segunda-feira, 31 de agosto de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
Televisão
Televisão
Titãs
Composição: Marcelo Fromes / Tony Belotto / Arnaldo Antunes
Me deixou burro
Muito burro demais
Oi! Oi! Oi!
Agora todas coisas
Que eu penso
Me parecem iguais
Oi! Oi! Oi!...
O sorvete me deixou gripado
Pelo resto da vida
E agora toda noite
Quando deito
É boa noite, querida....
Oh! Cride, fala prá mãe
Que eu nunca li num livro
Que o espirro
Fosse um vírus sem cura
Vê se me entende
Pelo menas uma vez
Criatura!
Oh! Cride, fala prá mãe!...
A mãe diz prá eu fazer
Alguma coisa
Mas eu não faço nada
Oi! Oi! Oi!
A luz do sol me incomoda
Então deixa
A cortina fechada
Oi! Oi! Oi!
É que a televisão
Me deixou burro
Muito burro demais
E agora eu vivo
Dentro dessa jaula
Junto dos animais...
Oh! Cride, fala prá mãe
Que tudo que a antena captar
Meu coração captura
Vê se me entende
Pelo menos uma vez
Criatura!
Oh! Cride, fala prá mãe!...
A mãe diz prá eu fazer
Alguma coisa
Mas eu não faço nada
Oi! Oi! Oi!
A luz do sol me incomoda
Então deixa
A cortina fechada
Oi! Oi! Oi!...
É que a televisão
Me deixou burro
Muito burro demais
E agora eu vivo
Dentro dessa jaula
Junto dos animais...
E eu digo:
Oh! Cride, fala prá mãe
Que tudo que a antena captar
Meu coração captura
Vê se me entende
Pelo menos uma vez
Criatura!
Oh! Cride, fala prá mãe...
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Oh! Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!
Beirutando no Mam
Beirutando na Praça, é um projeto que toca músicas e faz versões da banda Beirut. Beirutando (verbalização de Beirut, em português) é um evento que propõe um dia em comum nos estados participantes, que são atualmente, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, em que todos toquem músicas do Beirut ensaiadas ao longo do ano.
Participe!
O Beirutando vai acontecer dia 30/08/2009, em São Paulo
Parque Ibirapuera, às 14h na frente do MAM
sábado, 29 de agosto de 2009
Ou eu encontro um caminho...
foi amor - reencontro - acaso - destino.
vibrou corda. coração. boca e sexo (gentil).
não disse "A", tampouco o alfabeto inteiro. ficou quieto. mudo. surdo. brincando com os olhos (feito bola de gude). sorri. sem riso. sem gargalhada. sem galhofas e carnavais. ri pra dentro e dentro de mim. tamborins. perdi-me em repentes. assim.
foi pranto. foi pressa. foi um "marche... marche... marche... " só quem assistiu o filme. que contém este comando. que possui uma mente dominante. e uma mente dominada. onde os papéis se invertem e o dominado toma as rédeas e vira o dominador sabe o que significa a ordem "MARCHE".
marchamos. os dois. em silêncio. só nosso.
prendemo-nos. entre dedos. brincantes, fomos. suaves cheiros. o rosto dele quase perto e tão longe (faraway) sô closet. fundou olhos. cavocou bem longe. encontrou coração sujo. trêmulo. sangrado. quase morto. embrulhou em papel de arroz. com dedos de violão, tirou som perdido. tremido. tirado do fundo do precipício.
homem bonito. talhado. terno e de lente. de grau. de aumento.
me viu maior, me fez maior, reprogramou meu olhar. de encontro - ao dele. bebi da voz. da boca (distante). dos dentes (perfeitos). das mãos (tão longas). dos pés (calçados). do coração (descalcificado). doado. doído. doido. disposto (em chamas).
visitou-me em palavras. depois em bites. também em bytes. em bobices arteiras. circulou pelas minhas veias (rotas e roxas). virou história, estágio, tempo além do calendário. catou conchas (que não recebi). mas dormi dentro delas (sem que ele soubesse). virei pérola. molusca. minúscula. alada. dentro do abraço, no enlaço dos braços dele.
terno nas mais diversas horas do dia. ansioso e ansiado. as vezes perdido. as vezes (deliciosamente) perdido. doce. algodão-doce.doce-de-leite.doce-de-abóbora (de coração). sedento. de água. de sexo. de cheiros. de amores. amor-perfeito. tão puro. tão raro. cristalino. diamante verdadeiro.
é meu. dezoito quilates. sem marcas nos dedos . poesia pura. feiticeiro dos bravos. rebento das águas (de Iemanjá).
tem silêncio que conforta e voz que anuncia promessas (veladas)
mora em mim. habita meus prazeres. é meu pescador. meu salva-amor-salva-dor.
oferece-me flores. e risos. e calmas. e desejos. ofereço-lhe meu coração pouco importando se as pétalas , de caso com o acaso, brinca e reserva um não me quer. jogo fora a última e digo “ele me quer” ... sempre.
quero-o muito. todas as horas. todos os dias. o tempo todo. por tempo indeterminado. exijo querências, ardências, volúpias, e o peito... na noite escura... (que em mim clareia)
ele é força, coragem e retidão.
perco tudo por ele e gostaria de nunca ter tido nada para tudo lhe oferecer. talvez pareça pouco, mas é tanto, porque no fundo eu nada sei. criei castelos onde habitei sozinha e me mandei flores quando era lua cheia. pra fingir o amor. pra acreditar que eu não sonhava em vão. que em algum lugar, alguém me esperava. esperou. me achou. e fui. sem medo. sem nada.
e se hoje pareço tonta. ele me abraça e me deixa mais tonta ainda. porque eu quero sempre imaginar praia deserta , carrocel e algodão-doce e no céu incandescente - lua cheia.
sempre.
