quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Orlanda

 Foto arquivo pessoal

E nem sabe o tímido quanto bem calcula. À melhor fé! Como o amor se faz é graças a dois.
Segue-se, enfim assim, nomeadamente Orlanda – de a um tempo rimar com rosa, astro e alabastro – aqui. Sua minha alma; seu umbigo de odalisca, sorriso de sou-boneca, a pele toda um cheiro murmurante, olheiras mais gratas azuis. Mesma e minha.
De dom, viera, vinha, veio-me, até mim. Da vida sem idéia nem começo, esmaltes de um mosaico, do mundo – obra anônima? Fique o escrito por não dito. Sós, estampilhamo-nos. Tem-se de a algum general render continência. Ei-la, alisa a tira da sandália, olha-se terna ao espelho, eis-nos. Conclua-se. Somos. Sou – ou transpareço-me?
Guimarães Rosa - Se eu seria personagem

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Me imagina

Foto arquivo pessoal 09/2010

Quando eu me visto de azul, tenho vontade de sair valsando devagarzinho, cantando ... imagina ... imagina...


Imagina
(Valsa sentimental)
Tom Jobim
Composição: Antonio Carlos Jobim / Chico Buarque


Imagina, imagina
Hoje à noite a gente se perder
Imagina, imagina
Hoje à noite a lua se apagar
Quem já viu a lua cris
Quando a lua começou a murchar
Lua cris
É preciso gritar e correr, socorrer o luar
Meu amor
Abre a porta prá noite passar
E olha o sol da manhã
Olha a chuva, olha a chuva
Olha o sol
Olha o dia a lançar serpentinas
Serpentinas pelo céu, sete fitas coloridas
Sete vias
Sete vidas, avenidas, prá qualquer lugar
Imagina, imagina, imagina, imagina
Sabe que o menino que passar debaixo do arco-íris moça, vira
A menina que cruzar de volta o arco-íris rapidinho volta a ser rapaz
A menina que passou no arco
Era o menino que passou no arco
E vai virar menina
Imagina, imagina, imagina, imagina, imagina
Hoje à noite a gente se perder
Imagina, imagina
Hoje à noite, a lua se apagar


quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Meteoros para fora...


Felipe Stefani é poeta, artista plástico e fotógrafo. Nasceu em São Paulo em 1975. Tem poucas palavras sobre si mesmo, mas variadas formas de expressão. Já fez de tudo, até biologia, porém foi na arte que encontrou meios de se relacionar com o mundo. Faz parte do grupo “Só Desenho”, que tem os desenhos publicados no site www.pbase.com/sodesenho .

Ilustrou o livro “Teatro das Horas” do poeta André Setti, editado pela Edições K. Tem poemas e desenhos publicados no sites www.meiotom.art.br , www.revistazunai.com.br e www.cronopios.com.br Escreve também em seu blog: http://cultuar.blogspot.com  Prefere que sua arte fale por si mesma. E-mail:
felipe.stefani@uol.com.br


Gravura Felipe Stefani


"Lembro das horas tristes da infância.
A vela que queimava a escuridão.
Tive medo, o abismo do quarto,
Tão negro, misturado no tempo.
Quando anunciavam o dia,
O leite quente com biscoito,
Os meteoros para fora,
Correndo, todos movendo a aurora.
Eu me lembro."

Francisco Forró e Frevo


Ingressos comprados !

Chico me esperará na porta da frente pra cantar frevando: "É pedra é pedra é pedra, é pedra de responsa, mamãe eu volto pra ilha nem que seja montado na onça"

Repertório
Girassol
Deus me proteja
Armando
Marcha da calcinha / cueca
Comer na mão
Olha pro céu meu amor
Cabelos Brancos
Se você viajar
Mama/Brilho de beleza / Caminhando e cantando
Forró Pesado
Alma não tem cor
Pedra responsa

O artista apresentará o show Francisco Forró e Frevo.

O cantor e compositor Chico César homenageia em seu novo trabalho os principais ritmos nordestinos - forró e frevo.

O show faz parte do circuito do projeto Quartas Musicais, que este mês apresenta a temática especial de Samba e MPB. O palco do Teatro do SESI – São Paulo marcará a participação de artistas que revitalizaram o cenário cultural da música popular brasileira.

