quarta-feira, 25 de junho de 2008

Moço meu

quinta em São Paulo, sem chuva e com Djavan, milagreiro, bicho-solto, ao vivo-
post 25/06/2008

Djavan, é embarcação onírica em oceano límpido oriundo de mãe lavadeira de ilusões. É uma voz e um violão, é 1976. É pára-raio, magia e ventos do norte. É flor-de-lis e maçã-do-rosto. Na boca do beco, quantas voltas dá (n)o meu mundo. No embola bola traz Maria das Mercedes (quase Macabéa) . É fato consumado, e que Deus ajude, muito obrigado. Um dia frio.

Encontrei Djavan numa esquina de Hanói. Cara de índio, foi a minha ao ouvir estória de cantador. Mas, minha mãe (que não é) Nereci, nem veio de Alagoas, me ensinou que no serrado, samba dobrado é dupla traição. Em 1978, estava meu álibi.
É bonito este moço, cheio de alumbramento e de sim e não. Moça que sou, quase a Rosa, aquele um, feito lambada de serpente na triste baía de Guanabara, tomou chá de cidreira por causa de um sururu de capote. Tem boi na linha com ele não, em trem de ferro faz jejum limão. Dor e prata é passado, meu bem querer ele sabe que é. E 1980 não estava nem começando...
Seduzir é total abandono. Em 1981, (n)a ilha, faltando um pedaço em puro êxtase luanda. Morena de endoidecer à Pedro Brasil se jogral. E batizados foram africamente Nvula Ieza Kia/Humbiumbi.
Luz, bastava. Mas de sina se faz samurai. E de banho de rio, se faz esfinge. De açaí, minha irmã que não vingou. De capim, 1982. E de pétala em pétala, nobreza. Ave!
De lilás é feito as esquinas de 1984. Em trânsito infinito, transe de Ìris, canto da lira à liberdade. Obi, "Obá que nem zen, czar" ... pura miragem.
Em 1986, muito mais quase de manhã, ao meu lado. Do beiral, um segredo, romance em asa, amor topázio. A lei é clara, Nkosi Sikelel ’I-Afrika. So Bashiya Ba Hlala Ekhaya ...e à luz do dia rompeu.
Soweto me leve. Que dou-não-dou é doidice minha. No meu navio, carnaval no rio. Há de florir, em mim, um bouquet de maçã. Não me importa 87 que passou, eu apenas sabia... é Azul mas não é mar.
Oceano desaguou em mim. E mil vezes, como avião, como cigano, como curumim, como corisco, a vida real é mal de mim. Você bem sabe, o calendário marcava 1989. "Sempre loving you, só porque we were so happy".
Boa Noite. A rota do indivíduo é feito de coisa de acender. Se... a linha do equador tem cores de outono, andaluz, alívio, no meu baile tem violeiros, dorme 1992.
Novena é feita de violão, de 1994 e de limão, lobisomem, avô e água de lua. Aliás, nas ruas, sete coqueiros avisto, mas quero mar à vista, em renunciação (alma de ateu).
Em 1996 pergunto que foi my love ? Irmã de neon, tenha calma que a cordilheira é correnteza, Malásia. Não deu, deixa o sol sair. Sorri (smile) , seca , coração leviano.. nem um dia "espero com a força do pensamento,recriar a luz que me trará você"...
Ah, moço tão raro, bicho solto, meu bem querer. No retrato da vida, amar é tudo, atitude Be Fair. Você é o pássaro, a carta passou. Em 1998, eu te devoro.
Djavan é jazz. Em 1999, ao vivo é duplo. De novo, azul... e acelerou.
Milagreiro "meu". Brilho da noite, além do mar. Tem sílaba, farinha, Om. Na ladeirinha, uma infinitude de lugar comum. Ao cair em si, "na dor, ora, faça-me o favor!" . É tempo de novo milênio, 2001 aluou.
Em 2004, mundo vasto é de vaidade. Se acontecer, flor do medo, sentimento verdadeiro, amor algum. Um dia azul pra Bailarina, Tainá-flor, estátua de sal. De canto ou vozeria de barqueiro à discussão apaixonada, celeuma não ouço. Apenas canto, dorme Sofia, dorme... na, na, na, na, na
Na pista, etc... 2005. Tanta saudade, azul, miragem, asa, sina, capim, acelerou, fato consumado, se... remix download, reloaded.
2007 Matizes. Meã-culpa. Azedo e amargo. Por uma vida em paz, delírio dos mortais, adorava me ver como seu. Joaninha era. Mas imposto, desandou. Louça-fina, pedra, fera... "Tudo o que for, Preciso! Juízo"
É quinta feira, é São Paulo, são muitos livros espalhados. É 25/06/2008 no meu calendário. Oceano em pura voz. Puro deleite, puro delírio. Tudo claro, em letra límpida. Pétala foi feita para alguém, para mim que não, mas é minha, há tempos – imemoriais. No retrato do artista, ainda jovem, o flash(b(l)ack) imediato. Djavan não é só barco, é também, a outra margem... do meu rio.

Nem um dia


Um bom lugar prá ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide (bis)

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um dia desses...

