domingo, 27 de abril de 2008

Dois Palitos e um pé de trevo com 4 folhas

Dois Palitos ( conténdo 5o microcontos ) de Samir Mesquita ^


Dois Palitos, pode ser rápido ou lento. O consumo é imediato e a chama pode incendiar a caixinha inteira. Pode ficar assim, caixa exposta em qualquer canto da casa, em destaque entre livros ou mesmo próxima à um cinzeiro distraído.
Em qualquer lugar deixada será percebida. Todo mundo toca em caixa de palito, como se fosse caixa de música, como se fosse um samba a dois.
A primeira impressão é um utilitário qualquer: acendedor de chama (de velas que incandescem paixão, de fogo brejeiro de forno e fogão).
A segunda impressão é de surpresa arteira: ora pois, sim senhor, não é que pintaram fósforos coloridos dentro de uma caixinha comum ?
Bem, daí é pra frente é um conjunto de coisas, tudo junto ao mesmo instante ao mesmo tempo: riso, espanto, constatação, consideração pelo contar alheio.
Sempre digo que tudo já foi escrito, em maior ou menor grau a literatura (assim como a moda, as artes e uma infinidade de áreas) abrange muito mais do que podemos conhecer em vida. Mas, cabe a nós, reinventarmos a roda sempre.
Beijo de Cinema  
"As luzes se apagam.
Os olhos se fecham.
O filme começa."

Mais verdadeiro impossível, e inesquecivelmente re-inventado e colocado entre outras 5O mini-narrações.
Vale a pena ler, mostrar e deixar em casa como obra de arte. É um mimo, e o custo é mínimo. Recomendo riscar um palito de cada vez, para perceber a mágica de cada luz.
p.s. Marcelino Freire, como bom beato, abençoa e apadrinha a obra. Quem não comprar, não ler ou não presentear vai queimar no mármore do inferno.

ah: e o detalhe: o trevo de 4 folhas é apenas para garantir a boa sorte de Samir Mesquita com suas próximas pílulas homeopáticas!

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Ciranda de Bailarina

Acrílica s/tela  -  Sônia A Dias
ISADORÁVEL

Dança a vida. Liberta de meias e sapatilhas. Dança solo. Dança em fundo de céu azul, pequenas nuvens. Improvisa. Todo gestual corporal é arte pura. Os movimentos de Isadora eram inspirados na natureza. Toda ela era mar, era vento e tempestade. Duncan bailarina. Caixa de música antiga, moderna.

No olhar cetíneo, aveludado

A Pecadora by Sônia A Dias

Pecadora

Tinha no olhar cetíneo, aveludado,
A chama cruel que arrasta os corações,
Os seios rijos eram dois brasões
Onde fulgia o simbolo do Pecado.
Bela, divina, o porte emoldurado
No mármore sublime dos contornos,
Os seios brancos, palpitantes, mornos,
Dançavam-lhe no colo perfumado.
No entanto, esta mulher de grã beleza,
Moldada pela mão da Natureza,
Tornou-se a pecadora vil. Do fado,
Do destino fatal, presa, morria
Uma noite entre as vascas da agonia
Tendo no corpo o verme do pecado!

Augusto dos Anjos

Auto Retrato

Auto Retrato by Sônia A Dias, 1998
A fome do primeiro grito
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
desejasse.
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há um tempo.
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu.
Pastor e nauta
Olha-me de novo.
Com menos altivez e mais atento.
Hilda Hilst

Olhos fitos em rútila quimera

A Recatada by Sônia A Dias

Eu

Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.

Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!

Andava a procurar-me -Pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!

E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!

Florbela Espanca

Imagens da Memória

La Danaide, Rodin.


"CAMA DE CASAL, EXIJO NAS PORTARIAS DOS HOTÉIS,
SOU CASADO COM COMUNHÃO DE CORPOS.
NÃO ABRO MÃO DO CORPO BEM-AMADO NO TRÂNSITO DA NOITE,
CALOR, DESVELO, SEGURANÇA."
Jorge Amado



Acordo

( . . . )

Desperto
(de olhos bem fechados)
Aberta
(de coração pidonho)
Sedenta
(de boca dormida)


Re(flex)o
De todos os sentidos
(sexo)
(re-action
-coupling)

Na luz refletida; revérbero.

Adormentada, contorno
(e)novelo(-me)

A noite, adormece
(en)rodeia(-me)

O tempo ...

