terça-feira, 30 de setembro de 2008

Seu olhar



O Seu Olhar
Composição: Paulo Tatit / Arnaldo Antunes

O seu olhar lá fora
O seu olhar no céu
O seu olhar demora
O seu olhar no meu

O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu

Onde a brasa mora
E devora o breu
Como a chuva molha
O que se escondeu

O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu
O seu olhar agora
O seu olhar nasceu
O seu olhar me olha
O seu olhar é seu
O seu olhar seu olhar melhora
Melhora o meu

O Gigante partiu para as terras do sem fim.

Gigante Brazil, ao lado de Suzana Salles,
na lendária banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção

Eu me intimidava com o Gigante. Também, quem é que não se sentia assim ao lado dele ? Mas, bastava ele sorrir pra desarmar a gente. Parecia até que a alma voava, viajava naquelas mãos acrobáticas dele. Quando perto dele estive e, foram algumas raras vezes, minha voz (que já não é muita) parecia soar menor...  era tão querido!

Ele, apesar de gigante, tinha uma voz mansa como leão em zôo cativo. Eu, tinha a sensação que ele só esperava subir ao palco pra rugir e derrubar tudo. Mas, a serenidade dele era incrível... e mesmo com a voz mansa, com os movimentos cadenciados e parecendo tocar pratos no ar... ele quebrava tudo.

Gigante Brazil fará falta. Figura lendária, tomava o show inteiro e, se Itamar não fosse tão xamã e irmão do negro beleza era bem capaz de ter perdido a vez e ter ficado em segundo plano. Mas, no palco, não havia segundo plano. Havia sempre primeiro. Primeiro Itamar, primeiro Negão. Gigantes, os dois.

Os palcos ficarão mais pobres, talvez poucos sentirão sua falta. Mas, os que sentirão saberão, daqueles dois moços luzentes: guerreiros, antigos.

domingo, 28 de setembro de 2008

Lábia

Fim de Show: Jards Macalé, Adriana Calcanhoto, Luis Melodia,
Omar Salomão, Vulgo Qinho e os Caras, e é claro, Waly Salomão.
Falar sobre um show não é mais tão fácil assim. Não é só declarar paixão pelo artista, ficar embevecida de estar lá, não é só sentir o peito apertado e deixar o coração pular, não é só estar ali por ali estar. Então as luzes se acendem...e,
... que importa se no Sesc coisas estranhas acontecem... e microfones ficam mudos, e violões de aço se recusem a tocar, que importa se uma banda nova fica mais tempo no palco que o verdadeiro dono da festa, que importa tudo isto se quando as luzes se apagam... está lá, tudo mais vivo que qualquer instante passado...e,
...Adriana continua deixando portas abertas, e Jards aparece sempre vestido como super man ou general, e novas pérolas se apresentam, e novos moços (Vulgo Qinho e os Caras) fazem festa no palco, e Omar Salomão está lá contando sobre Wally no intervalo dos comerciais...e,
...tudo isto importa como sempre. Como sempre me importa, ver gente nova, novas gentes. Como me importa muito, estar em contato com os antigos e com as músicas e com os versos e com os meus retratos: de quem sou, de quem são, de como somos.
Foi um show muito bom. E, Jards permaneceu até o final, embora muita gente tenha desistido por achar que ele tinha partido. E, no fim, estávamos todos ali, batendo palmas e com um leve sorriso de ter visto algo pra s(t)er sentido... e guardado.

Me segura qu’eu vou dar um troço

Despedida: palmas pra Wally (pra que te quero).

Remix Século XX

Armar um tabuleiro de palavras-souvenirs. Apanhe e leve algumas palavras como souvenirs.Faça você mesmo seu micro tabuleiro enquanto jogo lingüístico.Babilaque, pop, chinfra, tropicália, parangolé, beatnick, vietcong,bolchevique, technicolor, biquini, pagode, axé, mambo, rádio,cibernética; Celular, automóvel, buceta, favela, lisérgico, maconha, ninfeta, megafone, microfone, clone, sonar, sputinik, dada; Sagarana, estéreo, subdesenvolvimento, existencialismo, fórmica, arroba,antiquarios, motossera, mega sena; Cubofuturismo, biopirataria, dodecafônico, polifônico,Naviloca, polivox, polivox, polivox, polivox...

