segunda-feira, 30 de março de 2009

Vaga-lume

Pós-Show Renato Braz - Auditório do Ibirapuera - 29/03/2009


De emoção, o coração se espanta. Segurando em minha mão, meu moço-amor é pura poesia em final de domingo. Sob o viés das minhas pálpebras, um filme. Na película lúdica do meu cinema (interior) eu sou a personagem de todas as canções que Braz no palco encena e verbaliza.

Renato Braz é melodia que nos transporta para além do mar. Lembra vento leve que passeia pelo ouvido sem azucrinar. Traz sons delicados, traz letras que murmuram segredos, traz detalhes esquecidos pelo tempo.

É puro dom, falso índio, paulistano-mineiro-verdadeiro.

O show intimista acalanta. Quando surge Anabela, os pêlos se eriçam e os olhos marejam pensando em torvelinhos e uma infinidade de sentimentos que trazem barulhos ensurdecedores.

A vontade que dá e de se levantar e abrir o peito, soltar a voz e se entregar à paixão que a canção acende. Ao término dos acordes, fica tudo lá, nas linhas rotas dentro da gente.

Com Vaga-lume, tudo clareia e todo choro deixa de chorar... é sina, bem certo.

Bré, como convidado, é puro som, voz de berimbau, chocalho na beira do cais.

Mestre Sizão Machado é figura imperdível e merece ser visto mais de perto.

De Mário Gil, nem ouso falar, moço de sinházinhas, de iaias e de tantas calmarias, sua imagem no palco é tão cadenciosa e silenciosa que a música parece que apenas brota no ar...


Vídeo Gravado em 29/03/2009 - Auditório do Ibirapuera

domingo, 29 de março de 2009

Eu deixo esse moço me levar...

Pós show do Renato Braz-Ibirapuera-SP 29/03/2009

Vagalume - Renato Braz/Mário Gil

Se esse moço entendesse a minha sina
Tanto choro deixava de chorar
Se eu seguisse a paixão que sinto agora
Eu deixava esse moço me levar

Se eu pudesse, eu me atava a esse amor
Mas com medo não posso me arriscar
Vivo como um vaga-lume
Me acendo em cada olhar

Cada rosto que vejo da janela
Cada sonho que passo a sonhar
Se eu soubesse eu negava a minha sina
E deixava esse moço me levar

Se eu pudesse, eu jurava o meu amor
Mas em mim Deus não vai acreditar
Nem os santos me escutam
Nem ao menos sei rezar

sábado, 28 de março de 2009

de Veneta...

Foto Arquivo Pessoal - Sônia Alves Dias
Veneta
Edu Lobo / chico Buarque

Como num conto de fada
Ou como alguém rolando a escada
Vou pra civilização
Cabeleira incendiada
No barranco, na boléia
Uma candeia em cada mão
Eu quero um amor de primavera
Procuro letreiro de néon
Pretendo zoar a noite inteira
Preciso encontrar um homem bom
Que me deixe louca a chorar pitangas no breu
Que me beije a boca na laje do arranha-céu

E se a vida tomar jeito
Vou andar no parapeito
Com vestido de lamê

Ou sentar na esquina da fome
Da guimba, do desdém
Da gangue da Praça da Sé
Eu quero um amor de primavera
Procuro letreiro de néon
Pretendo zoar a noite inteira
Preciso encontrar um homem bom
Que estenda um tapete vermelho e me beije a mão
Que me arranque a roupa no meio da multidão

sexta-feira, 27 de março de 2009

Feira de Relâmpagos


Convite do Selo Demônio Negro para conhecer dois dos maiores poetas catalães do Séc. XX. Traduzidas pelos poetas Ronald Polito e Josep Domenèch Ponsatí, as duas miniantologias NADA É MESQUINHO, O ESCAMBAU, de Joan Salvat-Papasseit, e FEIRA DE RELÂMPAGOS, de J. V. Foix fazem um recorte da obra de dois precursores das vanguardas européias do início do Séc. XX.
Esta primeira edicão da miniantologia FEIRA DE RELÂMPAGOS, de J. V. Foix será distribuida gratuitamente aos convidados, enquanto houver estoque.
Local: Casa das Rosas
Av. Paulista, 37 - Bela Vista - São Paulo
Tels.: (11) 3285.6986 / 3288.9447

Com Bré, Mário, Fred e Braz...

o final de semana promete ser de ventania...

quinta-feira, 26 de março de 2009

Como suturar lembranças...