Local:
Centro Cultural Fiesp
Av. Paulista, 1.313
Horário: 20:00 hs
(11) 3146-7405 / 7406

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Nego Dito




O compositor Kiko Dinucci apresenta canções de Itamar Assumpção intercaladas ao seu próprio repertório.
Participação da cantora Juçara Marçal.




Quarta Feira - 15/09 
21h30 | R$ 19
Casa de Francisca
R. José Maria Lisboa, 190
Jardins - São Paulo
11 3493-5717


terça-feira, 14 de setembro de 2010

Provocação



Toma meu peito. Abre como se fosse carne de pescoço. Arranca dele outros "ais". Deixa o sangue formar poça pra ver estrela. Se doer (em ti) não em mim, põe anúncio no jornal. O relógio marca as horas, que não passam...

Billie

A jovem e experiente cantora Manuela Freua acompanhada pelos músicos Vicente Falek (piano), Amilcar Rodrigues (Trompete), Daniel Amorin (Baixo Acústico) e Maurício Caetano (Bateria) faz homenagem à grande cantora do jazz, interpretando algumas das canções que foram imortalizadas na voz desta artista.
21h30 | R$ 26
 
 
R. José Maria Lisboa, 190
Jardins - São Paulo
11 3493-5717

sábado, 11 de setembro de 2010

Recado


"Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. "

Caio f. de Abreu

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Lembrança


"Santa Luzia passou por aqui,
com seu cavalinho comendo capim"

Sudoeste



Sudoeste
Adriana Calcanhotto
Composição: Adriana Calcanhotto/ Jorge Salomão)

... tenho por princípios  
Nunca fechar portas
Mas como mantê-las abertas 
O tempo todo  
Se em certos dias o vento 
Quer derrubar tudo? ...

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

As bibliotecas insaciáveis



CONVOCATÓRIA


Com o tema As bibliotecas insaciáveis, o Simpósio Internacional de Literatura Argentina em seu Bicentenário convida a pensar a produção literária, ensaística e crítica do país vizinho na perspectiva do marco de celebrações dos dois séculos de sua história. A imagem de Bibliotecas insaciáveis aponta a caracterizar a convergência e a tensão das tradições que se entrecruzam na Literatura Argentina desde os primeiros movimentos de sua gestação, no século XIX, passando por sua esplêndida expansão no século XX, até chegar ao presente como ampla fonte de possibilidades para o futuro.

A Literatura Argentina se desdobra em bibliotecas insaciáveis nas que os textos que foram se reunindo ao longo de dois séculos demandam insistentemente novas leituras, sempre outras a cada vez. A imaginação criadora de suas narrações ficcionais e de suas invenções poéticas se trama indissoluvelmente com a reflexão especulativa de sua escritura ensaística. Essas são suas dimensões constitutivas. Elas se entrecruzam colocando à prova os limites de qualquer taxonomia classificatória. As confrontações sociais, os debates intelectuais e políticos, as diversas problemáticas da existência atravessada pelas circunstâncias históricas, inscritas nos textos literários dessas Bibliotecas, aparecem marcadas por uma atitude frente ás culturas canônicas que mescla conhecimento e desvio, o que outorgou á Literatura Argentina um perfil próprio e inconfundível.

A chamada do Simpósio Internacional de Literatura Argentina em seu Bicentenário é uma proposta para que pesquisadores brasileiros e estrangeiros pensem e discutam o papel da Literatura Argentina no cenário dos debates teóricos, éticos, sociais e políticos, em relação tanto com a importância que tem no âmbito latino-americano como sua projeção universal.

O Simpósio contará com a participação de convidados estrangeiros e nacionais e uma Comissão designada pelos organizadores escolherá os melhores trabalhos daqueles que desejem participar como expositores durante o evento. Comissão Organizadora: Raul Antelo, Liliana Reales, Roberto Ferro, Felipe Soares, Jorge Wolff e Jair Tadeu da Fonseca.

