quinta-feira, 13 de agosto de 2009

exposição-experiência

Imagem: Zé Celso tratado por Sônia Alves Dias

Como será ser Zé Celso?
por Marcelo Drummond (curador)

Num primeiro momento, o Zé quis o Antônio Araújo, que não pôde. Depois, falou com o Gringo Cardia, que também não pôde. Como sou o que está ali sempre, a ideia de um curador para esta exposição acabou em mim. Mas, sozinho, nunca. Como sou um sujeito que não tem do que viver, aceitei o desafio, acatando o desejo do Zé Celso de que eu assumisse a missão com a Elaine Cesar, que tem a competência de artista plástica multimídia.

Elaine é, até hoje, a artista que melhor soube traduzir para o vídeo-projeção-cenário o desejo do Zé em suas peças no terreiro eletrônico do Teatro Oficina. Tínhamos uma viagem à Croácia, onde Elaine dirigiria o vídeo do Banquete de Platão, apresentado em Zagreb com atores de lá. Elaine desistiu de ir para mergulhar cada vez mais fundo no material sobre o Zé, inventando suportes para colocá-los na exposição.

E eu? Afinal, sou sim ator, diretor e produtor de teatro. Mas conheço a vida e o artista Zé Celso muito pelo que ele me contou nesses 23 anos de convívio quase que em tempo integral. Sei também do que conheci no arquivo do Teatro Oficina, que estava ao meu lado ainda no final dos anos 1980, quando cheguei em São Paulo e morávamos na Rua Japurá. Conheço, também, pelo que vivi como ator e produtor do Oficina durante os anos 1980 e 1990, sendo parte de seu arquivo vivo. Mas acho que também conheço o Zé por ser, dentro do grupo, aquele que nunca concorda imediatamente com ele.

Esta exposição nasceu de um projeto de livro-exposição que chamamos de Pã-D’oro, concebido no fim dos anos 1980 e nunca completado. Tratava-se da ideia de um livro feito com materiais de todo tipo e que poderiam servir para cenário. Somava-se a isso uma vontade nossa de fazer um documentário sobre o Oficina.

Mas, quando começamos a falar sobre esta exposição, de fato, nos veio a figura de Hélio Oiticica. O que nos chamava a atenção nesta relação era a noção de ambientes e uma vontade de que cada espectador pudesse vestir o Zé Celso como um parangolé. Penetrar. Ambientes capazes de provocar nas pessoas que entrassem no espaço do Itaú Cultural o que cada época vivida provocou no artista. Ambientes como suporte da vida-obra do Zé Celso, a sua maneira de se relacionar com cada momento vivido em determinado espaço de tempo, e seu contexto sócio-político-econômico-e-qualquer-outra-coisa-ciência. Os estímulos dessas coisas e situações sobre o indivíduo-artista e o resultado disso no artista de teatro, porque o teatro é diferente, é arte coletiva.

A nossa intenção-tentativa com essa colagem de coisas inéditas da vida desse maravilhoso advogado-artista-diretor-de-teatro&cinema-ator-músico-cantor-compositor-e-mais-algumas-coisas, é que cada um viva essa exposição-experiência, seja um pouco o artista, seja um pouco Zé Celso.


Como será ser Zé Celso?
por Elaine Cesar (curadora)

Aceitei o convite do Zé. Tinha acabado de finalizar o Rito − uma festa de 50 anos do Oficina. Para ela, havia criado um HD que chamei de Ethernidade. Reuni em tempo recorde muita imagem: Isaurinha, Kusnet, Renato Borghi, Henricão, Célia Helena, Chet Baker, Getúlio, Jango, Revolução, Oswald de Andrade, Cacilda, Noilton Nunes, Celso Lucas, Pérola Negra, Sartre, Paris, Cuba, Araraquara. Imagens todas. Formei uma equipe que trabalhou num mergulho louco dentro da história desses 50 anos. Dessa experiência nasceu também o material para a exposição.

O Zé para mim é combustível. É pura luz. E, ao mesmo tempo, é um homem cruel. O Marcelo por perto faz tudo ficar mais fácil. Meu amor e admiração por ele são enormes. Fazemos juntos parte de um time que atua em silêncio. Com ele, procurei entrar neste labyrinto sem largar o tal ‘”fio de Ariadne”, sobre o qual o Zé tanto fala. Para trabalhar conosco, convidamos uma equipe já acostumada a caminhar nesse labyrinto. Todos já experientes nessa arte Zé Celso.

Meu universo é a imagem, o vídeo. É cinema. Aqui, misturamos tudo. Uma instalação teatral? Ou uma videoexposição? Cenários, monitores, projetores. O Zé é isso, multimídia total. Sempre à frente de tudo. A exposição traz uma oportunidade de explorar essas tecnologias. Minha praia. Era para ser um espaço de um diretor de teatro. Virou o terreiro eletrônico. Puro Zé. E, para ele, uma admiração monstro, caos.

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