Quem por aqui sempre passa, sempre encontra algo da Virna Teixeira. Tradutora, arqueira e agora cerzideira, esta moça está entre as pessoas que sigo de perto para entrar nas trilhas que ela deixa.
Agora, criou um novo projeto que de tão mimoso dá vontade de comprar todos pra perfumar e guardar na gaveta. É uma plaquete "deluxe" com apenas 7 poemas dela. O nome é lindo: "Como suturar lembranças” e a tiragem é muito pequena (será um máximo de 20 exemplares).

Neste projeto, ela faz tudo "da confecção da capa dura até a costura, o que requer um pouco de tempo, e o estilo de cada exemplar é distinto, como se fosse uma peça de roupa. Os poemas têm uma atmosfera de suspense, e dialogam com o trabalho de artistas mulheres: Cindy Sherman, Lousie Bourgeois e Tracey Emin".

Você ficou com vontade ?

Eu já pedi o meu...
arqueriaeditorial@yahoo.com.br

domingo, 22 de março de 2009

Olho de chama de vela...


Esqueça a tosse, desatente-se das meias vermelhas, mande os espirros pra debaixo do tapete. Escute Braz de peito aberto, imagine o vento nos cabelos e Anabela partindo pra não voltar nunca mais...


Anabela
(Mario Gil e Paulo César Pinheiro)

no porto de vila velha
vi anabela chegar
olho de chama de vela
cabelo de velejar
pele de fruta cabocla
com a boca de cambucá
seios de agulha de bússola
na trilha do meu olhar

fui ancorando nela
naquela ponta de mar

no pano do meu veleiro
veio anabela deitar
vento eriçava o meu pelo
queimava em mim seu olhar
seu corpo de tempestade
rodou meu corpo no ar
com mãos de rodamoinho
fez o meu barco afundar

eu que pensei que fazia
daquele ventre meu cais
só percebi meu naufrágio
quando era tarde demais

vi anabela partindo
pra não voltar nunca mais

Bailadô

Mário Gil pra deleitar

Quando em casa você estiver, quando o silêncio tomar conta de tudo, coloque o cd Voadeira da Mônica Salmaso e feche todas as cortinas e a retina. Lentamente entre pelos versos, pela letra desconcertante e permita-se descobrir Mário Gil e Stroeter, todos juntos ao mesmo instante...


Dançapé
(Mario Gil e Rodolfo Stroeter)

Bumba tamborzêro, êá
Tantã atabaque, êá
Ê rum dá rê ô (Bis)

Dança cunhãzinha, iáiá
Curuminho canta, iôiô
Ê rum dá rê ô (Bis)

Aruá
Aiê
Batucajé

Dança dançadêra, êa
Arirê candeia, êa
Ê rum dá rê ô (Bis)

Enibaraô camará
Ogunhê cungú camará
Ê rum dá rê ô (Bis)

Ijexá
Jarê
Cabecilê

Mana Chica vai dançá
Sinhazinha vem sambá
Jongo, jeguedê, baião de dois

Côco, passa pé, rojão
Dança pra chovê, trovão
Na pancada do ganzá, êô

Cirandêro vem cirandá
Batuquêro vem batucá
Ê rum dá rê ô (Bis)

Roda bendenguêro êá
Bate pé tutu marambá
ê rum dá rê ô (Bis)

Alabê
Ajô
Batuquejê

O pandêro já tocô
Zabumbêro zabumbô
Ferro já berrô, ê agogô

Bailadô tem que bailá
Brasilêro vai dançá
Na pancada do ganzá, êô

Vozes e arranjo vocal: Amaranto
Violões: Quarteto Maogani (Paulo Aragão, Carlos Chaves, Marcos Alves, Marcus Tardelli).
Arranjo intrumental e arranjo vocal da introdução: Paulo Aragão

domingo, 15 de março de 2009

Era um homem grandioso...


