo Jeneci/ Chico César
Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz.
Sem tirar o ar, sem se mexer, sem desejar como antes sempre quis.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Lembrará os dias que você deixou passar sem ver a luz.
Se chorar, chorar é vão porque os dias hão pra nunca mais.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e depois dançar, na chuva quando a chuva vem.
Melhor viver, meu bem, pois há um lugar em que o sol brilha pra você.
Chorar, sorrir também e dançar.
Dançar na chuva quando a chuva vem.
Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar.
Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar.
Você vai rir, sem perceber, felicidade é só questão de ser.
Quando chover, deixar molhar pra receber o sol quando voltar.
Isolation
Isolation
In fear every day, every evening,
He calls her aloud from above,
Carefully watched for a reason,
Painstaking devotion and love,
Surrendered to self preservation,
From others who care for themselves.
A blindness that touches perfection,
But hurts just like anything else.
Isolation, isolation, isolation.
Mother I tried please believe me,
I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.
Isolation, isolation, isolation.
But if you could just see the beauty,
These things I could never describe,
These pleasures a wayward distraction,
This is my one lucky prize.
Isolation, isolation, isolation...
Isolamento
Amedrontado todo dia, toda noite,
Ele a chama em voz alta de cima
Cuidadosamente espreitando por uma razão,
Meticulosa devoção e amor
Renunciou à auto-preservação
Dos outros que apenas importam-se consigo
Uma cegueira que toca a perfeição,
Mas machuca como qualquer outra coisa.
Isolamento, isolamento, isolamento.
Mãe, eu tentei, por favor, acredite em mim,
Estou fazendo o melhor que posso.
Me envergonha as coisas que tenho feito,
Me envergonha a pessoa que sou.
Isolamento, isolamento, isolamento
Mas se você apenas pudesse ver a beleza,
Destas coisas que eu nunca poderia descrever,
Destes prazeres - caprichosos, distrativos
Este é o meu único prêmio da sorte
Isolamento, isolamento, isolamento...
Garfo sem dentes
ele sabia que não podia passar despercebido
mesmo assim continuava a usar o rosto escondido
(felipe godoy - aquarela)
mesmo assim continuava a usar o rosto escondido
(felipe godoy - aquarela)
Who i am ?
Ilustração, Rita Wayner
Não,
eu não sou igual à você.
Eu quero mais, eu espero mais,
eu sou mais.
Eu sei...
sábado, 4 de dezembro de 2010
Feito de azul
1 dia (04/12/2010)
Nasceu o Tomás !
Lindo assim. Feito de azul, repleto de paz, com o semblante sereno de quem veio para alumiar, feito anjo... igual aquele, que as mães antigas cantavam com suas vozes doces e melodiosas "dorme, anjo lindo... que eu zelo por ti... dorme, que minh´alma é tua...é noite de lua... te espero dormir..."
Este moço deu trabalho viu ? Deu alarme falso, fez a mãe teclar no facebook enquanto gemia (e o pai dormia!) , avisou que vinha e não veio, e de brincadeira se escondeu por mais dias do que se esperava. A mãe , que sabe tudo, entende tudo, mesmo sem compreender como e quando tão sábia se transformou esperou... esperou ... e ele chegou. Na data prevista, estando tudo certo para ele vir ao mundo gritando e berrando com plenos pulmões, ele resolveu se fazer de galã e guardou o grito... e quietinho resolveu que ia dormir mais um pouquinho naquela barriga gostosa que o acalentou e o carregou por tanto tempo.
Se eu fosse nascer de novo, também faria o mesmo... ter pressa para quê ?
E foi assim que este mocinho lindo (depois de quase 12 horas!) foi retirado delicadamente do corpo que o gerou. Foi assim, que este anjinho chegou ao mundo e encontrou aqui, do lado de fora, tanto amor, que ele fica fazendo este charme todo para deixar todo mundo bobo... e a gente fica, o tempo todo... olhando foto, olhando boca, olhando estes olhinhos de gato que ficam fechados dengosamente. Tão lindo, tão lindo...
É bonito demais ver o nascimento de uma vida.
Deve dar uma sensação plena de fazer sentido estar neste mundo. Deve ser uma emoção inexplicável saber que este pequeno pedacinho de gente que nasceu de você, é a melhor parte do que você é, e este nascimento vai te transformar e vai fazer com que você deixe de ser o filho, para o ser pai/mãe e começar de novo, o ciclo da vida.
Deve ser bom demais, olhar para o teu filho e saber que ele é puro, inocente e está vindo ao mundo, despido de tudo. E, caberá à você, oferecer proteção, ofertar amor, doar tempo, dar atenção, educar para a vida, educar para as gentilezas, imaginar o sucesso, acompanhar o crescimento, chorar junto, dar mais risada do que jamais daria sozinho, voar, pedalar, abraçar, beijar e sem pedir NADA em troca, apenas pelo prazer de estar ali, presente, o tempo todo. E ele, vai fazer tudo ! Vai ganhar o mundo... o mundo grande... o grande mundo que hoje está no teu colo, na palma da tua mão. O Tomás hoje, é este mundo e tenho certeza que pra Klá e o Bico a vida será mais iluminada agora, eles estão apenas começando.
Mas, este mocinho lindo não nasceu assim por acaso.
O Bico e Klarissa são os responsáveis por este pequeno ser que hoje só traz encantamentos...
O Bico é uma pessoa do bem, destas que a gente olha e se sente assim... feliz por ser amigo, por estar junto, mesmo que nem sempre por perto esteja. É amigo antigo do meu marido e eu o conheço só pelas gentilezas, pelo sorriso franco, sempre aberto, sempre sincero.
A Klarissa é uma moça linda, destas que a gente vê o tamanho e acha que é miúda (mas, não tão miúda!) e que o olhar mostra a leoa que ruge ali naquela alegria. É moça querida, mesmo que tão pouco a gente se veja, mas a gente se fala e dá no mesmo.
E é destes dois queridos que nasceu o Tomás.
Estou aqui escrevendo e olhando para estas fotos lindas e sentindo o cheirinho que imagino que ele tenha. Cheiro daqueles que a gente não sabe como nos invade, mas a vontade é de encontrar o pescocinho, de beijar as perninhas e segurar nas mãos pequenininhas e não soltar nunca mais...
Tenho certeza que este mocinho será muito, mas muito amado por esta família linda. Tenho certeza, que ele será muito iluminado e receberá todas as graças e toda sorte que houver nesta vida. É assim que escrevo, que imagino estar escrito.
"É, você que é feito de azul, me deixa morar nesse azul, me deixa encontrar minha paz, você que é bonito demais, se ao menos pudesse saber, que eu sempre fui só de você, você sempre foi só de mim..." - Só tinha de ser com você (Tom Jobim)
Tomás - 5 dias
E quem conhece, sabe...
olha aí,
é o bico do Pai!
Tomás, beijo da nova Tia Sônia e do Tio Ciro !
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Tenho apertado ao peito hipotético
TABACARIA (15-1-1928 )
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres
Com a morte a pôr umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens.
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.
Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu ,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo.
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando.
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
0 mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num paço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
0 seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou á janela.
0 homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(0 Dono da Tabacaria chegou á porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da tabacaria sorriu.
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