Acompanhe tudo AQUI

Guinga


Show comemorativo dos 60 anos de idade e 30 de carreira do violonista e compositor carioca. A celebração marca um encontro inédito do compositor, no palco, com duas das cantoras que mais interpretaram sua obra: Leila Pinheiro e Mônica Salmaso. Leila Pinheiro gravou um disco inteiramente dedicado ao compositor, “Catavento e Girassol” e Mônica Salmaso gravou “Senhorinha” em seu disco de estreia, vindo a interpretar outras canções de Guinga ao longo de sua carreira. Além delas, Guinga também contará no palco com aquele que é considerado o par constante em sua carreira, o violonista e guitarrista Lula Galvão. Teatro

R$ 20,00

R$ 10,00 [usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes com comprovante]

R$ 5,00

Sábado 25 de setembro de 2010 às 21h00m
SESC Pompéia
Rua Clélia, 93
São Paulo 05042-000
Tel: 11 3871-7700

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sabiá Pimenta

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira


A Moça Do Sonho
Chico Buarque

"Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu"

Andorinha

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira 

Os poemas
Mário Quintana

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.

Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.

Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.

E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhoso espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Beija-flor

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira

Manoel de Barros

"Passava os dias ali, quieto,
no meio das coisas miúdas.
E me encantei."

Uirapuru

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira


Dez chamamentos ao amigo
Hilda Hilst
 

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero

Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Tico-tico

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira

Tua Boca

Itamar Assumpção

A tua boca me dá água na boca
Ai que vontade de grudar uma na outra
E sugar bem devagar,
gota por gota

Beija-flor beijando a flor
ou borboleta

A tua boca me dá água na boca
Que vontade de rasgar a nossa roupa
Vamos pra qualquer lugar,
praquela gruta

Pra qualquer quarto de hotel
praquela moita

A tua boca me dá água na boca
Que vontade de gritar, é uma bomba
Acho que vai rebentar, desgraça pouca

Azar eu vou me matar
na sua boca
 
Azar eu vou me matar na sua boca

Gavião

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira

Essa Moça
Mário Gil


Ah ! como é bonita
Essa moça que me fita
É pra mim visão bendita
Quem lhe fez teve a visita
De Orfeu, de Deus, de artista
De artesão

Ah ! essa senhora
A mulher que me namora
Como é bela à luz da aurora
Mão de Deus ! chega, apavora
Que parece em certas horas
Sombração
 
Agradeço tanto
Ter em mim esse dom santo
De fazer teu corpo um manto
Me vestindo desse encanto
De paixão, de amor, de espanto
De ilusão
 
Vou nesse momento
Pela luz do firmamento
Te fazer um juramento
Te entregar meu sentimento
Até quanto eu tenha dentro
Coração

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Martim Pescador

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira

Sorôco, sua mãe, sua filha
Guimarães Rosa


"Agora, mesmo, a gente só escutava era o acorçôo do canto, das duas, aquela chirimia, que avocava: que era um constado de enormes diversidades desta vida, que podiam doer na gente, sem jurisprudência de motivo nem lugar, nenhum, mas pelo antes, pelo depois."


Bem te Vi

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira

Resíduos - Drummond
(Fragmento)

 "De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil..."

Maria Cavaleira

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira


LAVOURA ARCAICA | RADUAN NASSAR

"Pondo folhas vermelhas em desassossego, centenas de feiticeiros desceram em caravana do alto dos galhos, viajando com o vento, chocalhando amuletos nas suas crinas, urdindo planos escusos com urtigas auditivas, ostentando um arsenal de espinhos venenosos em conluio aberto com a natureza tida por maligna; povoaram a atmosfera de resinas e de ungüentos, carregando nossos cheiros primitivos, esfregando nossos narizes obscenos com o pó dos nossos polens e o odor dos nossos sebos clandestinos, cavando nossos corpos de um apetite mórbido e funesto; sentindo duas mãos enormes debaixo dos meus passos, me recolhi na casa velha da fazenda, fiz dela o meu refúgio, o esconderijo lúdico da minha insônia e suas dores."

João de Barro

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira

Amar
Florbela Espanca

"Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar! E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada que seja a minha noite uma alvorada, que me saiba perder...para me encontrar..."