...destes que a gente não sabe como veio ao mundo. Que tem tanto amor pra dar que uma vida parece pouca e absurda. Era um homem de honra, daqueles de antigamente. Que fazia questão de se orgulhar de muitas coisas, de muitas pessoas e de muitos sentimentos. Era um homem bonito de se ver de perto. Bem de perto, com o olho no olho, mirando aquele azul que mais parecia céu, que mais parecia mar. Era um homem cheio de coração, cheio de boas intenções e de bondades explícitas que não ficavam escondidas no bolso do paletó ou em alguma gaveta por aí.
Era um homem lindo pra se ter como pai, como MEU PAI.

Coração bandido


... no dia da missa de 7º dia da minha Avó Ana, meu pai chegou atrasado porque o médico demorou para lhe dar o resultado do exame do coração: "Sr Aloisio, o senhor tem poucos anos de vida...".

Minha avó nem havia chegado no céu ainda e com certeza não pode fazer milagres...

Coração roubado

... quando meu Pai nos contou o que o médico disse, senti que todo aquele azul que lhe pintava o rosto nunca mais brilharia pelo infinito . em mim, a escuridão se instalou e demorou para eu virar uma moça de ouro novamente...


um rio engolfou corpo adentro
uma tempestade transbordou do copo cheio
um litro de ar
meio litro de rio
e o coração ficou à deriva

Coração comprimido


... eu já era adulta de corpo e de alma, quando soube que meu Pai tinha um coração desvairado. Era de maior idade, mas dependente exclusiva do afeto, do afago e da infinidade de ternuras que ele guardava para nos ofertar constantemente. Daí chegou um tempo em que a vida ficou confusa e coração dele parecia querer parar de bater ou batia incessantemente , à seu bel prazer, nas mais variadas horas do dia.
Eu pensava toda noite antes de dormir... "coisa díficil, domar um coração comprimido..."

o coração dá a vida
mas quando fraco fica
toma a vida
de 4 em 4 horas

Coração vendido

... ele era um grande descobridor das letras, dos mapas e de enciclopédias. sabia tudo sobre história, sobre geografia, política e escritores antigos. adorava Ruy Barbosa e Castro Alves. com Espumas Flutuantes se deleitava. não era homem de dizer bobagens, nem nomes feios, nem coisas impronunciáveis. um lorde, quase rei, soberano em sua majestade. de suas mãos vi nascer muitas letras de forma, de seus olhos pequenos surgiram muitas grandiosidades. nem sei se aprendi tudo o que devia, dentro dele havia tantas estórias que eu até me perdia. mas, sei que deitada no seu peito, me transformei numa moça de bem. destas que nascem de pessoas iluminadas e a gente nem sabe de onde tanta luz vem...


ERA UM CORAÇÃO DE OURO
MAS DEUS
VENDEU A PREÇO DE BANANA
NA FEIRA DE DOMINGO

Coração pintado


... depois de um tempo, ele descobriu que o Hospital não era a pior parte. ruim mesmo era quando o coração doía até não mais poder. então houve uma fase em que era uma coisa mais ou menos assim: hospital-hospital-casa-hospital-casa-casa-hospital-hosp... cas... hos... ca... ho.. enfim, era tanto lá e cá que a gente nem tinha mais direção.

ele, falante, logo tratou de fazer amizades e contar histórias de antigas civilizações. eram tantos médicos e enfermeiras, que tempo não faltou para conhecer um por um e suas preferências. na época, prometeu à Dra Gioconda, sua médica de cabeceira, um quadro pintado por mim. ela nunca recebeu o quadro e eu nunca tive coragem de conversar com ela sobre telas ou outras coisas do coração...

dra Gioconda tinha um sorriso enigmático.

mas, todos sabiam
o que ela queria dizer
(e não dizia)

Coração calado


.. um dia ele acordou e achou que a vida podia ser uma festa. pediu um cálice de vinho (que não bebia há anos) , sentou, bebeu e olhou para o teto. depois, foi até o quarto deitou e dormiu...