(para o moço que me tirou da chuva e faz o sol brilhar há 8 anos na minha vida)
Dentro do grande silêncio...
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de cíclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõem-se, e os cíclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água"
Júlio Cortázar
trecho do livro "O Jogo da Amarelinha"
terça-feira, 25 de agosto de 2009
Lembrete
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Impressões
Ao ler as primeiras páginas de Lavoura Arcaica eu ia pensando "eu queria ter escrito isto... como é que alguém escreve assim... como é possível tanta emoção ? " as palavras iam ganhando força, os personagens iam jorrando seus medos, o texto era de arrepiar os cabelos.
Primeira página
"Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe, de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; eu estava deitado no assoalho do meu quarto, numa velha pensão interiorana, quando meu irmão chegou pra me levar de volta; minha mão, pouco antes dinâmica e em dura disciplina, percorria vagarosa a pele molhada do meu corpo, as pontas dos meus dedos tocavam cheias de veneno a penugem incipiente do meu peito ainda quente; minha cabeça rolava entorpecida enquanto meus cabelos se deslocavam em grossas ondas sobre a curva úmida da fronte; deitei uma das faces contra o chão, mas meus olhos pouco apreenderam, sequer perderam a imobilidade ante o vôo fugaz dos cílios; o ruído das batidas na porta vinha macio, aconchegava-se despojado de sentido, o floco de paina insinuava-se entre as curvas sinuosas da orelha onde por instantes adormecia; e o ruído se repetindo, sempre macio e manso, não me perturbava a doce embriaguez, nem minha sonolência, nem o disperso e esparso torvelinho sem acolhimento; meus olhos depois viram a maçaneta que girava, mas ela em movimento se esquecia na retina como um objeto sem vida, um som sem vibração, ou um sopro escuro no porão da memória; foram pancadas num momento que puseram em sobressalto e desespero as coisas letárgicas do meu quarto; num salto leve e silencioso, me pus de pé, me curvando pra pegar a toalha estendida no chão; apertei os olhos enquanto enxugava a mão, agitei em seguida a cabeça pra agitar meus olhos, apanhei a camisa jogada na cadeira, escondi na calça meu sexo roxo e obscuro, dei logo uns passos e abri uma das folhas me recuando atrás dela: era meu irmão mais velho que estava na porta; assim que ele entrou, ficamos de frente um para o outro, nossos olhos parados, era um espaço de terra seca que nos separava, tinha susto e espanto nesse pó"
Raduan Nassar - Lavoura arcaica
sábado, 22 de agosto de 2009
Bacana...
Em outras ocasiões, não raras também, lendo o primeiro capítulo já é possível bocejar, não se interessar e até desgostar do todo, mesmo que este seja melhor do que o capítulo lido. Azar. Escolher livro, enfim, é também meio loteria, aliás, é aí que mora um pouco do seu encanto: na surpresa, no mistério de nunca saber ao certo se vamos ou não dele gostar.
Mas bons autores são, em geral, bons prestidigitadores, e logo de chegada, logo na largada mostram “suas garras afiadas”, suas letras mágicas e com elas nos “infectam” e nos atraem rapidamente. Ás vezes, no entanto, lemos o livro inteiro e ainda esperamos o dito começar, porque, quem sabe, não foi pra nós que ele veio se empinar, se oferecer. Cada livro tem seu público certo, sua alma gêmea. O leitor é um pouco parte do livro, porque os autores buscam, em geral, seu leitor de sempre, ou de nunca, que nunca o leram, mas que foi para eles que sempre escreveram. Coisa de biotipo. Coisa entre autor e leitor, de gente que se ama e se encontra na estante, sem querer, sem saber.
Há poucos anos, quando um turista visitava o cemitério marinho de Sète e pedia ao guarda para indicar-lhe o local do túmulo de Paul Valéry, o funcionário municipal acordava seu cão e dizia- lhe, em tom de comando: — Valéry!
O cachorro, sozinho, levava o visitante ao túmulo do poeta.
Um ministro da Cultura — por que eles têm que se meter nisso? — achou que o procedimento não era respeitoso e mandou proibir o cão de servir de guia às peregrinações literárias. No entanto, conheço um belo retrato de cachorro, feito a lápis, desenhado pelo próprio Paul Valéry. Quando estou em presença de um cão, não consigo parar de me questionar. Talvez seja ingenuidade. Mas minha ingenuidade está em boa companhia, como a de Paul Valery: “O animal, verdadeiro enigma — oposto a nós pela similitude”. (…) O animal é “pobre em mundo”, disse Heidegger, enquanto a “pedra é sem mundo” e o homem é “configurador do mundo”. Esse é o tortuoso caminho que utiliza para elaborar a questão: “O que é o mundo?”.