Microcontos Twitter


Você participou deste evento ?
Eu sim, mas os resultados ainda não sairam... acompanhe on-line... http://140.zip.net/
1º Concurso Brasileiro de Microcontos do Twitter. Quem ganhar leva para casa 4 livros da Coleção Bactéria. Para participar, bastava publicar um microconto no Twitter até o dia 20 de setembro.
Apoio: Sebo do Bactéria

Troca da Primavera

Estou participando da Troca da Primavera que a Micheliny Verunsck criou. Já postei sobre o assunto antes, e agora é hora de falar um pouco sobre a minha amiga que devo presentear: Cibele Barzaghi.
Em primeiro lugar, o blog dela é um doce (http://ceudebrigadeiros.blogspot.com/) e ela é uma artesã de mão cheia. É cheia de mimos e de delicadezas, o que torna uma delícia passear por ali...
Eu acreditava que ela era uma moça mais velha. Mas, depois de algumas fotos e um tanto de palavras, descobri que ela é uma moça muito bonita, muito nova e acima de tudo... uma moça de fina estampa! Segundo as palavras dela, ela caminha estampada: de flores, de listras, de cores, e até de onça e de girafa! Eu imagino que encontrar uma moça assim distraída deve ser coisa de filme, e eu me sentiria muito importante em tropeçar nas estampas dela. Sei que ela é branquinha e se tinge de rosas e lilázes, também de azuis e amarelos, tudo sempre muito vivo e brilhante, porque moça fina bem tratada merece ter o sol banhando todo o seu corpo, ô se merece! Agora, delícia mesmo, foram as unhas... até me lembrou um pouco de Olhinhos de Gato, da Cecília Meirelles, embora as cores fantásticas esteja mais para a sinuosa e miúda Greta Benitez... ficou curiosa ? Pois bem, te digo... já imaginou uma Madama destas, moça fina e listrada, com o sol a lhe banhar a face e com os cabelos ao vento ondulados... com vermelhos cerejas, vermelhos rosados e vermelhos azulados a lhe colorir os dedos ?
Pasmem, amei! Claro, porque eu tenho dedos mínimos (o maior não ultrapassa 6 centímetros), o que não me permite nunca usar cerejas ou ameixas e fantasiar unhas de gata . Meus dedinhos ficam sempre nos pálidos suspiros e nas areias...
Mas, de tudo que vi e ouvi (e sou uma boa vivonária, aquela que tudo vê e que tudo ouve com os sentidos bem abertos), sei que esta moça primaveril (não podia ser uma amiga melhor!) é romântica e doce, além de psicóloga de estrelas. E, isto me lembra do querido e antigo Bilac ("Ora pois, direi, ouvir estrelas! Tresloucado seria..."). Sei que ela borda com adultos e crianças, e fala baixinho (como eu, talvez também , para não acordar passarinhos!). É corajosa como a VIOLA de Shakespeare e tem tanto teatro dela, que talvez ela nem imagine...
Sei também, claro que sei, que ela não gosta de brigas. E, da Argentina voltou cheia de pontes e contos pra tecer e contar uma história inteira.
Mas, ai que doce vida... as moças mais bonitas e prendadas ainda guardam na fila pra subir no cavalo do Príncipe Encantado. Eu se fosse moço de boa família, largava o direito, esquecia da medicina e deixava esta Dona Estampa Bem Docinha, cuidar da minha felicidade, pra sempre.
A primavera está no ar, e a minha Viola já está pronta para partir...

sábado, 27 de setembro de 2008

1925-2008

Paul Newman

Este moço bonito não está mais entre nós...

Blog do Dia

http://garfosemdentes.blogspot.com/

A Família Godoy (primos, de Minas e SP) publicam juntos histórias/textos/contos.
São novos, novíssimos e prometem ...

Soares Feitosa

Não é aqui não.

Alguém gritou da balaustrada:
— Não é aqui não!
Era, era lá.
Uma casa antiga, um batente alto, era um orquidário.

Em tudo, uma paisagem velha como soem parecer essas florestas onde as orquídeas pendem e os pássaros chegam em rota migratória.