Garça Dorminhoca

Foto arquivo pessoal - Série: Passarinheira


ATRÁS DOS OLHOS DAS MENINAS SÉRIAS

Mas poderei dizer-vos que elas ousam? Ou vão, por
injunções muito mais sérias, lustrar pecados que
jamais repousam?


Ana Cristina César

domingo, 5 de setembro de 2010

Agendas


Sou viciada. Entra ano e sai ano, desde 1990, há exatamente 18 anos eu compro agenda nova em dezembro. Nunca do mesmo fornecedor, nunca do mesmo jeito, sempre com espaço para muitas colagens.

Antigamente, escrevia em Cadernos de Recordações. Quando me descobri adulta, enchi agendas de anotações, de ilusões, de desilusões, de amores reais (e muito mais imaginários!) de afetos, de risos, de dias bons e dias ruins, de coisas que só as agendas são capazes de guardar...

Mas, uma dos meus maiores prazeres, é colar coisas em agendas. Colo de tudo. Colo retrato, colo bilhete, colo lembrete, recortes e mais recortes de jornais, ingressos de shows, de cinema, pedacinhos perfeitos de dias memoráveis, declarações inesquecíveis.

Bem certo, que com o tempo, algumas páginas precisam ser arrancadas e queimadas para não causar desamor. Mas, até o que foi tirado deixa espaço pra contar estória e elas crescem e se tornam memoráveis, inesquecíveis como agendas precisam ser...

Atualmente ando relapsa com minhas memórias, com meus dias engraçados ou chorosos e minha agenda bonita está mais em branco do que eu queria... mas, o ano ainda não acabou!

Um gole



de querências, de lembranças e de desejos.

Eu faço listas de amor a qualquer hora. Filmes que amo, músicas que lembro, livros que li (e todos os outros que quero ler) coisices que adoro e uma infinidade de miudezas e delicadezas que desejo comprar sem demora...

Só não faço listas para ir ao supermercado, pois consumista que sou, gosto de olhar tudo e decidir na hora o que vai pro meu carrinho...

Tomando um chocolate quente na cafeteria, li a Ilustrada da Folha de ontem e não resisti... postei o texto na íntegra aqui.


Fazer listas é colocar ordem nos desejos,
por Alan Pauls 
Folha de São Paulo (Ilustrada 04/09)

Fazemos listas desde sempre, desde antes de escrever. Nenhum garoto precisa conhecer o alfabeto ou as regras de concordância para enumerar o que quer em seu aniversário.

Basta ele desejar e compreender que algo tão despótico quanto o desejo requer algum tipo de lógica. É essa a função da lista: colocar certa ordem no desejo. Uma ordem básica, simples, rudimentar, mas absolutamente decisiva. Porque, sem ela, o garoto (ou seja: nós) se perderia. Ficaria à mercê de duas imensidões oceânicas: a do seu próprio desejo (por definição ilimitado) e a de tudo o que o mundo tem para lhe oferecer.

Elementar e ao mesmo tempo milagrosa, a lista é a primeira maneira que temos de não naufragar no mundo e de não aceitá-lo como ele é. Serve para recortar o mundo, capturá-lo, deixar uma marca que fale de nós nele.

Em sua meia língua, o menino que faz aniversário pede: “Um triciclo, um Woody, um chiclete, uma bola, um dragão que cospe fogo”. Essa lista impessoal é o mais pessoal que existe, porque é a intersecção entre seu desejo e o repertório interminável de presentes que espreitam no mundo.

Não é por nada que vivemos fazendo listas. Listas de compras, de convidados, de trabalhos a cobrar, de dias de prisão que faltam ser cumpridos, de filmes a ver, de livros para as férias, de amigos com os quais gostaríamos de tomar um drinque. Nesse gênero seco, mecânico, burocrático, há uma humanidade que comove.

A lista dá voz e forma ao que há, ao que se necessita, o que se ambiciona, o que se realizou, e, nesse sentido, parece condensar quatro ou cinco núcleos de experiência nos quais a espécie toda poderia se reconhecer: desejo, memória, registro, necessidade, sonho.
 