O autor constrói um bem-humorado jogo em que as histórias caninas desvendam um mundo de idéias, simbolismos e afetos que nunca se desgarram da “coleira do humanismo”. As pistas estavam lá, nas primeiras páginas, nos parágrafos iniciais, no capitulo 1, era só ler e ser fisgado pela prosa fácil de Grenier.
Outras “primeiras páginas” você confere no site da Cultura, na sessão “Primeiro Capítulo”. É só sentar sem pressa, escolher a literatura que lhe interessa e ir folheando, folheando, não sem antes jogar as pernas por cima daquela almofada-águia, aquela esperta, aquela que nunca fica muito tempo longe, que está sempre por perto, lhe aguardando, pronta, como um cão, como um
E para você...
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
Com humor e com amor...
Caligrafia
Local: Clash Club
Endereço: Rua Barra Funda, 969
Coquetel: das 20h às 23h (no mezanino)
Show: 21h30 em ponto
Por favor, confirmar presença pelo e-mail.:
CALIGRAFIA (INKER/ 2009)
www.ludov.com.br
www.ludov.com.br/aovivo
Fonte: Conteúdo Explícito
No trabalho anterior, Disco Paralelo (MONDO77, 2007), havia a necessidade de afirmação do grupo, depois que o baixista Edu resolveu mudar de vida e de país. “Enfatizamos a coletividade, insistimos nas parcerias para enriquecer as composições”, explica Mauro Motoki. Já em Caligrafia, a vontade de diversificar no estúdio foi natural, e o Ludov buscou enriquecer as músicas com elementos que fugissem da rotina (a banda já estava há dois anos tocando no formato padrão baixo-bateria-guitarra-vocal), e, espontaneamente, formar o repertório levando em consideração as diferenças de cada um. Caligrafia é o resultado disso: um disco que tem a assinatura de cada indivíduo, e não apenas de um grupo.
Não houve conversas prévias, tentativas de se achar um caminho ou algum tipo de censura antes do processo de criação. Em busca de assegurar essa liberdade, o Ludov viajou para um sítio sem nenhuma canção na bagagem, apenas com o objetivo de criar e gravar, longe de tudo e a partir do nada, as novas canções.
Habacuque Lima, Mauro e o amigo Fábio Pinczowski, sócios no Estúdio 12 Dólares e cúmplices no projeto Liga Leve, assumiram a responsabilidade pela produção do álbum. Decisão fundamental para que o processo fluísse naturalmente, sem aquela pressão vinda do mundo de fora. Depois de ter trabalhado com Chico Neves, produtor renomado de artistas como O Rappa, Skank e Los Hermanos, entre outros, a banda sabia que a cobrança não seria pouca.
Mas, ao se ouvir o produto final, recheado de arranjos inteligentes, de instrumentos inusitados (como ukelele) e harmonias vocais delicadas e bem construídas, difícil não chegar à conclusão de que a banda acertou na sua escolha.
Caligrafia tem 19 faixas, 12 no CD físico e sete que serão lançadas apenas na internet. Do total, 18 foram compostas no sítio e apenas uma, “Canção Por Helena”, chegou como um presente. A música foi feita pelo pai de uns dos integrantes nos anos 70 e ganhou nova roupagem pelo grupo. Mauro relata que “a liberdade que a gente se deu gerou algumas letras bem pessoais. E claro, uma diversidade que não seria alcançada de outra forma.”
Os novos rebentos mostram um Ludov bem resolvido e maduro. Aquela maturidade que te permite soltar os freios por já saber exatamente em que chão está pisando, que te permite aproveitar a fundo um passeio pelo universo da música pop. Maturidade que traz qualidade e espontaneidade.
“Luta Livre” abre o CD dando cotoveladas. Colada vem a dançante “Vinte Por Cento” e, em seguida, “Sob a Neblina da Manhã”, para ganhar o ouvinte de vez. “Reprise” e “Terrorismo Suicida” são o Ludov em sua melhor forma. “Madeira Naval”, “Mecanismo” e “Paris, Texas”, híbridos de velhas e novas referências: de Blur, Belly, Pulp, Cardigans, Marisa Monte, Chico Buarque.
O disco ainda conta com quatro músicas inclassificáveis: “Não Me Poupe”, uma visita ao universo dos malditos setentistas; “O Seu Show é Só Pra Mim”, uma mistura inimaginável de High School Musical com TV On The Radio; “Magnética” e sua sonoridade Novos Baianos e “Notre Voyage”, que, deliciosamente, é cantada em francês.
A voz inconfundível de Vanessa Krongold nunca esteve tão segura e suave ao mesmo tempo, nessas que são, certamente, suas melhores interpretações até hoje. A vocalista toma para si cada palavra, tornando-se dona de cada nota emitida no disco. Uma das grandes cantoras dessa geração. Sem estrelismos, servindo à musica e não ao ego, Krongold sabe a hora certa de fazer a canção brilhar e brilha ao saber a hora de deixar seus comparsas brilharem.
Todas as músicas estão disponíveis para download gratuito no site da banda. Assim como todos os videoclipes do grupo, vídeos do dia-a-dia dos integrantes, textos, letras, discos. E tem também o Ludov Ao Vivo, uma página de transmissão em tempo real de vários momentos da vida dos quatro membros.