Não procurava pássaros, nem rotas, nem migrantes, nem orquídeas; haviam-me dito: numa velha casa, e sob uma roupa breve, os cabelos esquecidos porque os espelhos não eram convocados, mesmo assim, a beleza que sempre —... eram os olhos, isto, o olhar, ali, até...

Convocara sim as testemunhas e o dedo porque — foi dito entre os soluços e os silêncios — nem saberíamos catalogá-las, de tantas, as faltas, minhas, muito mais que as naus do catálogo dos aqueus, muito mais.

Suave como o entardecer, houvera um tempo, e agora, ali, distante, a ela, eu disse [as mãos estavam frias]:.

Não vou-te levar sozinha em viagem ilha.
Lá, deserta das outras, te tomarias de ilha e tédio.

Única maldição: sozinha!.

Aqui também — ela disse — o velho à balaustrada, ele grita o tempo todo: "Não é aqui não!"—

Ilha por ilha.
Imaginas que o mandei gritar — contra ti?
Ilha...?!.

É no convívio dos espelhos, mulher,
mulheres, que te queres bendita:
o passo da graça, nem que seja
à maneira de desembrulhar teus mortos.

Haverias de te esquecer de ti
porque das outras, o Poderoso não falava a sério, acho que não:

Parirás sob o medo!
Multiplicados sejam
os sofrimentos que não são.
Verdadeiros, só o tempo-espera,
só o tempo-só.

O resto, tudo volúpia!

Volúpia maior: a invasão da pélvis, os humores — e líquido em bolsa rasgada,
uma respiração ofegante, como se todos os deuses
de tuas narinas respirassem —
aonde vais nessa fúria?

O suor do meu rosto, sim, resigno-me!
Não posso fugir sem um espelho! (Ela disse)
.
Sagrar os espelhos, entre todas as mulheres,
dia e noite,
espelhos, a tua sina.

Eu te trouxe meias pretas.
Calça-as.
Está frio, está noite.
Lá.

Agora, gostaria de saber:
a quem o velho grita?

E, se quiseres deixar avisado,
toma o giz, escreve,
deixa-o à porta da geladeira, mas
o teu, escreve-o:
— Fui eu!

Pouco outubro pra tanto tudo...

FECAP - 05/10/08

Direto da Pele de Lontra...

... O FESTIVAL LITERÁRIO DO ANO.

"Caros, entre os dias 14 e 18 de outubro acontecerá o I Simpósio de Poesia Contemporânea (SIMPOESIA 2008), organizado pela Casa das Rosas e pela Universidade de São Paulo. O evento contará com a participação de 50 poetas brasileiros, de diferentes regiões do país, incluindo autores já conhecidos, como Claudia Roquette-Pinto, Roberto Piva, Glauco Mattoso, Ricardo Aleixo, Ademir Assunção, Frederico Barbosa, Ricardo Corona, e também poetas mais jovens.

Recitais poéticos, performances, palestras e debates acontecerão na USP, na Casa das Rosas, no Museu da Língua Portuguesa e na Academia Internacional de Cinema, dentro da programação do evento. Haverá também shows poético-musicais, apresentações de videopoesia e de poesia visual. Todas as atividades serão gratuitas, e a coordenação geral do evento está aos cuidados dos poetas Virna Teixeira e Antônio Vicente Seraphim Pietroforte."
Aguardem mais informações, na Pele de Lontra,(http://cantarapeledelontra.zip.net/).
p.s. quem quiser ir comigo é só me convidar (que eu vou!)

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Real Grandeza

Em duas únicas apresentações no Sesc Pinheiros, o compositor e cantor Jards Macalé interpreta clássicos de Waly Salomão, no show Real Grandeza que conta com participações especiais de Adriana Calcanhoto e Luiz Melodia. O repertório do espetáculo é todo composto por canções de Jards e Waly gravadas principalmente na época da tropicália. Clássicos como Negra Melodia, Contrastes, Mal Secreto, Dona de Castelo, Senhor dos sábados e Vapor Barato estão presentes. O músico e seus convidados serão acompanhados por Omar Salomão, filho de Waly, e o seu grupo Vulgoqinho.O show integra a programação da exposição, Waly Salomão - Babilaques: alguns cristais clivados, em cartaz no Sesc Pinheiros