Show Maré-Adriana Calcanhoto-Citibank Hall 06/2008

Uma concha enorme, do lado esquerdo do palco, sem som dentro dela. Adriana vermelha como coral em maré cheia. Cavalos marinhos povoando o céu, mas não voando pelo mar adentro, nem cavalgando pelo fundo azul. As sereias imaginárias dançando notas de calypso, Waly Salomão em cada canto. Concreta esta moça, de letras bem feitas e olhos azuis. Distante de todos, e ao mesmo tempo declamando frases que parecem nos vestir perfeitamente.
Impossível não querer entrelaçar dedos e sussurrar segredos diante de cada nova canção. Sensação daquelas de dejavú. Tudo parece ser minimamente planejado. Calcanhoto não tem muitos rompantes dentro dela. Toda sua fúria é dita comedidamente, pausamente e com meios-sorrisos. Não é fácil encantar assim, e sendo assim ela encanta. Sereia das boas, acredito eu.
Ao sair da coxia, seu movimento não é de mar bravio. Serena e malemolente ela chega com seu olhar de viés. Sauda o público, a casa cheia : "Boa Noite São Paulo. Muito obrigada e boa noite... boa noite... é um prazer estar aqui. Vocês devem achar que eu digo isto em todos os lugares onde vou, e digo mesmo, só que aqui .... é de verdade". Luzes, palmas, gritos, gestos mínimos pra início imediato.
O néon corta o palco de um lado ao outro, verde relâmpago, lua cheia. E a água insiste em ficar lá, parada. E, os cavalos marinhos, permanecem no céu, decalcados. Em movimentos lentos, quase nada, poesia em ré-maior. Cada fim de canção, o corpo projetado pra frente, a canção entre dentes, efeitos marinhos em roupa ondulante.
O choro da cuíca, o violoncelo entre as pernas, um Verão in rock, um samba pra Martnália. O ar quase blasé, Esquadros misturado a Três... Assim Sem Você e assim Sem Saída... um show inteiro de canções novas, canções conhecidas.
Essa moça tem um jeito de comover que assusta. Na boca dela as palavras parecem mais frias, quase cortantes. De fino humor, imagino-a às vezes, presa num poema dos Anjos (do Augusto), aquele que escreveu A Louca "Quando ela passa: - a veste desgrenhada, O cabelo revolto em desalinho, No seu olhar feroz eu adivinho O mistério da dor que a traz penada. Moça, tão moça e já desventurada; Da desdita ferida pelo espinho, Vai morta em vida assim pelo caminho, No sudário de mágoa sepultada. Eu sei a sua história. - Em seu passado Houve um drama d’amor misterioso - O segredo d’um peito torturado - E hoje, para guardar a mágoa oculta, Canta, soluça - coração saudoso, Chora, gargalha, a desgraçada estulta."
Não sei bem o que é, que nela me fascina e me adormenta. Tenho a sensação que dentro dela há algo triste, pois não é possível tal criação sendo feliz em tempo integral. As melodias são quase sempre doridas e as perdas inimagináveis. Mesmo quando ela tenta comer Caetano, a antropofagia não mistifica o prazer. É um tanto quanto, de Teu Nome Mais Secreto... "Cavo e extraio estrelas nuas de tuas constelações cruas"...
E, de dentro dela, parece brotar esta imensidão de imagens, estes fragmentos de memórias, estas cores de Frida que claram cores. Em sua maré, traz Continentino com a escaleta ao fundo, e Medina cálido diante de Lancellotti e de Costa em sons profundos.
Há instantes, que dá uma vontade danada de chorar. Sabe-se lá porque... canto de sereia é assim, chama a gente e não espera para partir. De letra em letra, vamos mapeando nossos sentimentos e nos apropriando de notas e de canções, envoltos pelo mesmo mar, pela mesma areia.
Finda o show com Vambora e a cantarolando baixinho "na cinza das horas... dentro da noite veloz" tenho a sensação de ouvir um poema antigo (de Drummond) que termina assim "Eu não devia te dizer , mas essa lua, mas esse conhaque, botam a gente comovido como o diabo."
Linda e delicada, reverencia o público como se Pequeno Príncipe fosse. E, em minhas lembranças, agora mais do que antes ela é a rosa, não o Príncipe que viaja por espaços siderais, mas a pequena rosa, presa na redoma de vidro e ainda assim capaz de tanta poesia dentro dela.
"Meio mulher, meio peixe, entre o fundo e a beira, e que detém o canto, no sentido de canto primeiro, do nascimento do canto, anterior à palavra - Adriana Calcanhoto"


domingo, 1 de junho de 2008

Este mês na Zunái

ilustrações minhas para contos diversos (http://www.revistazunai.com.br/contos/index.htm).

Visitem:
ZUNÁI, REVISTA DE POESIA E DEBATES EDIÇÃO XV, MAIO/2008

-Toda língua é poesia, entrevista com a poeta canadense Erin Moure
-Berlim, 1936; Pequim, 2008 (editorial)
-Quando o olho é uma câmera e a mente edita imagens: poemas, textos, sons e imagens de cinepoesia
-A poética sincrônica de Haroldo de Campos, ensaio de Cilene Trindade Nascimento
-O vôo suspenso do tempo (sobre Walter Benjamin), ensaio de Maria João Cantinho
-Rainer Maria Rilke e August Stramm traduzidos por Augusto de Campos
-Chiyo Ni traduzida por Alice Ruiz
-César Vallejo em videotradução e musicotradução
-Carta de Lisboa, por Maria Alexandre Dáskalos
-Contos de João Filho, Márcia Bechara, Greta Benitez, Silvana Guimarães, Bruna Piantino, ilustrados por Sônia Alves Dias.
-Poemas de Jean-Paul Michel (França), Odete Costa Semedo (Guiné-Bissau), Alan Mills (Guatemala), Sérgio Rios (México), Joana Corona (Brasil) e muitos outros.

Zunái, Revista de Poesia e Debates.
(
www.revistazunai.com.br)