É assim que o Ludov fica cada dia mais próximo de seu fã e mais dono do seu próprio nariz. Enquanto a grande indústria fonográfica se perde em tentativas confusas de entender o novo mercado e o novo consumidor de música, o Ludov segue tranqüilo em sua própria trajetória, escrevendo uma história cada vez mais sólida. Construiu, ao longo dos anos, conexões fortes com seus admiradores e entendeu, há bastante tempo, que é preciso mais do que apenas bons músicos para sobreviver.
Hoje, mais do que uma banda, Ludov é um empreendimento bem-sucedido, que conta com sete integrantes. Além de Mauro, Habacuque, Vanessa e Chapolin, que fazem de tudo um pouco pelo grupo, o produtor artístico Pinczowski e a produtora executiva Fabiana Batistela (representando a equipe da Inker) são fundamentais na vida do grupo. O sétimo elemento é o músico Bruno Serroni (também baixista do Pullovers), que entra nessa nova fase para ajudar a executar ao vivo o que foi feito em estúdio.
A banda é uma das poucas do cenário nacional que pode dar exemplo de como ser independente no Brasil. E é na coragem de assumir novos desafios que reside a sua força. Ao gostar do que o tempo traz, ao gostar do que nos confunde, ao fazer o que gosta, o Ludov consegue ser o que se espera sem ser previsível.
www.inker.art.br
sábado, 15 de agosto de 2009
Dimensões
(Christian Rocha)
Espera-se que aconteça tudo no dia do seu aniversário, menos nada. Quando nada de fato acontece, e, mais ainda, começa a chover aquela chuva chata, tudo parece meio mórbido.
Morbidez é, no fim das contas, o que o aniversário mais lhe reserva. Só no aniversário podemos ter uma certeza especial. Pode-se saber com exatidão quantas e quais pessoas lembram de você. Neste sentido, o aniversário elimina quase todas as paixões e idealizações em torno de amigos e companheiros.
O aniversário nos reserva o desejo pueril de, ao menos uma vez num ano, ser o centro do mundo. Não somos, nem nunca seremos, claro. Mas é no aniversário em que sentimos raiva do balconista que não nos deu atendimento preferencial.
Aos egocêntricos, pouco muda no aniversário. Aos que não são egocêntricos, este é o dia para o ser.
Envelhecemos a cada dia. Foge-me o mistério e a razão da celebração de períodos inteiros de tempo: aniversários, bodas, jubileus etc. Se fizéssemos uma divagação dimensional, concluiríamos que jamais fazemos aniversário, porque, pela matemática dos limites, é impossível medir com precisão um espaço de tempo equivalente a um ano. Isso sem falar nos tantos calendários existentes... O Ocidente "dita" inclusive o momento em que cada um deve ficar mais velho.
Envelhecer é amadurecer. Pra pior ou pra melhor. Não sei até que ponto é opção nossa um ou outro caminho. Crescemos, e temos pouca condição de escolher caminhos.
Talvez seja a única coisa boa de um aniversário. Como forte marco dos anos que se passaram, nos força a olhar pra trás, a rever nossos medos e erros e, assim, crescer a cada data querida.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Mais um aniversário...
(Chico Buarque)
Tá na hora de acordar, sinhazinha
Tem muito o que fazer
Tem cabeça pra tratar
Tem que ler Caderno B
Hora no homeopata
Fita no vídeo-clube
Tá na hora de acordar
Tem a vida pra viver
Tem convite pra dançar
Telefone pra você
Namorado pra brigar
Vinho branco pra esquecer
Tá na hora de acordar, sinhazinha
Eu não chamo uma outra vez
Que tem búzio pra jogar
Tem massagem no chinês
Instituto de ioga
Coleção nas vitrines
Tá na hora de acordar
Tá na idade de querer
Namorado pra casar
Casamento pra sofrer
A cabeça pra dançar
E a vontade de morrer
Disco novo pra rodar
Vinho branco pra esquecer
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Hoje não tem sopa na varanda de Maria
O AMOR SE VAI PELA MESMA VIA QUE VEM
"Uma coisa invisível está perecendo no mundo,
um amor não maior que uma música"
Jorge Luis Borges
tudo muito rápido toda
tímida capto todo
torto rapto
um breve cintilar de lábios
da cor escarlate do mesmo esmalte
das unhas que laceravam a pele do peito enquanto
os olhos diziam que eu era tudo
e que nada nos separaria
2º movimento
toda boca
úmida toda loba
cínica toda mímica mínima
todo espanto tanto encanto pra tudo
terminar em nada
esse nada que nada sara e me atira
outra vez no fundo do poço enquanto
estrelas migram lá fora
Ademir Assunção
Ocupação
O Itaú Cultural apresenta...
O que faz um artista ser referência? No caso de Nelson Leirner, que ocupa a primeira edição do projeto, destacam-se, entre outros aspectos, a atuação acadêmica. Por mais de 20 anos, Leirner participou do processo de formação de toda uma geração criativa, que, semelhante ao mestre, tem representatividade nacional e internacional. Atualmente, permanece como farol para sua classe ao continuar criando e explorando as fronteiras entre a representação popular e a arte consagrada.
