segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Terceira Margem do Rio


Junho é de choro mesmo e este ano não podia ser diferente. 

Hoje morreu meu melhor amigo.

Hoje partiu a pessoa na qual eu mais confiava, o amigo ao qual deixei muitas vezes e deixaria tantas outras, minha vida em suas mãos. Meu amigo de noite e de dia, de sorriso aberto e crises existenciais. Meu amigo de invernos rigorosos e de verões escaldantes. Meu amigo morreu e não sei se depois desta morte minha vida um dia ainda será igual a antigamente.

Eu acho que não, morro com ele. O melhor da minha existência, o que sobrou das minhas raras belezas, só ele viu e com ele morre. Eu fui uma pessoa melhor durante este tempo, eu pensava que com ele seria possível ter uma lojinha onde "Tinha de tudo um pouco e o céu também"

Meu amigo, só não era meu marido, mas era tão amado como se fosse. Ele sabia que nossas alianças era de outras vidas, então ficava fácil viver a vida ao lado dele, mesmo que a distância.

Ele sabia tudo de mim, eu sabia tudo o que ele queria que eu soubesse dele. Eu sei, que sabia mais do que ele imaginava, porque eu o lia nas entrelinhas e mesmo calada, eu o entendia e seguia, paciente, ao seu lado.

Meu amigo não vai mais voltar, não pro meu coração, pra minha vida ... e juro, tá um precipício aqui sob os meus pés e eu tô chorando igual um animal abatido mas que ainda vive.

Eu sabia que um dia ele partiria, assim como meu pai partiu, assim como eu partirei.

Desta vida a gente sabe... só se nasce pra morrer... E, enquanto não morremos, vamos vivemos... construindo histórias, afetos e sentimentos. E, tentando ser fortes, para chorar nossos mortos e não morrer com nossas tristezas.

"Cê vai, ocê fique, você nunca volte!"  

( Sua vida torna-se reclusa e sem sentido, a não ser pelo desejo obstinado de entender os motivos da ausência ...  “Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio-pondo perpétuo.” ) - Guimarães Rosa, A Terceira Margem do Rio.

Dez anos


Dez anos não voa, atropela. Tudo aquilo que você imaginou, não aconteceu. Quando era pra acontecer, você deixou de acreditar.

Eu não acredito - Pai - que já faz dez anos que você partiu (talvez nem queira acreditar mesmo).

Junho é tempo de enterrar meus mortos. Coração doído, sangra sempre. Cicatrizes, não curam... só as feridas, estas sim, desaparecem com o tempo.

Mais um primeiro domingo de junho, Pai. Há dez anos atrás, num mesmo domingo estranho assim, eu jogava terra na tua cova enquanto mil medos e mil dores e mil tristezas e mil choros e mil desesperos congelavam meu corpo trêmulo...

Mais um primeiro domingo de junho ... pai... e eu continuo enterrando tudo dentro de mim, sozinha, como sempre fiz...

Dez anos, Pai.

Eu daria dez minutos da minha existência pra você estar aqui agora, pra me fazer sorrir e então eu trocaria de lugar com você e partiria, sem medo...

Este junho, este inverno rigoroso, será para lembrar você, todos os dias, até que o sol se levante e me aqueça novamente. Até lá, Pai, na minha retina, teu caixão desce terra abaixo e meu coração ainda dói... como há dez anos atrás...

Caramuru


"...Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo."


(Clarice Lispector)

domingo, 5 de junho de 2011

Chamamento


Nessa página de vidro pretendo simplesmente fazer caber a minha vida. Talvez falte, talvez sobre espaço, conforme o tamanho da vida em questão. É claro, estou chamando de vida o restrito departamento do trabalho. Mas a palavra cabe, se o trabalho tiver sido realizado com profundo amor. Chamamos um filho, algumas vezes, de minha vida. Talvez a produção artística tenha uma dimensão semelhante, por pobre que seja; a obra nasce de um estreito relacionamento com um Outro que reside dentro de nós, e é grande o esforço de gestação. Se o fruto não servir pra nada, a culpa não é dele, nem do autor, nem do Outro; foi com amor e esforço também que a natureza criou alguns homens, vermes e cascalhos, que deixariam perplexo quem buscasse neles um sentido de existência.