Local: Teatro Paulo Autran (Sesc Pinheiros)
Preço(s):R$ 20,00.
Data(s):27 e 28 de setembro de 2008.
Horário(s):sábado, 21h; domingo, 18h.
Endereço: Rua Paes Leme, 195Pinheiros - Zona 0 -
Telefone: 3095-9400 / 3095-9402
http://www.sescsp.org.br

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Sudoeste



...tenho por princípios
Nunca fechar portas
Mas como mantê-las abertas
O tempo todo
Se em certos dias o vento
Quer derrubar tudo? ...
Letra: Adriana Calcanhoto e Jorge Salomão

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Samir Mesquita


como eu já postei há meses atrás... é rapidinho, dois palitos!

http://www.samirmesquita.com.br/

Antônio José Santana Martins

TEM TONS

Gosto de
Zé Celso de
Zé Agrippino e de
Zé Almino

Na canção,
tem Tom Zé...

Mas este,

quem precisa dizer
que gosta ou que
quer...



Este moço também é blogueiro, ativo e operante!

Babilaques

Rodas de Leitura: Waly Salomão por Tom Zé

Encontro com o compositor Tom Zé, que lê e comenta poemas do escritor Waly Salomão, onde o público é também convidado a ler.
Retirada de senha na bilheteria do SESC Pinheiros com 1 hora de antecedência.
SESC Pinheiros
Dia(s) 24/09

Quarta, às 20h

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Café Filosófico em São Paulo


Se você também é um adepto do bom Café Filosófico (que passa na TV Cultura às 22:00hs do domingo) vai gostar de saber que a partir de agora o programa não será mais somente gravado em Campinas. Os encontros agora ocorrerão também em SP, às quartas-feiras, no Tom Jazz (que fica na Av. Angélica). E o melhor: não precisa pagar nada para assistir!

Os temas fazem parte de um bloco intitulado A masculinidade hoje, que conta com curadoria de Maria Rita Kehl e do jornalista e mestre em cinema Inimá Simões, e terá uma programação contínua de cinco apresentações, com diferentes especialistas.
PROGRAMAÇÃO
01 de Outubro
Maria Rita Kell (psicanalista)
Homens em Crise ou Masculinidade em Questão? Em debate a crise de identidade do homem nos dias de hoje, o lugar do feminino e a linha tênue que separa estes dois gêneros. Após o evento haverá o lançamento do livro Deslocamentos do feminino (Imago), de Maria Rita Kehl.
08 de Outubro
Tai Castilho e Paulo Fernando Pereira de Souza (terapeutas de família).
O masculino e o feminino nas famílias contemporâneas.
15 de Outubro
João Silvério Trevisan (escritor e cineasta).
Homoerotismo e o fantasma masculino.
22 de Outubro
Sócrates Nolasco (psicoterapeuta).
De Tarzan a Homer Simpson: banalização e violência masculina nas sociedades de hoje.
29 de Outubro
Inimá Simões ( curador).
O masculino: obsoleto ou sem rumo?
Todas as quartas-feiras, às 20h30.Ingresso gratuito: retirar com uma hora de antecedência do início do evento.Capacidade da casa: 180 pessoas.

Tom Jazz: Avenida Angélica, 2331 – Higienópolis.
Telefones: (11) 3255-0084 / 3255-3635.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A viagem do Elefante, fragmento.

...
Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma.
José Saramago

Sobre o novo livro...

José Saramago termina "A viagem do Elefante", seu novo livro

O escritor português José Saramago acaba de terminar seu novo livro, "A viagem do elefante", que conta a história real de uma viagem épica de um elefante asiático que, no século 16, viajou de Lisboa para Viena.

"Por muito incongruente que possa parecer..." são as primeiras palavras de "A viagem do elefante", uma idéia que Saramago carrega há mais de dez anos, quando viajou à Áustria e, por acaso, entrou em um restaurante de Salzburgo chamado "The Elephant" (O Elefante).

O Prêmio Nobel de Literatura está atualmente em sua casa em Lanzarote (Ilhas Canárias), onde terminou seu livro e se recuperou de uma doença respiratória que ameaçou sua vida.

Mais de uma vez, ele pensou que não chegaria a concluir a obra, que tem aproximadamente 240 páginas e que chegará no segundo semestre aos leitores das línguas portuguesa e espanhola.

