segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O espírito da coisa, da Hilda, a Hilst.

Chego cedo à Caixa Cultural. Pego ingresso sem fila e sem dinheiro. É grátis e vale cada centavo não gasto pelo tempo que se espera.

O que me atrai não é a faixa-livre, me atrai o espírito indômito da Hilda, aquela uma, aquela toda, a soberba Hilst.

Hilda Hilst, não era mulher de meia-fala, de meio-tom, de meia-imagem. Absolutamente à vontade entre as letras, apoderava-se selvagemente de todas as idéias que lhe brotassem na superfície do real, do místico, do sagrado, das profundezas da alma.

Com ela ou você apanha de primeira ou se encadeia na teia que ela tece e quanto mais você avança, mais você se embola, você se assusta, você se espanta, você se cala.
Na escrita indomável, há uma genialidade que ultrapassa a mera constatação de texto bom/texto ruim. Em suas metáforas, em suas verticalidades, um abismo se anuncia. E você se deixa cair, ou com medo, foge para não mais voltar.
Quem afunda em seu poço fundo, não morre. E de lá, vê o mundo de cá, com muito mais intensidade, com muito mais altivez e soberbice. Absolutamente incapaz, de não sentir, de não ser, de não desejar em si, luminosidades abissais.

Hilda Hilst, o espírito da coisa.


Dez Chamamentos Ao Amigo
de Hilda Hilst

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)

[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá, obrigada pela visita, blog muitíssimo interessante, beijo!

Anônimo disse...

cheguei pelo blog do Marcelino Freire, há uns dias.

gostei dos posts. resolvi comentar.
boas dicas e bons poemas!

abraço