A exposição é uma oportunidade para que vários perfis de público tomem contato com o artista, por meio da remontagem de obras históricas, exibidas ao lado de trabalhos recentes. É também um espaço para que a instituição direcione sua ação educativa para o aprofundamento e a compreensão do papel de artistas como Leirner, que “formam opinião” sobre a arte, seus movimentos e períodos.
Além das artes visuais e do teatro, Ocupação vai apresentar, ainda neste ano, um artista referencial na literatura.
exposição-experiência
Num primeiro momento, o Zé quis o Antônio Araújo, que não pôde. Depois, falou com o Gringo Cardia, que também não pôde. Como sou o que está ali sempre, a ideia de um curador para esta exposição acabou em mim. Mas, sozinho, nunca. Como sou um sujeito que não tem do que viver, aceitei o desafio, acatando o desejo do Zé Celso de que eu assumisse a missão com a Elaine Cesar, que tem a competência de artista plástica multimídia.
Elaine é, até hoje, a artista que melhor soube traduzir para o vídeo-projeção-cenário o desejo do Zé em suas peças no terreiro eletrônico do Teatro Oficina. Tínhamos uma viagem à Croácia, onde Elaine dirigiria o vídeo do Banquete de Platão, apresentado em Zagreb com atores de lá. Elaine desistiu de ir para mergulhar cada vez mais fundo no material sobre o Zé, inventando suportes para colocá-los na exposição.
E eu? Afinal, sou sim ator, diretor e produtor de teatro. Mas conheço a vida e o artista Zé Celso muito pelo que ele me contou nesses 23 anos de convívio quase que em tempo integral. Sei também do que conheci no arquivo do Teatro Oficina, que estava ao meu lado ainda no final dos anos 1980, quando cheguei em São Paulo e morávamos na Rua Japurá. Conheço, também, pelo que vivi como ator e produtor do Oficina durante os anos 1980 e 1990, sendo parte de seu arquivo vivo. Mas acho que também conheço o Zé por ser, dentro do grupo, aquele que nunca concorda imediatamente com ele.
Esta exposição nasceu de um projeto de livro-exposição que chamamos de Pã-D’oro, concebido no fim dos anos 1980 e nunca completado. Tratava-se da ideia de um livro feito com materiais de todo tipo e que poderiam servir para cenário. Somava-se a isso uma vontade nossa de fazer um documentário sobre o Oficina.
Mas, quando começamos a falar sobre esta exposição, de fato, nos veio a figura de Hélio Oiticica. O que nos chamava a atenção nesta relação era a noção de ambientes e uma vontade de que cada espectador pudesse vestir o Zé Celso como um parangolé. Penetrar. Ambientes capazes de provocar nas pessoas que entrassem no espaço do Itaú Cultural o que cada época vivida provocou no artista. Ambientes como suporte da vida-obra do Zé Celso, a sua maneira de se relacionar com cada momento vivido em determinado espaço de tempo, e seu contexto sócio-político-econômico-e-qualquer-outra-coisa-ciência. Os estímulos dessas coisas e situações sobre o indivíduo-artista e o resultado disso no artista de teatro, porque o teatro é diferente, é arte coletiva.
A nossa intenção-tentativa com essa colagem de coisas inéditas da vida desse maravilhoso advogado-artista-diretor-de-teatro&cinema-ator-músico-cantor-compositor-e-mais-algumas-coisas, é que cada um viva essa exposição-experiência, seja um pouco o artista, seja um pouco Zé Celso.
Como será ser Zé Celso?
Aceitei o convite do Zé. Tinha acabado de finalizar o Rito − uma festa de 50 anos do Oficina. Para ela, havia criado um HD que chamei de Ethernidade. Reuni em tempo recorde muita imagem: Isaurinha, Kusnet, Renato Borghi, Henricão, Célia Helena, Chet Baker, Getúlio, Jango, Revolução, Oswald de Andrade, Cacilda, Noilton Nunes, Celso Lucas, Pérola Negra, Sartre, Paris, Cuba, Araraquara. Imagens todas. Formei uma equipe que trabalhou num mergulho louco dentro da história desses 50 anos. Dessa experiência nasceu também o material para a exposição.
O Zé para mim é combustível. É pura luz. E, ao mesmo tempo, é um homem cruel. O Marcelo por perto faz tudo ficar mais fácil. Meu amor e admiração por ele são enormes. Fazemos juntos parte de um time que atua em silêncio. Com ele, procurei entrar neste labyrinto sem largar o tal ‘”fio de Ariadne”, sobre o qual o Zé tanto fala. Para trabalhar conosco, convidamos uma equipe já acostumada a caminhar nesse labyrinto. Todos já experientes nessa arte Zé Celso.
Meu universo é a imagem, o vídeo. É cinema. Aqui, misturamos tudo. Uma instalação teatral? Ou uma videoexposição? Cenários, monitores, projetores. O Zé é isso, multimídia total. Sempre à frente de tudo. A exposição traz uma oportunidade de explorar essas tecnologias. Minha praia. Era para ser um espaço de um diretor de teatro. Virou o terreiro eletrônico. Puro Zé. E, para ele, uma admiração monstro, caos.