"Este conto, prefiro chamá-lo assim --melhor que romance--, é o que sempre pensei que deveria ser. A doença não mudou nada", diz Saramago, que afirmou que não deseja dramatizar "a situação do autor frustrado por algo mais forte que sua própria vontade".

"Eu escrevi meus três últimos livros na mais deplorável situação de saúde, nada favorável para sentimentos de alegria. Prefiro dizer: se você tem que escrever, escreverá", acrescenta.

A escrita do livro foi interrompida por sua doença e, ao ouvi-lo relatar suas sensações quando estava à beira da morte, muitos se lembram do violoncelista protagonista de seu romance "As Intermitências da Morte", embora saibam que a realidade não imitou a ficção que ele próprio criou.

"'As Intermitências da Morte' é um romance cheio de humor e ironia, não me lembro de ter assumido a ameaça que espreita o meu violoncelista. É certo que já estava doente, mas consegui construir uma barreira entre o eu que escrevia e o eu que sofria", declarou Saramago.

O escritor português não só "construiu barreiras" entre sua literatura e sua vida, mas é capaz de se isolar de tudo o que lhe cerca, até o ponto de escrever em seu computador portátil enquanto várias pessoas conversam no sofá da sala.

"Lembro que parte do romance 'Todos os Nomes' foi escrita em casa. Enquanto os pedreiros faziam seu trabalho e contavam piadas uns para os outros, eu, no quarto ao lado, separado apenas por uma lona plástica que servia de porta, continuava construindo as peripécias de meu personagem Dom José. Nunca os mandei se calarem. Eles estavam na sua, eu estava na minha", afirmou Saramago.

Segundo sua tradutora e mulher, Pilar del Río, "A viagem do elefante" é um livro no qual entram e saem personagens que estão nos manuais de história junto com personagens anônimos, pessoas vão se cruzando e compartilham perplexidades, esforços ou a harmoniosa alegria de um teto.

Pilar, que também é presidente da Fundação Saramago, acrescenta que "a compaixão solidária atravessa a obra, a distingue e a significa".
Também fazem parte da mesma ironia, sarcasmo e humor, que o escritor emprega "para salvar a si próprio e para que o leitor possa penetrar no labirinto de humanidades em conflito sem ter de renunciar à sua condição indagadora de humano e de leitor".

Se o livro contém alguma parábola, é algo que os leitores dirão, mas o autor revela que nesta nova obra não há personagens femininas com personalidade forte como Blimunda, de "Memorial do Convento", ou a Mulher do Médico, de "Ensaio sobre a cegueira".

"A viagem do elefante" foi concluída neste fim de semana e agora Saramago descansa e aproveita para ler "Diário de um Ano Ruim", de Coetzee.


(Fonte: Folha SP 08/2008)

O caderno de Saramago

Eu gosto do Saramago, não de hoje, não de ontem, na verdade nem sei há quanto tempo. Já fiquei em fila para vê-lo, já comprei lugar com cadeira marcada, já cometi minhas tietagens. Parece bobagem, digo à mim mesma, mas assim como há poetas que me fascinam, há este velho escritor que pontua a minha vida com alguns personagens inesquecíveis.

Mas, tenho a sensação que o maior personagem dos seus livros é ele mesmo. Toda a sua obra, parece autobiográfica e se a sensação, por vezes, é de repetição, o trabalho braçal de persistir em mais um enredo ganha corpo e novas estradas se abrem, e novos personagens surgem frescos, vivos, com todos seus complexos, reflexos, verdades e desvios.

Pra ser sincera, posso confessar: escrevi algumas cartas pro Saramago que estão guardadas em meu baú. Pouco importa-me se um dia hei de entregar-lhe, mas importa-me o que dali nasceu. E, muitas foram as perguntas, e muitos foram os dias de perdição e muitas foram as cartas sem remetente, sem endereço que restaram pra eu reler numa viagem qualquer... pode ser até a Azinhaga... quem sabe ?