TatiT AQUI

Caixa preta


Leia devagar para não acabar...


Lucky Man



I know just where I am
...

But how many cornersdo I have to turn?
How many times do I have to learn?
All the love I have is in my mind?

Nada além

Beata de Bião, seria, será.
Dona de um  balcão e de umas prateleiras
Simplória, porque não nasci para ostentações ridículas e sociais.
Rica mesma, eu queria ser só de bem querer, de dignidade e honradez.
Um Café Literário, eu sonhei, pintei e bordei. Nele eu botaria o nome de Beata de Bião e chamaria uma cozinheira prendada para fazer bolinhos caseiros, para servir com chá de ervas fumegantes, enquanto os transeuntes entrariam para folhear livros distraidamente, antes do sol se pôr.
Assim, tudo junto.
Feito livro, feito filme, feito eu.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Totonha



Neste dia (um sábado em 2007) quando Marcelino leu este conto (Totonha) eu passei horas relembrando a fala. Este moço tem uma oralidade lindíssima. Lembra vó antiga, lembra o passado, lembra casa sem televisão, rua com lampião.

Agora eu sei, que ele bebeu da mãe todo este linguajar, estes trejeitos, estas formosuras e ficou mais admirável ainda.

A primeira vez que vi Marcelino (há tantos anos, que parecem décadas! ... lá no Itaú Cultural) eu fui fisgada pelos contos orais dele. Ele falava e não tinha quem falasse junto. Era tudo silêncio, porque aquela voz era tão original, tão distante das que conhecemos e ouvimos diariamente (é marcante, pausada, silábica, longelínea) que é pra parar mesmo, pra atentar os causos, conhecer os personagens, suas histórias.

Marcelino ganhou um Jabuti com este livro (Contos Negreiros) e acho que foi Totonha quem deu viu ?





Totonha - Marcelino Freire


Capim sabe ler? Escrever? Já viu cachorro letrado, científico? Já viu juízo de valor? Em quê? Não quero aprender, dispenso.

Deixa pra gente que é moço. Gente que tem ainda vontade de doutorar. De falar bonito. De salvar vida de pobre. O pobre só precisa ser pobre. E mais nada precisa. Deixa eu, aqui no meu canto. Na boca do fogão é que fico. Tô bem. Já viu fogo ir atrás de sílaba?


O governo me dê o dinheiro da feira. O dente o presidente. E o vale-doce e o vale-lingüiça. Quero ser bem ignorante. Aprender com o vento, ta me entendendo? Demente como um mosquito. Na bosta ali, da cabrita. Que ninguém respeita mais a bosta do que eu. A química.

Tem coisa mais bonita? A geografia do rio mesmo seco, mesmo esculhambado? O risco da poeira? O pó da água? Hein? O que eu vou fazer com essa cartilha? Número?

Só para o prefeito dizer que valeu a pena o esforço? Tem esforço mais esforço que o meu esforço? Todo dia, há tanto tempo, nesse esquecimento. Acordando com o sol. Tem melhor bê-á-bá? Assoletrar se a chuva vem? Se não vem?

Morrer, já sei. Comer, também. De vez em quando, ir atrás de preá, caruá. Roer osso de tatu. Adivinhar quando a coceira é só uma coceira, não uma doença. Tenha santa paciência!

Será que eu preciso mesmo garranchear meu nome? Desenhar só pra mocinha aí ficar contente? Dona professora, que valia tem o meu nome numa folha de papel, me diga honestamente. Coisa mais sem vida é um nome assim, sem gente. Quem está atrás do nome não conta?

No papel, sou menos ninguém do que aqui, no Vale do Jequitinhonha. Pelo menos aqui todo mundo me conhece. Grita, apelida. Vem me chamar de Totonha. Quase não mudo de roupa, quase não mudo de lugar. Sou sempre a mesma pessoa. Que voa.

Para mim, a melhor sabedoria é olhar na cara da pessoa. No focinho de quem for. Não tenho medo de linguagem superior. Deus que me ensinou. Só quero que me deixem sozinha. Eu e minha língua, sim, que só passarinho entende, entende?