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
Get Upando
Hoje amanheci James Brown. Com os pés deslizando e os quadris quebrando.
Get Up"ada" !
Get Up Offa That Thing (James Brown)
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAW!!!
OH!
Say it now!
I'm back!
Get up offa that thing,
and dance 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and dance 'till you, sing it now!
Get up offa that thing,
and dance 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and shake it, say it now!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Get up off!
Ha!
Good God!
So good!
Ha!
Everybody ready?!
Follow me!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and shake it, sing it now!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Get up offa that thing, (Ha!)
and twist 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and shake 'till you, sing it now!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Huh!
Get funky!
So good, Uh!
I'm first to stop, ha!
I've told them now, ha!
[I'm not sure about those last two lines]
Uh!
Ha!
Ohio player! (like the band, or maybe 'Go higher player!')
Can you hit it one time, from the top?!
Get up offa that thing,
and dance to try, you better! [?]
Get up offa that thing,
and... Help me!
Get up offa that thing,
and dance 'till you feel better!
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Huh!
I need it!
That's the wise old brother at the side start good! [that's what is sounds like]
C'mon Clive do it!
Do it!
Uh!
Ha!
Good God!
God Good! [that's not a typo]
Huh!
Feels good!
Feels good!
Do it to me!
Huh!
Good God!
I want you all in the jam! [i think]
Gonna get you all in the jam!
Play that bad funk! [?]
Show 'em how funky you are!
Play it JB's!
Play it now!
Hey!
Get up offa that thing,
and dance 'till you feel better!
Get up offa that thing,
and dance 'till you, help me out!
Get up offa that thing,
and dance 'till you feel better!
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better!
Get up offa that thing,
and try to release, say it now!
Get up offa that thing,
and shake 'till you feel better,
Get up offa that thing,
and try to release that pressure!
Get up and... call it!
I feel good!
[Fade out
Poema púbico
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Hora H
O Hora H, evento realizado anualmente desde 2003, tem o objetivo principal de homenagear e manter viva a obra do poeta Haroldo de Campos por meio de oralizações, performances, shows, apresentação de vídeos e palestras com importantes nomes da literatura contemporânea. A sétima edição – HORA H 2009 – acontece nos dias 14, 15 e 16 de agosto, na Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.
Programação Hora H
16h – Exibição de Galáxia Haroldo
Documentário que apresenta leituras, canções e vídeos em homenagem a Haroldo de Campos. Conta com a participação de Augusto de Campos, Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, Giulia Gam, entre outros. A direção é de Walter Silveira e a trilha sonora e direção musical sonora são assinadas por Cid Campos e Lívio Tragtenberg.
20h – Abertura oficial do evento
Conversa com Décio Pignatari
Décio Pignatari, criador do poema-código e semiótico, é um dos principais nomes da Poesia Concreta. Fundou, em 1952, o “Grupo Noigandres”, com Augusto de Campos e Haroldo de Campos. Participou do lançamento oficial da Poesia Concreta na “Ia Exposição Nacional de Arte Concreta”, no MAM-SP e no saguão do MEC-RJ. Publicou, em 1958, o Plano-Piloto para Poesia Concreta, em coautoria com Augusto de Campos e Haroldo de Campos, em Noigandres n.4. Nas décadas seguintes, traduziu várias obras em francês, inglês e russo. Foi um dos criadores da editora e da revista Invenção, lançada em 1962 como veículo da Poesia Concreta. Em 1964, lançou o Manifesto do Poema-Código ou Semiótico, com Luiz Angelo Pinto. Foi membro-fundador da Associação Internacional de Semiótica, em Paris, em 1969. Nas décadas de 1980 e 1990, colaborou em diversos periódicos, entre os quais a Folha de S.Paulo, e foi professor de Semiótica e Comunicação da FAU-USP. Publicou vários livros de ensaios, entre eles, Cultura Pós-Nacionalista (1998). Sua obra poética inclui os livros Carrossel (1950), Exercício Findo (1958), Poesia pois é Poesia (1977), Poesia pois é Poesia, 1950/1975, e Poetc, 1976/1986 (1986). Em 2009, publicou Bili com Limão Verde na Mão, pela Cosac Naify.
22h – Recital “Antologia Sincrônica”
Uma série de oralizações – a serem realizadas por Giulia Gam, Frederico Barbosa, Horácio Costa, Ivan de Campos, Marcelo Tápia, João Bandeira e Omar Khouri – de poemas de diversos autores que, sabidamente, seriam parte integrante da Antologia Sincrônica da Língua Portuguesa, obra apenas esboçada por Haroldo de Campos.
Sábado, 15 de agosto
16h – Conversa com Carlos Ávila
Carlos Ávila nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1955; é poeta e jornalista. Publicou os livros de poemas: Aqui & Agora (Edições Dubolso, 1981), Sinal de Menos (Tipografia do Fundo de Ouro Preto, 1989) e Bissexto Sentido (Perspectiva, 1999), e o livro de ensaios Poesia Pensada (7Letras, 2004), além de duas plaquetes: LOA – aos pequenos lábios (Edições Civilização Arcaica, 1999) e Obstáculos (Memória Gráfica, 2004). Está presente em diversas antologias no Brasil e no exterior, entre elas, Nothing the sun could not explain (20 Contemporary Brazilian Poets), publicada nos Estados Unidos, e Brésil: nouvelles générations, publicada pela revista francesa Action Poétique.