Detalhe: agora ele é blogueiro e criou O Caderno de Saramago...

http://caderno.josesaramago.org/


A Cega das InSônias

Ilustre Senhor José Saramago


Sêo Moço,

há muito te encontro. em páginas antigas. há muito espero, velejar contigo.

por dentro. de dentro. navios. naufrágios. ensaios. cercos. objectos. QUASE. josé. jesus. ricardo. cirius (meu). todos os nomes, bagagens. evangelhos. perdidos. ouro de tolo. todos cegos (fomos, somos, estamos, seremos). ad eternum. in nomine dei. serenus. cadernos. cavernas. caligrafias. JANGADA pr´ eu ir. não é doce morrer no mar. que as mães do Tejo, o digam. que derramem. Pessoa e lágrimas. naus partidas. em ilhas, desconhecidas.

sou cega. andante. errante. desconheço o ano de minha morte. já quis fugir desta vida. fiquei. parei. dei sinal. encontrei cães (há cães em todos os lugares) . mas, eles não lamberam minhas lágrimas. um mordeu-me a panturrilha. sangrou. chorei. era ano novo. achei que seria mordida o ano inteiro. passou. cicatrizou. de vez em quando, coça. me lembro do cão. do dia. da hora. do medo. fugi da vacina. e todo dia, um após o outro. eu me achava morta, estendida, esperando a raiva me tomar inteira. nunca tomou. não morri. o cachorro se foi. ficou em mim.

já plantei flores que não brotaram. escrevi livros que guardo na gaveta. sem coragem de sair do casulo. me embrulho em casa com memórias remotas. lembranças que me alimentam. quando meu pai era vivo eu achava que era feliz. muito. depois que ele partiu. vivo tentando encontrar felicidades ao acaso. demora. às vezes, quase desisto. resisto. persisto. sigo adiante.

não rezo. não porque não acredito em deus, mas porque sou cria do meu Pai. e achava que ele era meu Deus. depois que partiu, fiquei órfã de religião. mas, quando em perigo , imploro "ai meu pai que estais no céu, me proteja, me ajude, me salve". sempre sou salva. acho que meu pai me ama. mesmo não estando mais neste circuito interno controlado por antenas de tv.

avante. andante. mirante. além.

o telefone , às vezes, toca. e eu atendo sem querer. sem querer também pego gripe, resfriado e tropeço em minhas pedras , nos rins. levanto-me. leio livros antigos de edições passadas. são os que mais amo. os que mais gosto. os que guardo no meu baú , trancados à 7 chaves. gosto de números ímpares. de coca cola e maria mole.

nunca tive um passarinho. peixinho já. mas, morreu. cachorros vários, mas nunca nenhum exclusivamente meu. queria ganhar um para dar o nome de Teófilo Severino. eu gosto da sonoridade deste nome, era o nome que meu pai queria ter. por incrível que possa parecer. é realmente lindo. não querer ser Alain Delon. mas, ser Teófilo (de Severino) ou José (de Saramago).

meu nome é sônia (dos alves) (dos dias). sou uma gaja. gaijin. brasileira. tenho hoje a idade que Cristo tinha quando conversou com o diabo. e com deus, na barca. atravessada. pendente. pairada. sobre um rio.

um dia quero morar em portugal. ter um café literário onde as pessoas possam comer bolinho de chuva (feito por uma velha preta gorda) e saborear um livro puído cheio de estórias contadas. neste dia, chamar-lhei-ei Sr Saramago, para tomarmos um chá de flor de laranjeira. o ar estará perfumado com galhos de alecrim. e Pylar del Rio lhe fará companhia. assim como Ciro Willian ,meu amado, que gosta de coçar minha cabeça e me chamar de Bailarina ( mesmo que eu nunca tenha esticado uma perna e tampouco dançado uma valsinha numa caixinha que toca lindas melodias ) .

hoje a noite irei vê-lo. mais uma vez (já o vi anteriormente) . meu dia fica radiante e sempre o sol aparece. ilumina. irradia. incandesce.

se sorte tiver, entregar-lhe-ei este bilhete e mais alguma coisa mínima. não posso dizer que o Sr modificou meu viver. meu pai sim, meu amado talvez. mas, as leituras que faço de suas palavras, são sempre enriquecedoras e ME FAZEM QUERER SER ( alguém que nunca sou ) , ESTAR ( num lugar onde nunca estou ), ENCONTRAR ( algo que nunca descubro o que é ).

ainda há de chegar meu tempo. quando. não sei. mas, sigo seus rastros. e querendo ser melhor, já é melhor do que não ser. querendo encontrar algo, é melhor do que não ter o que buscar. seguir pistas , é melhor do que caminhar no escuro – como cega – que sou, já fui, serei.