Maria isto é um milagre!
Um milagre!
Um milagre!
e Santa Maria sorrindo
ligou para o Hospital.

Coração sem ponte

... sinto falta de entrelaçar os dedos com ele e sairmos a bailar. ele que nunca soube dançar, tinha uma filha que queria ser dançarina. era gostoso, tentar dois pra lá e dois pra cá e não conseguirmos, desistirmos e nos abraçarmos sorrindo. a dança , daqueles abraços, que fazíamos pós qualquer tentativa de dar os ares no salão, era infinitamente melhor do que qualquer exímio bailarino pudesse supor.
com seus óculos inseparáveis (eu até achava mesmo que ele já tinha nascido com eles!) via tudo com suas lentes de aumento. e, mesmo com um coração sem saída, arrumava horas vagas para brincar de amor e declarar bem-querências aos quatro ventos... exímio marinheiro, sabia que o mar bravio era perigoso mas não invencível...

NÃO PRECISAVA DE TRANSPLANTE
NEM DE MARCAPASSO
NEM DE PONTE DE SAFENA

AÍ , DEUS ACHOU QUE ELE NÃO PRECISAVA MAIS DE VIDA....

Coração passarinho



... naquela quinta feira, a médica de plantão me chamou na sala principal. eu seria a acompanhante noturna e deveria saber das condições dele. ele estava vivo, mas a doença estava numa fase terminal (aquilo queimou em mim, e foi muito difícil aparentar uma serenidade que eu estava longe de sentir) "ele poderia viver vários meses... " ( "como assim ? " era a mensagem que meu cérebro enviava ao meu coração, "que tempo é este que nos tira a esperança ? a pessoa que mais amamos ? " ) , ela tinha cabelos claros tingidos - na altura dos ombros, e disse-me baixinho "ele pode ainda, morrer como um passarinho, e nem sentir mais dor ..." (e meu coração, batendo alucinado, tentava enviar ao meu cérebro a lucidez que eu não mais tinha – eu era toda sentidos) "e a minha dor ? eu sou egoísta sim, ouviu ? eu quero que ele fique porque eu não quero sentir dor ! eu não quero que ele morra como um passarinho , eu não quero sentir a falta dele ! eu quero meu pai vivo, com dores ou sem dores, mas eu quero o colo dele, os olhos dele, a mão dele nos meus cabelos nos sábados à tarde, a benção da 6o feira santa após o almoço de Páscoa, os absurdos que ele imagina e quer que eu faça... ( e eu não fiz o quadro para a Dra Gioconda, que ele me pediu...) eu o quero vivo ... eu o quero neste mundo, porque o resto... o resto eu desconheço..."
eu não chorei através dos meus olhos, mas minhas mãos crispadas e meu coração , já eram órgãos independentes em mim e soluçavam sem parar... voltei para o quarto engolindo o choro, não queria que ele me visse chorando... queria que se morresse como um passarinho a imagem que tivesse na retina fosse os meus olhos sorrindo. Fingi uma brincadeira, contei estóriasd e Humanos Encantados e Pequenas Princesas, falei sobre política (sem Paulo Maluf e FHC, pediu ele) sobre Cuba , sobre a próxima viagem que eu queria fazer (e ele falou para eu ir a Fernando de Noronha, que era o maior Paraíso da terra e as pessoas não se davam conta disto, vide eu que queria ir para as Ilhas Gregas !).
Fiquei ali levantando e descendo o encosto da cama... agora sobe... agora desce... conforme ele me pedia... a noite gelada e ele querendo que as enfermeiras trouxessem um cobertor para eu dormir...mas eu não queria dormir... fiquei olhando para Céu através da janela esperando que tudo desse certo.
Numa brincadeira infantil de antigamente, entre um intervalo de descanso coloquei o dedo na testa dele e disse: "diz agora o que você está pensando... sem tentar me enganar ! " ele esboçou um sorriso forçado, a boca seca , os dedos frios e falou "ah ,minha filha, eu estava aqui pedindo a Deus que me deixasse voltar pra casa"
acho que foi o último pedido, e enquanto ele gemia eu ficava ali segurando a mão dele com a minha luvinha de criança (nesta hora me dei conta, de como minhas eram pequenas...) .
Era uma hora da manhã, a noite estava fria, mas eu não sentia nada. Lá fora, a madrugada parecia tarde de outono, e algumas flores do lado de fora da janela, caiam de um galho alto , dezenas de florzinhas amarelas. De repente, a pressão se perdeu e os médicos tiveram que tirá-lo de perto de mim e encaminhá-lo para um outro andar, para uma outra sala. Ele foi de elevador, e eu corri pelos corredores escuros para encontrá-lo quando as portas se abrissem.
Quando me viu, pediu-me para trazer as coisas dele, que haviam ficado na mesinha de cabeceira, era para pegar os chinelos ... e ... e ... eu fui soltando sua mão ... sabendo que ele estava partindo...