Não preciso ler, moça. A mocinha que aprenda. O doutor. O presidente é que precisa saber o que assinou. Eu é que não vou baixar minha cabeça para escrever.

Ah, não vou.

Blogs do Marcelino:  
http://marcelinofreire.wordpress.com/

Cara e coroa


Todo mundo que passa por aqui sabe da minha admiração por este cara. Sem falsetes, sem joguetes, sem medo de jogar a moeda pro alto e perder (ou ganhar!)

"não existe sorte, azar não existe, tudo é risco, arrisque, leão de zôo tem os olhos tristes"

Eu gosto do jeito que ele escreve no Espelunca, eu passo por lá sempre. E, eu vou morrer achando, que ele tinha tudo pra ser meu irmão.

O Ademir é um cara sério que quando fala a gente respeita e sabe que ali não tem malandragem, não com ele, não mesmo.

Não joga em lado nenhum, joga do jeito dele e com isto nos arrasta para este turbilhão de sentimentos e vontade de fazer revoluções em zonas fantasmas.

Está fazendo 50 anos hoje (03/06/2011) e vai ter festa. Eu estou aqui, festejando junto, em palavras. 

A moeda dele, pra mim,  tem só um lado: é o Cara.


"E como não poderia deixar de ser, um poema para festejar. Um bilhete para meus pais, que infelizmente não puderam esperar pra me verem cinqüentão:"


BILHETE DE ANIVERSÁRIO


valeu meu pai valeu minha mãe
por me botarem nesse mundo maluco
nenhum anjo torto louco barroco
veio me avisar, mas eu logo entendi
que não nasci pra eunuco

no balanço veloz do trem
até que as coisas vão bem
nenhum acidente grave
nenhuma dor sem remédio
algumas bolas na trave
nenhuma visita do além

algumas mortes, dias de desespero
tem noites de grande atropelo
vontade de me trancar no banheiro
às vezes um negrume no peito

mas nada que não tenha jeito
nada que não tenha conserto

até que sou um cara de sorte
tenho dois filhos bacanas
uma garota que eu sei que me ama
e no cinzeiro uma boa bagana

descansem em paz, não se preocupem comigo
não tenho muito dinheiro
mas não me faltam amigos

na medida do impossível
vou tocando meu barco
no meio do nevoeiro



Sertânia




Dona Maria do Carmo, mãe de Marcelino Freire, mostra porque o filho é tão vigoroso em suas falas marcantes

"Não sou agoniada, sou uma senhora determinada... até hoje tenho coragem!"

Linda, viu...

domingo, 29 de maio de 2011

I said your name



E-Bow The Letter
R.E.M
Look up, what do you see?
all of you and all of me
flourescent and starry
some of them, they surprise

the bus ride, I went to write this, 4:00 a.m.
this letter
fields of poppies, little pearls
all the boys and all the girls sweet-toothed
each and every one a little scary
I said your name

I wore it like a badge of teenage film starshash bars, cherry mash and tinfoil tiaras
dreaming of Maria Callas
whoever she is
this fame thing, I don't get it
I wrap my hand in plastic to try to look through it
Maybelline eyes and girl-as-boy moves
I can take you far
this star thing, I don't get it

I'll take you over, there
I'll take you over, there
aluminium, tastes like fear
adrenaline, it pulls us near
I'll take you over
it tastes like fear, there
I'll take you over

will you live to 83?
will you ever welcome me?
will you show me something that nobody else has seen?
smoke it, drink
here comes the flood
anything to thin the blood
these corrosives do their magic slowly and sweet
phone, eat it, drink
just another chink
cuts and dents, they catch the light
aluminium, the weakest link

I don't want to disappoint you
I'm not here to anoint you
I would lick your feet
but is that the sickest move?
I wear my own crown and sadness and sorrow
and who'd have thought tomorrow could be so strange?
my loss, and here we go again

I'll take you over, there
I'll take you over, there
aluminium, tastes like fear
adrenaline, it pulls us near
I'll take you over
it tastes like fear, there
I'll take you over

look up, what do you see?
all of you and all of me
flourescent and starry
some of them, they surprise

