sábado, 15 de agosto de 2009

Dimensões

Foto Arquivo Pessoal


Cumpleaños
(Christian Rocha)

Espera-se que aconteça tudo no dia do seu aniversário, menos nada. Quando nada de fato acontece, e, mais ainda, começa a chover aquela chuva chata, tudo parece meio mórbido.

Morbidez é, no fim das contas, o que o aniversário mais lhe reserva. Só no aniversário podemos ter uma certeza especial. Pode-se saber com exatidão quantas e quais pessoas lembram de você. Neste sentido, o aniversário elimina quase todas as paixões e idealizações em torno de amigos e companheiros.

O aniversário nos reserva o desejo pueril de, ao menos uma vez num ano, ser o centro do mundo. Não somos, nem nunca seremos, claro. Mas é no aniversário em que sentimos raiva do balconista que não nos deu atendimento preferencial.

Aos egocêntricos, pouco muda no aniversário. Aos que não são egocêntricos, este é o dia para o ser.

Envelhecemos a cada dia. Foge-me o mistério e a razão da celebração de períodos inteiros de tempo: aniversários, bodas, jubileus etc. Se fizéssemos uma divagação dimensional, concluiríamos que jamais fazemos aniversário, porque, pela matemática dos limites, é impossível medir com precisão um espaço de tempo equivalente a um ano. Isso sem falar nos tantos calendários existentes... O Ocidente "dita" inclusive o momento em que cada um deve ficar mais velho.

Envelhecer é amadurecer. Pra pior ou pra melhor. Não sei até que ponto é opção nossa um ou outro caminho. Crescemos, e temos pouca condição de escolher caminhos.

Talvez seja a única coisa boa de um aniversário. Como forte marco dos anos que se passaram, nos força a olhar pra trás, a rever nossos medos e erros e, assim, crescer a cada data querida.

Um comentário:

La Sorcière disse...

O texto é muito bom e verdadeiro :)