Coração dormido


foi numa madrugada de domingo: 01/07/2001 que ele partiu...


... não sei que horas dormi, pois não escutei o telefone tocar. Lembro-me apenas do Sidney (meu irmão) entrando no quarto e me chamando. Assustada , ergui a cabeça e perguntei desesperada - O QUE FOI ? ACONTECEU ALGUMA COISA ? - ele disse-me que não e pediu-me para levantar e ir até a sala para a mãe não acordar... chegando lá ele me abraçou e começou a chorar... "ligaram do hospital"- era 1:34 no relógio do vídeo, na sala - e pediram para irmos até lá... " -
a sensação de NÃO... NÃO É VERDADE ELE DEVE TER MELHORADO... ( tudo mentira... a gente já sabia... ) mas ... QUEM SABE ELE PODERIA TER MELHORADO!!! ...
no hospital - o jovem médico que nos atendeu (Dr Roberto) - com uma voz que tentava ser suave, mas rasgava o silêncio ensurdecedor da noite pelos corredores vazios da madrugada – disse que infelizmente o Sr Aloisio foi a óbito à 1:15 da manhã.... o senhor Aloisio... o meu pai...

Coração em vão...



No rádio de um carro estacionado no pátio do hospital, com a manhã ainda a raiar, uma música tocava e me fez chorar repetindo baixinho ...
"Olhos fechados / Pra te encontrar / Não estou ao seu lado / Mas posso sonhar / Aonde quer que eu vá / Levo você, no olhar / Aonde quer que eu vá / Aonde quer que eu vá / Não sei bem certo / Se é só ilusão / Se é você já perto / Se é a intuição / Aonde quer que eu vá / Levo você, no olhar / Aonde quer que eu vá / Aonde quer que eu vá / Longe daqui, longe de tudo / Os sonhos vão te buscar / Volta pra mim, vem pro meu mundo / Eu sempre vou te esperar / Não sei bem certo / Se é só ilusão / Se é você já perto / Se é a intuição / Aonde quer que eu vá / Aonde quer que eu vá "...
e assim ele partiu e, os dias passaram e, lá se vão 8 anos sem ele...
* * *
ei moço bonito do meu coração, você morreu porque o coração cresceu demais e isto, não pode ser apenas científico, tem que ser maior do que o que os médicos dizem: "o Coração dele não resistiu de tão grande que ficou..." - na verdade, só as pessoas que nos amam muito, é que tem este poder de morrer com um coração enorme... de muito amor, com muito amor. o mundo daqui foi insuficiente para você , teve que subir ao céu para deixar de ser pai, marido e amigo pra virar estrela e continuar brilhando para que nós, que ficamos, possamos dormir em paz com a tua lembrança e com este trem solto dentro do peito ao qual chamamos saudade.