I can't look it in the eyes
seconal, spanish fly, absinthe, kerosene
cherry-flavored neck and collar
I can smell the sorrow on your breath
the sweat, the victory and sorrow
the smell of fear, I got it

I'll take you over, there
I'll take you over, there
aluminium, tastes like fear
adrenaline, it pulls us near
I'll take you over
it tastes like fear, there
I'll take you over

pulls us near
tastes like fear...

nearer, nearer
over, over, over, over
yeah, look over
I'll take you there, oh, yeah
I'll take you there
oh, over
I'll take you there
over, let me
I'll take you there...
there, there, baby, yeah
 

E-Bow A Carta

R.E.M.
Levante os olhos, o que você vê?
Tudo de você e tudo de mim
Fluorescente e brilhante
Algum deles, eles se surpreendem


A viagem de ônibus, eu escrevi isto, 4:00 da manhã
Esta carta
Campos de papoulas, pequenas pérolas
todos os meninos e todas as meninas mascando
Todos e cada um um pouco assustadores
Eu disse seu nome


Usei isto como o emblema de estrelas de filmes adolescentes
bares de haxixe, doce de cereja e tiaras de papel alumínio
Sonhando em Maria Callas
Quem quer que seja ela
Esta coisa de fama, Eu não quero isto
Eu envolvo minha mão em plástico para tentar olhar através disto
Olhos maquiados e movimentos de garota-como-garoto
Eu posso tocar você de longe
Coisas de estrela, Eu não quero isto


Vou te levantar, lá
Vou te levantar, lá
Alumínio, tem gosto de medo
Adrenalina, isto nos puxa para perto
Vou te levantar
Isto tem gosto de medo, lá
Vou te levantar


Você viverá para 83?
Você sempre me receberá bem?
Você me mostrará alguma coisa que ninguém jamais viu?
Fume isto, beba
Aí vem o chão
Qualquer coisa para afinar o sangue
Esses corrosivos fazem sua mágica lenta e docemente
Telefone, coma isto, beba
Somente outro tilintar
Corta e amassa, eles pegam a luz
Alumínio, o elo mais fraco


Eu não quero te desapontar
Eu não estou aqui para te ungir
Eu posso lamber seus pés
Mas esse seria um ato doente?
Eu uso minha própria coroa e tristeza e pesar
E quem imaginaria que o amanhã poderia ser tão estranho?
Minha perda, e aqui vamos nós outra vez


Vou te levantar, lá
Vou te levantar, lá
Alumínio, tem gosto de medo
Adrenalina, isto nos puxa para perto
Vou te levantar
Isto tem gosto de medo, lá
Vou te levantar


Levante os olhos, o que você vê?
Tudo de você e tudo de mim
Fluorescente e brilhante
Algum deles, eles se surpreendem


Eu não posso ver isto nos olhos
Seconal, mosca espanhola, absinto, querosene
Doce de cereja pescoço e colarinho
Eu posso sentir o pesar em sua respiração
O suor, a vitória e o pesar
O cheiro de medo, Eu sinto isto


Vou te levantar, lá
Vou te levantar, lá
Alumínio, tem gosto de medo
Adrenalina, isto nos puxa para perto
Vou te levantar
Isto tem gosto de medo, lá
Vou te levantar


nos puxa para perto
tem gosto de medo...


perto, perto
acabou, acabou, acabou, acabou
sim, veja só
Vou te levantar, oh, sim
Vou te levantar
oh, acabou
Vou te levantar
acabou, leve-me
Vou te levantar
lá, lá, baby, sim

sábado, 28 de maio de 2011

Olhares


no céu do centro, 
convenção de urubus, 
pombas e pássaros sem nome,
sem destino

no chão do centro, 
eu olhando para o céu, 
procurando teto
sem chuva




Centro silêncio


Hoje o dia foi de andanças. No centro, antigo, tantas belezas. Geralmente o barulho é constante, mesmo quando tudo está fechado. Hoje, por um momento, o tempo parece ter sido congelado. E, apesar do vento frio cortante, não havia uivos, nem gritos, nem arrulhos de pombos. O centro estava em silêncio e no Páteo do Colégio, a cidade parada parecia cenário de filme.