A cega, das inSônias.

são paulo, quinta feira de sol quase nublado – mas, sol.
Sônia Alves Dias - 16/09/2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Você conhece...


... a Micheliny Verunscky ?
E o Chiquitim Dandô (http://chiquitim.blogspot.com/) um dos blogs dela ?
Bem, se sim ou se não, eis uma grande oportunidade para visitá-la! Este mês ela programou a Troca da Primavera a idéia é trocar pequenas coisas e gentilezas e funciona assim:


Você manda um e-mail para ela (verunschk@terra.com.br) e se inscreve. No dia 18 de setembro ela sorteio as duplas. Você deverá enviar as coisas que fez ou juntou (ou comprou) para seu par. O tema é Primavera. Então, juntem ou façam coisas pequenas e interessantes com flores, pássaros, etc. Use a criatividade e se quiser gastar dinheiro, o valor deve estar entre 25 reais (mínimo) e 35 reais (máximo). Se alguém de outro país se interessar em participar, vai ser ótimo!

Último dia de envio das coisas: 05 de outubro/2008.

Assim que receberem suas coisas, enviem fotos para o email dela para que seja publicado no Chiquitim. O bacana é você se apresentar a seu par e dar algumas dicas do que você gosta ou não. Ah, você conhece alguém que gostaria de participar da brincadeira?


Convide-a!!!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Pia Fraus

Gigante Brasil é um monstro. Tem estilo próprio e timbre de voz grave. No palco é quase mitológico e tem uma aura zen que te transporta para outro universo. È um homem gigante, de tamanho e de talento, tem beleza demais por ali. Na bateria, não hesita em jogar pratos para o alto e para os outros e as baquetas podem caminhar pela pele e pelas paredes, causando assim, várias harmonias. Os acordes com ele são mais virtuosos e não tem quem não se seduza, quem não fique hipnotizado por tamanha maestria.
Eu sou fã do Gigante Brasil.
Que me desculpe o João (ele mesmo, o Gilberto), que me desculpe Itamar (o Assumpção, que eu tanto amei), que me desculpem todos os demais artistas que tanto visito em palco (Tom Zé, Jards Macalé, Adriana, Los Hermanos – yes!) e pelos quais me curvo diante de tanta beleza... mas, no palco da minha memória quanto mais busco cenas inesquecíveis, mais me lembro das tantas e todas vezes que senti meu peito ser tomado por um prazer absoluto de ver algo encantadoramente imperdível.
Gigante Brasil é feito de delicadezas.
Tudo nele parece bordado: os dedos no ar parecem tecer uma trama invisível, os estalos de língua parecem buscar abelhas no céu, as bochechas sinfônicas lembram sapos na lagoa em poema de Bashô...
Gigante Brasil é carioca e começou em 1969, na banda Massa Experiência. Tocou com Jorge Mautner, Chico Evangelista, Gang 90, banda Isca de Polícia, Marisa Monte, Ceumar, Mônica Salmaso, Ná Ozzeti e do inesquecível Itamar (pai da Anelis) entre outros. É ainda, fundador das bandas Sindicato e Gang 90.
Se você não conhece este Gigante, pode encontrá-lo nos seguintes lugares:
-na voz e bateria da canção Ensaboa (no cd Mais da Marisa Monte),
-na Banda Isca de Polícia, de Itamar Assumpção,
-ao lado de Paulo Lepetit no cd Música Preta Branca e etc... Agora a cozinha quer falar,
-na composição antiga, dele mesmo, Vento de Amor,
-no cd da Adriana Capparelli,
-com a Ná Ozzeti em A Olhos Nús (do Wisnik),
além de várias outras participações aqui não listadas.
Sua última apresentação foi no projeto Prata da Casa (Sesc Pompéia - R. Clélia, 93, tel. 3871-7700).
Todas as terças, em Moema, no Ventania Bar (ao lado do Shopping Ibirapuera), você pode vê-lo e se emocionar.
Nos vemos lá!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

domingo, 7 de setembro de 2008

Ressalva do Marcelo Mirisola

"Sonia,
a velha, na verdade, é um travesti ..."
E eu achando que era uma senhora velha (no velho estilo Charles Buchowski!)"

sábado, 6 de setembro de 2008

Animais em Extinção, Marcelo Mirisola.