18h – Conversa com Luiz Costa Lima
Professor do Instituto de Letras da UERJ e do Departamento de História da PUC-RJ. Escreveu mais de vinte livros dedicados à teoria e à crítica literária. Em 2007, foi agraciado com o prêmio Jabuti por História. Ficção. Literatura (Companhia das Letras, 2006). Seu mais recente trabalho é Controle do Imaginário & a Afirmação do Romance (Companhia das Letras, 2009), no qual analisa obras como Dom Quixote, Moll Flanders e Tristam Shandy.
20h – Lançamento e recital do livro Entremilênios, de Haroldo de Campos
O recital será centrado em poemas do livro Entremilênios e contará com a presença de Giulia Gam, Frederico Barbosa, Horácio Costa, Ivan de Campos, Marcelo Tápia, João Bandeira, Donny Correia, Lúcio Agra, Omar Khouri.
22h – Show de Arrigo Barnabé
Espetáculo de Arrigo Barnabé, acompanhado por Paulo Braga (teclados) e Sérgio Espíndola (violão e voz). O show Caixa de Ódio é baseado em repertório de Lupicínio Rodrigues e inclui temas como “Jaguadarte”, parceria com Augusto de Campos.
Domingo, 16 de agosto
14h – Conversa com Marcelo Tápia
“Haroldo de Campos, transcriador”
A palestra abordará a teoria da tradução poética desenvolvida por Haroldo de Campos, seus fundamentos e referências, e utilizará exemplos de sua obra tradutória para identificação de procedimentos característicos de sua proposta para transcriação de poesia.
16h – Conversa com Lívio Tragtenberg
“Tecnologia musical, pra quê?”
A palestra tratará, por meio de exemplos em imagens e sons, de novas situações, estratégias e formatos de criação, execução e produção sonora e musical no ambiente multimídia e digital. As diferentes tecnologias são abordadas com exemplos ao vivo e discutidas com a participação do público. Um workshop que busca também a reflexão crítica com relação ao ambiente digital de hoje.
18h – Conversa com Lúcio Agra
“I’m not book nº 3.0”
Palestra performática, em que Lúcio Agra apresenta poemas e leituras por meio de recursos de som e imagem extraídos de antigos notebooks.
20h – Show de Cid Campos
“Poesia é risco no lago da palavra”
Convidados especiais: Alberto Marsicano (sitar) e Edvaldo Santana (violão e voz)
No repertório do espetáculo, músicas de autoria de Cid Campos e parcerias com os poetas Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Ronaldo Azeredo, Arnaldo Antunes, Lenora de Barros, Walter Silveira e outros. Trata-se de um mix de seus três CDs: Poesia é Risco, em parceria com Augusto de Campos, No Olho do Lago e Fala da Palavra. Entre as músicas, estão: “Crisantempo” (Cid Campos/Haroldo de Campos), “Máximo Fim” (Cid Campos/Arnaldo Antunes) e “O Verme e a Estrela” (Cid Campos/Pedro Kilkerry). Como convidados especiais, Edvaldo Santana e Alberto Marsicano, que apresentarão músicas de seus repertórios. O espetáculo conta também com projeções em DVD das animações de poemas criadas por Augusto de Campos, Walter Silveira e Sérgio Zeigler, com intervenções ao vivo e criações visuais de Marília Rubio e Sala 28.
Cid Campos: voz, violão midi, computer; Felipe Ávila: violão, guitarra; Rogê: baixo; Gustavo Souza: bateria e percussão.
Data da temporada: De 14/08/09 a 16/08/09
Livro Objeto
PROGRAMA:
As possibilidades formais que se entreabrem a partir desta investigação desenham um arco extenso de experimentações:
1. conjugar o conhecimento artesanal aos processos industriais;
2. potencializar a mixagem de várias linguagens e modalidades de registros visuais (fotografia, xerox, desenho, gravura, procedimentos gráficos) e literários (poesia visual, textos autorais);
3. pesquisar estruturas narrativas dadas pelos entrelaçamentos inusitados entre a palavra e a imagem.
NÚMERO DE ENCONTROS: 12
CARGA HORÁRIA TOTAL: 36 horas
O avesso da véspera
Insônia
(arnaldo antunes)
meia noite e meia
uma pedra range
uma porta late
um cachorro longe
o motor de um carro
no portão de casa
bate o vento passa
na janela inteira
meia lua cheia
na montanha imóvel
que me olha imensa
fora do que penso
no meio da sala
meu sapato encalha
nos pés da cadeira
um som que não pára
no silêncio claro
do vidro uma abelha
zumbe em minha telha
chove minha cara
velha agora espelha
na poça uma estrela
treme e atravessa
o avesso da véspera
desamanhece
e eu desadormeço
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Pescando meus pertences...
Descrição: Malone morre - foi escrito em Paris durante os anos de 1947-48, em plena atmosfera do pós-guerra. Desde então, tem sido considerado pela melhor crítica como um dos romances mais avançados do século XX. Nele, Beckett leva suas experimentações formais a um nível de radicalidade máximo. Um livro tão denso e tão inventivo que só poderia ser traduzido por um grande poeta, como foi Paulo Leminski, que aqui soube reinventar a linguagem agonizante de Beckett.