Lindo.

Best First Lines




Trechos iniciais de grandes livros, num vídeo que é um show tipográfico, de animação e de vozes para as versões em audiobook. A lista completa é apresentada no final.
Dica do Almir

Oração




Oração
A Banda Mais Bonita da Cidade
Composição : Leo Fressato


Meu amor essa é a última oração
Pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa


Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras
Cabe uma penteadeira
Cabe nós dois


Cabe até o meu amor
Essa é a última oração pra salvar seu coração
Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na despensa
Cabe o meu amor!
Cabem três vidas inteiras


Cabe uma penteadeira
Cabe essa oração...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Os dez mais, por Marcos R.B.Lima


“Veinte poemas de amor y una canción desesperada” - Pablo Neruda
“Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade” - Oswald de Andrade
“Poemas” – Vladimir Maiakóvski
“Los Conjurados - Jorge Luis Borges
“Galáxias - Haroldo de Campos
“Aprendiz de Feiticeiro” – Mario Quintana
“Livro de Sonetos” - Vinicius de Moraes
“Manuel Bandeira - Libertinagem
“Um terno de pássaros ao sul” - Fabrício Carpinejar
“Odes de Ricardo Reis” - Fernando Pessoa (pseudônimo)

Marcos R. B. Lima

sábado, 14 de maio de 2011

Incandescente


Rouge

Vestido turco de lantejoulas. Batom carmim. Esmalte Revlon.
Um coração vermelho de cristal Swarovski. Bloody Mary
Queen of Scots. In my end is my begginning.
O planeta Marte, visto a olho nu. Bélica.
A paixão sua pedra de toque: dois rubis
indianos presos nas orelhas, um cinturão de diamantes -
também a frieza é humana. Não há visão sem fogo,
é incandescente a fúria, a labareda. A cor púrpura, império.
Nobreza. Veludo. Um buquê de magnólias.

Virna Teixeira

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Asas

A primeira vista

"Quando me chamou, eu vim
Quando dei por mim, tava aqui
Quando lhe achei, me perdi
Quando vi você, me apaixonei..."

Hoje, dia 06 de maio de 2011, meu irmão caçula faz aniversário.

Eu geralmente nunca lembro o ano que ele nasceu ou quantos anos está fazendo. Mas, eu nunca esqueço o dia que ele chegou pra alumiar nossas vidas.

Foi num domingo de sol, num dia das mães,  que este menino lindo chegou chorando e eu o tomei no colo e prometi que dele eu cuidaria, pra sempre.

Meu irmão, sempre foi meu filhinho. Foi muito esperado, muito desejado, foi muito especial e até nome de santa recebeu. 

Promessa. 

Sim, meu irmão foi feito de promessa...  "Nossa Senhora Aparecida, me ajude a ter meu filho, deixa ele nascer, deixa eu ser a mãe dele". Minha mãe não chorou pouco não... fez repouso absoluto, quase perdeu, cuidou da barriga como se fosse um relicário sagrado, sangrou, rezou, pediu e ganhou o menino mais bonito do berçário.

Ao nascer, ele ganhou o nome de CÉLIO APARECIDO, em homenagem a santinha. Porque sim, ele foi feito de promessa e até hoje nós agradecemos por este milagre lindo que aconteceu. 

Meu irmão caçula é o amor da minha vida.

Eu tô chorando agora , de bobeira... porque sou uma cabrocha muito chorona,  porque me lembrei de tantas histórias ao lado dele que passou um filme aqui, em câmera lenta de todos os nossos risos (ele tem o riso mais gostoso da família, é o que mais sorri, distraidamente) , de todos os choros (foram tantos em tantas idades diferentes), com todas nossas alegrias (e foram tantas em tantos natais, páscoas, viagens !)  e nossas tristezas (que foram poucas e marcantes e que se deus quiser, serão sempre mínimas em toda a nossa vida).

Meu irmão é meu anjo. Acho que ele nem sabe, porque pensa que eu sou a anja dele. Mas, ele que é abençoado, que foi o prometido e esperado e para quem eu peço a Deus que sempre ilumine e que traga coisas boas e que dê tudo certo nesta vida terrena dele.