Este é o protótipo do novo livro do Marcelo Mirisola. Tá vendo esta velha com cara de poucos amigos, com um panda pendurado no peito, um copo de cachaça na mesa e com o mar de Copacabana ao fundo ?
Pois é, o MM é assim.
Quem não fala muito com ele, pensa logo numa velha chata e ranzinza, cheia de esquisitices e que bota a boca no trombone e fala mal das instituições, vidas, enfim... tudo que é alheio! Mas, tá vendo esta velha com este cabelo elétrico e esta boca amarga, na capa do novo livro dele ?
Pois é, você reparou na doçura com a qual ela alimenta o panda ? E o coração partido tatuado no ombro ? E a boca vermelha ?
Então, pra mim, ele é uma figura assim: simbólica. Tem muito mais cuidado do que ele mostra. Em Copacabana então, acho até que ele senta no banco e conversa com Drummond... mas, isto ele não vai nos contar nunca...

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Entrelinhas

Cenário Lúdico
Peruca de espuma, bolhinhas de sabão e xixi no chão.

Desenho abstrato no azulejo do banheiro.
Cantoria desafinada e camiseta velha, puída.
Lápis na mão e um monte de idéias no chão.
A vida espalhada em recortes de jornais passados...

Detalhe de Imagem: Desenho sobre papel by Sônia Alves Dias

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Amores Perros

Guillermo Arriaga - Bienal do Livro 16/08/2008 - São Paulo

Sábado de eclipse. Sábado pós-meu-aniversário. Sábado de 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
Poderia e deveria ter sido melhor. Estacionamento (r$ 20,00) mais caro que entrada inteira (r$ 10,00). Praça de alimentação em excesso, eventos infantis em excesso, pouco espaço para discussão de idéias, excesso de falta de organização.
No Pavilhão de Exposições do Anhembi, 4,1 mil lançamentos, 210 mil títulos expostos e 2,2 milhões de livros à venda (são 350 expositores representando mais de 900 selos editoriais). Os números impressionam, mas de perto tudo parece uma grande Babel e muito próximo de apenas um clique. Submarino, Saraiva, Martins Fontes... se a busca era por novidades, melhor procurar longe dali.
A Bienal trouxe 50 convidados estrangeiros vindos de 14 países e 220 convidados nacionais. Guillermo Arriaga [foto], roteirista premiado dos filmes Amores Brutos (2000), 21 Gramas (2003) e Babel (2006), era um dos grandes destaques.
Vergonhosa recepção, diga-se de passagem. Não haviam indicações claras das mesas de convidados, durante o dia. Na sala que escolhemos, Marçal Aquino por um imprevisto qualquer, faltou. Marcelo Rubens Paiva precisou ser carregado para estar entre os convidados (tendo em vista os organizadores da Bienal terem se esquecido que ele é um cadeirante e não ter providenciado rampas de acesso). Microfone falhou, a música do lado de fora estava tão alta que nos impedia de ouvir o que era dito dentro da sala, e ao término do evento, Arriaga ficou solto num estande (Renascer ?) dando autográfos do seu novo livro "O Esquadrão Guilhotina" sem ninguém a lhe assessorar.
Não é assim que deveria ser. Autores brasileiros, foram convidados a participar, sem receber cachê nenhum e ficaram a mercê da sorte. Sem espaço definido, encurtaram palestra, e se perderam na multidão.
A Bienal deveria ser boicotada. Quem não oferece estrutura não merece estrelas.

Quanto à Guillermo, muito sereno e simpático, discorreu sobre roteiros e adaptações. Prestou atenção no público e levantou-se inúmeras vezes para palestrar como professor que é. Saí de lá, admirando-o um pouco mais. Com olhos vivos e sábias palavras disse-nos:

"esqueçam o talento, ele não existe, busquem o trabalho da mente, dia após dia, palavra após palavra. não deixem as cores secarem... é preciso construir um novo diálogo todos os dias, se você estiver pronto, um dia estará no lugar certo na hora certa... e as coisas acontecerão"

Ao final, entreguei pra ele um bilhete manuscrito que continha uma letra do Madan que assim dizia:


não existe
sorte
azar
não existe
tudo é risco
arrisque
leão de zôo
tem os olhos
tristes