O espírito da coisa, da Hilda, a Hilst.
O que me atrai não é a faixa-livre, me atrai o espírito indômito da Hilda, aquela uma, aquela toda, a soberba Hilst.
Hilda Hilst, não era mulher de meia-fala, de meio-tom, de meia-imagem. Absolutamente à vontade entre as letras, apoderava-se selvagemente de todas as idéias que lhe brotassem na superfície do real, do místico, do sagrado, das profundezas da alma.
Quem afunda em seu poço fundo, não morre. E de lá, vê o mundo de cá, com muito mais intensidade, com muito mais altivez e soberbice. Absolutamente incapaz, de não sentir, de não ser, de não desejar em si, luminosidades abissais.
Hilda Hilst, o espírito da coisa.
Dez Chamamentos Ao Amigo
de Hilda Hilst
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)
[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]
Um livro, dentro do livro.
Na geometria do amor, os triângulos tendem a ser escalenos: sempre há um lado mais forte e outro mais fraco. Em O Gato Diz Adeus, quarto romance do gaúcho Michel Laub, a equação se aplica, mas os lados mudam de tamanho à medida que um sombrio ménage à trois evolui por ângulos inesperados. A história é contada em forma de diário, com os personagens dando seus depoimentos, um atrás do outro, como se o livro fosse também o roteiro de um documentário íntimo, ou o "tabuleiro" de um jogo ou exercício literário, em que a ficção disputa espaço com a metalinguagem.
Aos 40 anos, Sérgio é um escritor semifracassado, amargo em relação ao único êxito — um livro de estreia resenhado por meia dúzia de jornais e revistas, cuja edição durou meia dúzia de anos e foi parar em meia dúzia de sebos. Professor de letras, é casado com Márcia, atriz, dez anos mais nova. Obcecado por histórias em que o marido oferece a esposa a outros homens — histórias que lê em revistas pornográficas —, Sérgio inicia um jogo cruel de (in)fidelidade, levando Márcia a casas de swing e, depois, incentivando-a a seduzir seu aluno e melhor amigo, Roberto. A história, simples a princípio, converte-se num quebra-cabeça que vai se montando na cabeça do leitor. Trechos de reportagens de jornal se interpõem aqui e ali, deixando a sensação de que algo terrível se passou entre os três.
OUTRAS VOZES
Numa virada da trama, surge Andreia, aluna de Sérgio. Ela lê a mesma novela que o leitor tem nas mãos. E tem a sensação de que é um recado, um alerta que lhe é especialmente dirigido, por razões que só saberemos no final. Assim, O Gato Diz Adeus se constrói como um livro-dentro-do-livro, com tudo o que isso tem de bom (a engenhosidade) e de ruim (o esquematismo). Nos melhores momentos, o livro atinge o desejado efeito de levar o leitor a envolver-se com os destinos cruzados de Sérgio, Márcia e Roberto.
Laub relaciona algumas obras que podem (ou não) tê-lo influenciado na feitura dessa boa novela. Dentre elas, A Chave, do escritor japonês Junichiro Tanizaki, parece mesmo abrir uma porta, com seu enredo de diários escondidos e a arquitetura planejada de traições e jogos eróticos.
Não deixa de ser curioso um escritor que, em busca de sua voz própria, revele tão claramente as vozes que podem tê-lo guiado. É um gesto que parece misturar autoironia, honestidade intelectual e desejo de legitimidade. E acaba reforçando a impressão de que O Gato Diz Adeus talvez sofra um pouco do mal de Montano, aquela "doença" diagnosticada pelo espanhol Vila-Matas, cujo sintoma é certa palidez das emoções e a insistente rendição ao exercício estritamente literário.
O Gato Diz Adeus, de Michel Laub. Companhia das Letras, 80 págs.
sábado, 8 de agosto de 2009
Hilda mordendo minha língua
A homenagem, só agora realizada, começou a ser idealizada por Rosaly, que iniciou as pesquisas em 1998. O projeto recebeu apoio de vários profissionais como, José Luiz Mora Fuentes, escritor, parceiro pessoal e profissional da escritora e Presidente do Instituto Hilda Hilst; do dramaturgo José Antônio de Souza, do roteirista e editor de vídeo Gaspar Guimarães e do diretor Ruy Cortez.
Se o público acha que encontrará uma biografia, engana-se. Foi a partir de seus próprios escritos e entrevistas concedidas, que tornou-se possível realizar a teatralidade de sua voz autoral; a voz de poeta, de pensadora, de contadora de histórias. É um perfil literário e pessoal da escritora que proporcionará ao espectador um profundo mergulho nas inquietações da alma humana.
A encenação.
Em um cenário único, situado por Cortez, a peça será realizada em um ambiente onde há livros, plantas, cachorros, a escrivaninha com a máquina de escrever, os rádios – em que Hilda tentava captar, na estática, vozes do além. A idéia é explorar o universo literário e pessoal da escritora com beleza e simplicidade, com toda sua complexidade e profundidade por meio da comunicação teatral.
Onde:
Caixa Cultural apresenta “Hilda Hilst O Espírito da Coisa”.