PAIXÃO

Com seu estilo desafetado, monótono, de repartição pública, a lista com frequência é o testemunho mais precoce e categórico de uma paixão.

O crítico de cinema Serge Daney dizia que o verdadeiro cinéfilo não é apenas aquele que vai muito ao cinema, desenvolve gostos sofisticados e é capaz de alçar-se em armas em nome de um diretor -é sobretudo aquele que passa a experiência do cinema para a experiência da lista: aquele que não para de sistematizar sua pulsão de fã em rankings e outras práticas nas quais confluem o ardor da paixão e a rotina contável.

A suntuosa espetaculosidade do filme de Spielberg (“A Lista de Schindler”) não nos fará esquecer o que a lista de Oskar Schindler foi, o que descobriram aqueles que a encontraram na mala que, em 1974, quando Schindler morreu, reunia o que restava da sua fortuna: uma folha com 1.200 nomes escritos.

TUDO E NADA

Ou seja, um arquivo: algo que é tudo e nada ao mesmo tempo. Como é tudo e nada ao mesmo tempo a lista de desaparecidos apresentada há dois meses por uma testemunha em Tucumán, Argentina, durante o julgamento de dois dos responsáveis pela repressão ilegal movida sob a ditadura de 1976-83.

São nove páginas de tamanho ofício escritas a máquina, com os nomes de 293 pessoas. Ao lado de 195 se leem as iniciais DF (disposição final), um eufemismo para dar nome ao crime. A lista não é nada: não diz quem eram, o que faziam ou porque nunca voltaram a ser nem a fazer o que eram e faziam antes de os terem inscrito nessa folha.

Mas é tudo, porque é o primeiro dado oficial das técnicas repressoras que aparece em quase 30 anos, o primeiro que -produzido pelos próprios militares, com suas máquinas de escrever- comprova que a repressão foi sistemática e metódica. A tal ponto que, como uma inversão macabra das listas apaixonadas do cinéfilo, os exterminadores não puderam resistir à tentação de registrá-la em uma lista.

ALAN PAULS, escritor argentino, é autor de “O Passado” (Cosac Naify), entre outros
Tradução de CLARA ALLAIN

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Vida bailarina



CARNAVAL DE ARLEQUIM (Miró)
Drummond

"Descobri que a vida é bailarina 
e que nenhum ponto inerte 
anula o viravoltear das coisas"


A gente não sabe como as almas se encontram, como os olhares se cruzam e como a vida pode ser escrita de uma forma inimaginável. Às vezes, é preciso darmos a volta ao mundo para reencontrarmos o caminho do amor. Às vezes, o amor chega num encontro inesperado, não planejado. E, parece que sempre esteve ali, pronto para aflorar, para florescer, para virar piano à luz da lua, para virar rock'n roll em noites escuras.

Eu fui convidada para ser madrinha de uma história encantada. Destas, que Drummond escreveu como As Sem-Razões do Amor, Amar se Aprende Amando ou o Amor Passado a Limpo.

Eu disse sim.

Disse sim para uma garota cheia de vida, que sempre me recebeu sorrindo, que sempre me abraçou como se fosse carnaval e que sempre foi tão luminosa quanto as luzes de Natal.

Eu disse sim.

Disse sim para um moço que se apaixonou por esta moça em tempos imemoriais. Que a guardou no tempo e em seu coração e, um dia quando o acaso (mesmo que ajudado por outras pessoas) o colocou frente à frente a ela novamente, ele não hesitou em cativá-la e pedir a sua mão.

Eu disse sim, senhora Dona Querida Prima do Meu Amado Marido, dona Baratinha Débora Cavazin, que hoje é tão da minha família como nenhuma outra prima é.

Eu não sei em que momento da vida a gente ganha tanto de uma nova família, e se sente especial por estar assim, gravada num álbum de retrato, num momento mágico, numa dia inesquecível.

Ciro William estará comigo no altar para abençoar o amor de vocês dois e, como padrinhos que seremos nosso desejo será de que seja ETERNO o instante, que seja ETERNA a chama e que vocês sejam bem felizes, para sempre!



NÃO DEIXE O AMOR PASSAR - Drummond

"
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.


Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor."

Divã