Memoriza-{ Me
Em } morins
Sônia Alves Dias-08/2005

Whisky Uruguaio


Sobre Whisky



Tim-Tim. Põe o dedo enluvado no copo e mexe o cowboy. O filme não é bom não. Recebeu ótimas críticas, mas achei a fotografia duvidosa. Tem pouco ruídos, tem pouco sentido e pouco sentimento. Acredito que o autor/diretor poderia ter ido além. Foi raso, rasante, nem mergulhou.


Recomendo a capa.
Muito boa, adorei, recorto pra mim se achar nos jornais ou revistas. Ficou de uma beleza rara. Gostei das cores, das caras e das letras. Gostei de tudo.


A atriz, vestida de Marta.
É boa. Poderia ser melhor aproveitada. Pelo pouco que foi, foi bastante. Segurou o filme todo. Fez ponta de primeira. Saiu bem no retrato.


O ator, dono de Jacobo.
É viúvo. Solitário. Sujo. Sem muitas palavras, sem muito nada. No fundo nem foi tão ruim. Pensando melhor, não falou porque esta era a fala. Ausência delas, para bem dizer a verdade.


O ator-irmão, metido a cantor.
Eufórico. Viajado. Pai de filhas no retrato. Desligado do irmão, mas ligado no mundo ao redor de si. Tinha pinta mesmo de irmão-umbigo. Canteiro.

O filme retrata a ausência da fala, a decadência e a solidão. Despindo-se de paixões, propõe-se a ficar bom.

O triângulo:
ficou no ar,
de bermudas, de apostas escuras, de desdizeres,
numa película limbática e erma.

O fim.
É pra ti ver. Depois me dizer:
WHISKY!

Aí vai meu coração

As cartas de Tarsila do Amaral e Anna Maria Martins para Luis Martins

Foi um triângulo. A obra da Tarsila escrita era acanhada. De poucas palavras deixadas, vê-se cores carregadas. Na desigualdade da vida, naquele tempos (meados de 30) heranças e paixões eram casos sérios e os casos amorosos não podiam, nem deveriam, ser revelados.

Tudo foi trancado à 7 chaves. Mas, a importância de Tarsila na vida de Luis Martins não foi mero acaso. Por muitos anos, mantiveram segredo (ou quase, tendo em vista que muitos sabiam desta gangorra solitária que balançava o coração tarsiliano). Até que pós-morte (como sempre, com o que se guarda por não se ter coragem de rasgar coisas do coração selvagem) a filha de Luis e Anna Maria descobriu que o pai mantivera por 18 anos um caso com uma outra mulher. Sim, era ela, a Tarsila das tantas artes: "Abaporu", 1928; "O Lago", 1928; "O Ovo" ou "Urutu", 1928; "A Lua",1928; "Cartão Postal", 1929 e "Antropofagia", 1929.

Aí vai meu coração, não é um livro de fofocas. Ao entrar no universo alheio, de paixões e dores transcritas em cartas antigas, sente-se um aperto no peito por cada página que se vira. Dói um pouco, porque no fundo, sempre imagina-se finais felizes. Descobrimos porém, que a vida não é tão colorida quanto merecia ser e a máxima modernista é mais verdadeira que nunca "só a antropofagia nos une" desde sempre, para sempre.

Um trecho do livro :
“... Eu também tenho momentos de desespero e quero também desabafar para sentir-me mais aliviada, como aconteceu com você. Não quero que você torne a falar em morrer. Essa idéia me é intolerável. Antes venha a morte para mim, o que seria uma solução menos má. Vou deixar esta carta para amanhã. Estou sofrendo demais e, como não posso deixar de ser sincera, poderia concorrer para aumentar sua angústia. As palavras escritas me doeram muito mais do que as faladas: ‘Amo, etc....’ nem quero repetir suas palavras: elas são punhais que se enterram nas feridas do meu coração. Ah! meu querido Luís, mas por que estou eu dizendo estas coisas? Perdoe-me se estou sentindo necessidade premente de expansão. E eu que não quero ser estorvo na sua vida...” Carta de Tarsila do Amaral para Luís Martins datada de 21 de janeiro de 1952, época da separação deles.
( acreditem ou não, mas eu chorei com esta Tarsila, trancada com estas despedidas em algumas noites vazias )

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Retrato de uma tarde chuvosa


Rocky Balboa, olho de tigre constante. Também de tigre, os pés pequenos. E pra rugir bem alto, The Godfather, porque Brando é eterno. Vela azul, pra calmaria e fuscão preto no cinzeiro imaginário... toca telefone, toca.