Meu irmão é rico. Talvez nem tanto de riqueza material, mas ele é dono de um coração de ouro, de uma índole de ouro... meu irmão brilha feito moeda antiga.

De moeda antiga, também se faz. Feito relíquia, quer guardar o tempo na palma da mão. Guarda o desejo de ser Rei, de templo antigo, feito lenda passada. Guarda ele, espadas. E eu o guardo, em todo o meu imaginário, como o Senhor (meu menino) guardião de todas as belezas.

Meu irmão é lindo. Lindo daquela beleza que a gente não traduz, que o espelho não reflete. É lindo porque cativa, porque tem olhar doce feito doce-de-leite, porque tem abraço gostoso que é feito de criancice (que dá vontade de beijar as bochechas e bagunçar os cabelos).

Meu irmão é meu Pai. Dos filhos, com certeza, é o que mais se parece com aquele que o gerou. É o jeito de balançar os braços, é o jeito puro de dar risada, é o andar cadenciado, é o tamanho pequeno de homem grande.

Meu irmão é da minha Mãe. De caçulice é feito, e sob as asas dela viverá, protegido, amado e  mimado, eternamente.

Meu irmão caçula é metade do meio irmão do meio. Completam-se, sendo iguais e diferentes. Iguais no bem querer, iguais no coração gigante, iguais quando de costas caminham e se parecem tanto frente à frente...

Meu irmão caçula, embora não tenha lembrança de todas as histórias que meu irmão do meio conta, é o nosso bem mais precioso. Nem sabemos direito como protegê-lo, nem como contar tudo o que nos aconteceu, só nos lembramos do passado, do passado no qual ele era nosso bebê, nosso dengo, nosso eterno xodózinho... 


Eu amo meu irmão. Amo cada lembrança, cada cheiro, cada choro e cada detalhezinho da vida dele. Amo o sobrinho que ele me deu, amo o jeito carinhoso dele ser, amo até o jeito calado de quem tá distante mas que grita vontades de ajudar o mundo, de ser bombeiro, de ser herói sem acidentes.

Meu irmão faz aniversário hoje e eu nunca me lembro quantos anos ele tem... quantos anos está fazendo... nem me importa, nem quero saber... 

O menino que carreguei no colo por tantos anos, hoje é um homem, e me carrega no peito, no ombro, nas costas... tenho certeza, me carregará sempre. Porque dele, eu sou irmã, também sou mãe, também sou amiga, também sou a Anja (que ele acredita) e se Deus quiser eu o protegerei, como prometi quando ele nasceu... pra sempre.

"ô meu amor, minha vida, vem aqui pra eu te encher de beijos!!!" 


29 anos !!! 


"Cê parece um anjo

Só que não tem asas iaiá
Oh meu Deus!
Quando asas tiver
Passe lá em casa...(2x)

E ao sair
Pr'as estrelas
Eu vou te levar
Com a ajuda da brisa do mar
Te mostrar onde ir.."

(Maskavo)

O simulacro da imagérie


“Lo que importa es la no-ilusión. La mañana nace”
[Frida Kahlo: Diários]

O simulacro da imagérie, escrito em fevereiro de 1996 por Caio Fernando Abreu, parte do livro Estranhos estrangeiros.

Leia o conto completo AQUI

Fonte: Revista E Online - Portal SESC SP

sábado, 30 de abril de 2011

Sobre heróis e tumbas




O escritor Ernesto Sabato, vencedor do Prêmio Cervantes de Literatura e um dos maiores autores argentinos do século XX, morreu aos 99 anos em sua residência de Santos Lugares, na província de Buenos Aires. A informação foi divulgada neste sábado (30/04/2011) pela mulher de Sabato, Elvira González Fraga.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

11 de abril de 2008


O Letreira nasceu enquanto eu lia e ouvia a Edith Piaf, chovia, fazia frio, era sexta-feira de paixão.

Comovida, pensei em criar um blog violáceo, onde tivesse tanto de mim que eu já nem soubesse mais quem eu era, ou talvez para eu saber exatamente como fui. Se eu seria personagem, sêo Guimarães Rosa, com certeza.