Você ainda é meu pai-amigo, meu herói antigo, meu salva-amor....

... aonde quer que eu vá ...

* * *

Coração puro


ELE faz parte de mim, pois DELE nasci.
Presente não está, mas guardado ficará.
Quem disse que MEU PAI não vive mais,
se eu ainda respiro, bato e tremo ?

Atrás de tudo estão todos





Tudo que sou

Eu queria ser Ela
Mulher, menina, gazela

Eu queria ser Laura
Mas, sou apenas uma Sônia

Eu queria ser Madame Bovary
Mas, sou uma dama qualquer sem nome

Eu queria ser Beatriz
Mas, vago perdida no purgatório

Eu queria ser Maria
Mas, as estrelas passam longe do meu ventre

Eu queria ser Inêz
Mas, tal qual a bonina, morro antes do amanhecer

Eu queria ser qualquer uma
Mas, não sou nenhuma
Não sou ninguém


Sônia A.Dias - 29 de dezembro de 2001 17:30hs

Balada Feroz

Na Revista Bravo deste mês: Vinícius de Moraes
"Salta como um fauno puro ou como um sapo de ouro por entre os raios do sol frenético. Faz rugir com o teu calão o eco dos vales e das montanhas. Mija sobre o lugar dos mendigos nas escadarias sórdidas dos templos. E escarra sobre todos os que se proclamarem miseráveis..."

Novos Poemas- Rio de Janeiro . José Olympio .1938

sexta-feira, 13 de março de 2009

De Lira e cordéis , de fogo, encantados ...




"Estou aqui para vender uma coisa. Estou aqui em pé, no som, na luz. Para vender um livro. A terra é quem me deu, eu só plantei. Dos instrumentos de pedra aos instrumentos de metal. Estou aqui para vender um livro. Passei por lugares de ramagens pretas, de cruel paisagem, de paragens brancas, infinita estrada e entrocamento..." - Lirinha

Enfim,

Ali

Sem grampo e com tinta - Foto acervo pessoal




ali

ali
se se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece.

* * *
Paulo Leminski

Se Alice Me Visse Aqui...

"Prédio, pilastra, janela, varanda. O prédio levou minha liberdade, a pilastra acabou com meu espaço, a varanda com meu campo de visão. Branca, tão alta minha torre higiênica, por isso tão claro o que falam soam, mas sem sol nada têm real sentido, aonde vou processar minha vitamina D?" (Sou mais minha casa)


Com ênfase na complexidade dos arranjos e letras no mínimo curiosas, a banda pernambucana - Se Alice me Visse Aqui, rompe com os paradígmas poéticos e sonoros. Os caras se dão total liberdade de criação de uma arte bastante diferenciada. O resultado disso, pode ser ouvido nesse explêndido disco da banda "Mùsicas para Clarissa"

Alice no País das Maravilhas...

Gato labirinto, meu irmão, acervo pessoal.


Trecho:
- Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?

- Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.

- Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.

- Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato.


Lewis Carroll – Alice no País das Maravilhas

Alice pura...


Alice é vermelho vivo. É silêncio e penumbra. Gata em teto de zinco quente. De perto, em tamanho é quase pequena, mas abre as palavras dela pra você ver o tamanho desta mulher...

Lero-Lero


... tá na minha agenda!