Tostare com Lavoura à tarde

Une cafétéria est un mode de restauration où il y a peu ou pas de service de table

Não bebo café. Não fumo cigarro. Sou careta e gosto de MPB, de eventos culturais, de livros antigos (muito antigos, embolarados até, pois parecem mais vivos). E, adoro bistrôs, cafeterias, cantinhos de calçadas, lugares "inhos". Gosto também de editorais de moda (sou capaz de folhear por horas e horas revistas de alta costura como se fosse uma bela obra de arte, e quem nunca parou pra ver sem olhos de descaso, deveria... um belo editoral traz obras belíssimas e tecidos inimagináveis, além de performances notáveis). Mas, Tostare ! Esta é uma cafeteria que tem no meu bairro. Descobri que é uma franquia. Poderia ser mais IN em tudo, mas se você quiser tomar apenas um bom café com leite cremoso numa xícara grande e ver uns livros de arte, enquanto a tarde passa lentamente... prove. É bom e barato.

Enquanto isto, em minha tarde ao léu releio Raduan Nassar, Lavoura Arcaica: “Eu disse aos berros, me agitando, e vendo em meu irmão surpreso, susto, medo e muito branco na sua cara, eu, que podia ainda gritar ‘tape os ouvidos, enfie os dedos no buraco’, eu, deslocado de um canto para o outro, eu de repente me pus de joelhos, me sentando sobre os calcanhares, e vendo sua mão trêmula, ele próprio decidindo encher de novo nossos copos, eu, tomado de dubiedades, já não sabia se devia esmurrá-lo no rosto ou beijá-lo nas faces;” (p. 47)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Jorge da Capadócia

Hoje é dia do São Jorge, do meu Pai.

Quando eu conheci meu Pai, ao nascer, ele já era protegido de São Jorge. Tinha na carteira uma oração antiga, escrita à mão num papel já puído onde dizia que armas de fogo não o alcançariam e com as vestes de São Jorge ele andaria.

Era uma oração bonita que nos fazia acreditar que proteção maior não havia, e que a vida do meu Pai nas mãos de São Jorge sempre estaria.

Estávamos certos. Na proteção de São Jorge meu Pai sempre viveu, e no dia da sua morte, a lua do céu desceu. Que não creiam os céticos, nem eu pediria, se eu não tivesse visto, nem mesmo eu acreditaria. Mas, cantando e chorando naquela madrugada fria , Jorge da Capadócia, parecia nossa salve rainha. Pude ver um dragão no céu, e tenho certeza que na lua meu pai estava, sentado no cavalo protegido por São Jorge e nos acenando que em paz ficaria.

A oração que meu Pai carregava e que nos deixou, dizia assim:

"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.

Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.

Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.

Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. São Jorge Rogai por Nós. "

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Blue Nude II

Blue Nude II - Mattisse


Beaux-Arts. Desenho com tesoura. Recorto jornais passados. Compro notícias pelas imagens. Viro do avesso e reviro as letras. Escrevo por cima com cuidado para não manchar a escrita, o contorno. Com mais cuidado, rasgo a arte, desembaraço os excessos, limpo tudo que sobrou. Depois selo, ponho na primeira caixa amarela que encontro pela rua, e espero que a vida- aconteça. Beaux-Arts.

domingo, 13 de abril de 2008

O Carteiro e o Poeta


Gil de Sêo Loro, é escritor, mesmo sem nunca ter publicado nada. Há 18 anos recebe minhas cartas sem datas e me manda cartas manuscritas ou d-a-t-i-l-o-g-r-a-f-a-d-a-s.

Nele, falta a coragem de pegar os livros prontos, as poesias que lhe devoraram (a alma) e (os dias) [ e (foram muitas) e (foram muitos) ] e despachar tudo para o além de Monte Mor.

Enquanto ele não voa, corto minhas asas todos os meses e mando junto com casulos pelo correio.

É carente e pedinte de letras alheias, quem quiser escrever: escreva-lhe.
Quem sabe (n)o tempo que(m) lhe espera...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Domingo de Mar no Cantão


cena do filme: A Ostra e o Vento



carrocel no céu. ciranda-cirondar. cantão de cabeça-para-baixo. comichão nos pés, de´m areia andar. nos cabelos, ventania. nos olhos, caleidoscópio. nas mãos pequenas, pião de grude. boca-de-peixa, a dela espelha. no mar, um montão de chuva da noite passada. na bica, água pingando-contando - pura e fria, cristalina. no canto, escondido do mundo, um mundo novo , sem fotografia. no céu, carrocel... e ela, rodopiando dentro dos olhos dele... 


ciranda cirandinha vamos todos "cirondar" ... 


( em são sebastião, domingo de mar no Cantão )

Non Je Ne Regrette Rien




Eu tiro letra de pedra...


A Letreira.