MALONE: "Depressa, depressa, meus pertences. Calma, calma, duas vezes, eu tenho tempo, muito tempo, como sempre. Meu lápis, meus dois lápis, aquele do qual só resta o grafite nos meus dedos enormes e o outro, comprido e redondo, na cama, em algum lugar, o que eu tinha de reserva, não vou procurá-lo, sei que está aí em algum lugar, se eu tiver tempo, depois de terminar, vou procurá-lo, se não achar, não vou tê-lo, farei a correção com o outro, se é que sobra alguma coisa dele (...). Continuo de memória. Está totalmente escuro. Mal enxergo a janela. A noite deve estar passando por ela, de novo. Mesmo que eu tivesse tempo necessário para pescar meus pertences e puxá-los até a cama, todos de uma só vez ou um a um, grudados uns nos outros como acontece com as coisas abandonadas, inútil, não conseguiria enxergar nada (...). "
Descrição: Malone morre - foi escrito em Paris durante os anos de 1947-48, em plena atmosfera do pós-guerra. Desde então, tem sido considerado pela melhor crítica como um dos romances mais avançados do século XX. Nele, Beckett leva suas experimentações formais a um nível de radicalidade máximo. Um livro tão denso e tão inventivo que só poderia ser traduzido por um grande poeta, como foi Paulo Leminski, que aqui soube reinventar a linguagem agonizante de Beckett.
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