Nele não falo do que não gosto, ou melhor, falo bem pouco pra não chamar a atenção para coisas inúteis e desnecessárias. Com tanta coisa boa que vejo, que sinto, que toco e que faço vou perder meu tempo com pólos negativos que não me atraem ? 

Não, perdoem-me, falo bem pouco mal por aqui.

O Letreira não surgiu do nada. Ele chegou da mansidão do blog antigo Folha de Dormideira (que não levei adiante por perdições passadas) e trouxe uma vontade enorme de ser maior do que é, mas de ser o que tem que ser do jeito que pode.

Eu poderia mais... mas, há tanta vida aqui fora! E, esta vida me devora. E, gosto, viu ? Por isso, escrevo quando a vida real me dá descanso (ou me cansa!) e procuro sempre agregar experiências pessoais com a imensidão das letras, das artes e dos ofícios.

O Letreira, não tem este nome por acaso. Não foi dadaísmo, ele foi escolhido a dedo. Surgiu da idéia da minha adoração por cartas, caligrafias e cartografias da alma. Vem do desejo de ler e se perder, de se encontrar perdida, de escrever para anônimos, de ser anônima até o post seguinte. De mandar, pelo mundo, umas histórias acontecidas há tanto tempo pela pele da gente que até parece lenda passada. De falar do meu pai, que partiu, mas que habita em cada frase que escrevo. De contar sobre o que palpita, o que me excita, o que me deixa fascinada, arrebata! De falar sobre bobagens, de paisagens e miragens. De mostrar arte, pura e visual. De transcrever fragmentos, de verdades esquecidas. De causar arrepios, de se arrepiar inteira. De deixar o barco correr, feito música que entra pelo peito e dá uma dor surpresa. O Letreira é minha ponte por águas turbulentas, e eu sou a Moça de Prata com certeza.

A vida para mim é um moinho e muitas coisas me atropelam, me tomam de abissalidades, Se pudesse retratar cada pedacinho e guardar não só na memória, mas nos bites e bytes, eu faria. Mas aí eu perderia o momento seguinte, que geralmente é sublime e não poderia ser registrado, porque merece ficar guardado apenas no meu coração e nas minhas lembranças, que o tempo não apaga.

Dia 11 de abril, é aniversário do Letreira, meus parabéns!

A moça da tela, na janela, Letreira.


sábado, 9 de abril de 2011

Le Petit


Todo mundo sabe que eu AMO Paris, mas que até lá nunca fui.

Claro que já poderia ter ido, mas nunca quis pacote de uma semana... quero ateliê, quero bistrô, quero ópio, ruas tortas, rio, pedra, chão, pluma.

Se não for assim, vou continuar amando Paris pelos cartões postais que recebo e pelas noites e letras rasgadas por Baudelaire.

Hoje descobri um blog ateliê e me respondi uma pergunta que as pessoas que me cercam vivem fazendo: o que você quer pra sua vida ?


Trabalhar com minhas próprias mãos, transformar o sonho em peça única, ter um cachorro pra com ele olhar o mar, um moço pra amar e ter toda esta paz, este silêncio e esta beleza, ao meu redor.

E, ao sair de férias, botar um lençol (escrito por mim) pendurado na janela. "Fui ver a vida apressada que os outros vivem lá fora, daqui a pouco eu volto" ... e voltar para minha brancura... voltar sempre...

Feliz eu seria, assim.
De resto, dispensaria tudo.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Meu pão


" E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio
O mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria.. "
Cazuza - Todo amor que houver nesta vida

Slash


Existe, resiste e ainda dá um show...

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Um relato, uma resposta







"Somos uma massa de carbono e minerais. Apenas terra, como inevitável parte dela. Os testemunhos geológicos de perfuração, presentes em outras caixas-tramas da série, remetem aos recursos que não se renovam na rapidez da voracidade humana. As tensões do momento, individuais ou coletivas, se concentram nas dobraduras do metal martelado na bigorna.


É preciso reciclar, elementos e pensamentos, pois a vida, apesar de curta, é sempre bela, basta senti-la."

Clara Fernandes