Dentro de Mim Mora um Anjo
Composição: Sueli Costa/Cacaso

Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que tem a boca pintada
Que tem as unhas pintadas
Que tem as asas pintadas
Que passa horas à fio
No espelho do toucador

Dentro de mim mora um anjo
Que me sufoca de amor
Dentro de mim mora um anjo
Montado sobre um cavalo
Que ele sangra de espora
Ele é meu lado de dentro
Eu sou seu lado de fora

Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim
Dentro de mim mora um anjo
Que arrasta suas medalhas
E que batuca pandeiro
Que me prendeu em seus laços
Mas que é meu prisioneiro

Acho que é colombina
Acho que é bailarina
Acho que é brasileiro
Quem me vê assim cantando
Não sabe nada de mim

quinta-feira, 12 de março de 2009

Para não perder de jeito nenhum...


RENATO BRAZ E CONVIDADOS

Dia: 29 de Março de 2009
Horários: Domingo, 19h Duração: 90 min (aproximadamente)
Ingressos: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)
Programação: Com Mario Gil, Fred Martins e Bré
AUDITÓRIO DO IBIRAPUERA / SP
Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portão 2
Tel.: 11 3629.1075

sábado, 7 de março de 2009

Grudados uns nos outros...


MALONE: "Depressa, depressa, meus pertences. Calma, calma, duas vezes, eu tenho tempo, muito tempo, como sempre. Meu lápis, meus dois lápis, aquele do qual só resta o grafite nos meus dedos enormes e o outro, comprido e redondo, na cama, em algum lugar, o que eu tinha de reserva, não vou procurá-lo, sei que está aí em algum lugar, se eu tiver tempo, depois de terminar, vou procurá-lo, se não achar, não vou tê-lo, farei a correção com o outro, se é que sobra alguma coisa dele (...). Continuo de memória. Está totalmente escuro. Mal enxergo a janela. A noite deve estar passando por ela, de novo. Mesmo que eu tivesse tempo necessário para pescar meus pertences e puxá-los até a cama, todos de uma só vez ou um a um, grudados uns nos outros como acontece com as coisas abandonadas, inútil, não conseguiria enxergar nada (...). "


Descrição: Malone morre foi escrito em Paris durante os anos de 1947-48, em plena atmosfera do pós-guerra. Desde então, tem sido considerado pela melhor crítica como um dos romances mais avançados do século XX. Nele, Beckett leva suas experimentações formais a um nível de radicalidade máximo. Um livro tão denso e tão inventivo que só poderia ser traduzido por um grande poeta, como foi Paulo Leminski, que aqui soube reinventar a linguagem agonizante de Beckett.



A venda no Submarino e nas boas casas do ramo.

Rugindo, rasgando, roendo...

imagem em agenda pessoal by sônia alves dias


"Viver e inventar. Eu tentei. Acho que tentei. Inventar. Não é bem essa a palavra. Viver também não é. Seja. Eu tentei. Enquanto dentro de mim ia e vinha a besta feroz da seriedade, rugindo, rasgando, roendo. Eu fiz isso. E completamente sozinho, bem escondido, fiz o papel de palhaço, sozinho, hora após hora, imóvel, muitas vezes de pé, numa atitude de enfeitiçado, gemendo. Isso, gemendo. (...) Me perseguiam, eles, os maiores, os justos, me agarravam, me batiam, me faziam voltar para a roda, a partida, a alegria. Eu já era uma vítima da seriedade. Foi minha grande doença. Nasci sério como tem gente que nasce sifilítico. E foi com seriedade que tentei deixar de sê-lo, viver, inventar, eu sei o que estou dizendo. Mas a cada nova tentativa eu perdia a cabeça, me precipitava para minhas trevas como se fosse em direção a um santuário, me atirava aos pés daquele que não pode nem viver nem suportar o espetáculo dos outros vivendo."

No livro Malone Morre.
Tradução de Paulo Leminski.
SAMUEL BECKETT

Água perfumada...


... sapatinho de cinderela moderna e bob dylan para dirimir dúvidas e levantar a cabeleira... tudo isto, você encontra dentro da minha agenda...