foto de arquivo pessoal
Recebi um email, do ótimo LENDO.ORG, e me dispus a responder os hábitos do leitor...
Os meus são:
Meu primeiro gesto ao pegar um livro antigo, é abrir na última página e cheirar o tempo que ali adormece. Tenho a sensação de que passo horas cheirando o livro e que ninguém está vendo.
Quando eu não conheço o livro, eu o abro aleatóriamente em busca de uma palavra que me fisgue, uma frase que me envolva.
Sebo é um prazer, não pelo preço, mas pelas páginas amareladas puídas e cheias de marcas de outras vidas.
Eu gosto de emprestar livros, mas morro de medo de não me devolverem (e se não me devolvem eu passo anos pensando no livro perdido).
Eu tenho VÁRIAS edições do mesmo livro.
Alguns eu gosto mais, outros eu gosto menos, mas não consigo me desfazer de nenhum.
Eu não me obrigo a ler, leio quando quero, o que quero e do jeito que quero (às vezes, lia até debaixo do chuveiro, mas com este hábito parei...).
Eu tenho mais de mil livros, mas hoje são poucos que podem dormir comigo (meu marido é alérgico! )
Tenho hábitos estranhos de organização. Às vezes, organizo por cores, às vezes por autores, às vezes por ordem desordenada que só eu entendo...
Não tomo café, nem lendo.
Às vezes, eu leio um pedaço de livro , a começar pelo meio, antes de ler o livro inteiro.
Não ando sem livro, mesmo que seja um pequeno. Me aflige a idéia de não ter nada para fazer e nenhum livro pra ler.
Eu risco meus livros sem dó, mas com muito cuidado (mesmo os mais caros , pois para mim não existe livro intocável).
Alguns amigos me estranham, pois amo tanto meus livros que sou capaz de arrancar uma página que eu considero especial e dar para alguém que eu acho que não leu, para que esta pessoa descubra que precisa ler aquela obra de qualquer maneira...
Já fui capaz de sentar numa biblioteca com caneta e papel na mão e copiar toda a página (que outrora eu tinha arrancado) e fazer um trabalho artesanal de colagem para deixar meu livro inteiro de novo.
Eu não compro livro só porque está na mídia ou porque é moda ler determinado autor.
Eu compro livro que me chama e que me espanta na prateleira.
Gosto de deixar, entre as páginas dos meus livros antigos, alguma coisa perdida pra achar depois de muitos anos (pode ser uma foto, um bilhete para mim mesma, um ingresso de cinema, qualquer coisa que possa me emocionar sem que eu me lembre...)
Tenho mania de ler até bula de remédio, rótulos de xampoo, contra-capas, revistas, jornais, panfletos, homens placas e até revistas de arquitetura.
Eu não me importo em saber o final do livro, importa-me o desenrolar das letras.
Não consigo não ler.
Gosto de ficar em filas, para ter mais tempo pra ler.
Não fico enjoada de ler em pé, andando, de carro, de avião ou deitada no chão.
Além de ler os jornais, eu recorto tudo que me interessa pra reler depois quando a história já não for a mesma.
Eu entro numa livraria e me esqueço da vida.
Acho um charme, tomar um chocolate quente enquanto leio um livro que parece não acabar nunca...
Quero ser dona de um café literário que se chamará "Beata de Bião". Dentro dele haverá um portão de ferro, tipo o que tinha na casa da minha avó, no estilo rococó (que fazia barulho de nhenhenhém e tudo mais). Os visitantes poderão caminhar pelos cantos e recantos onde haverão livros espalhados que poderão ser folheados e emprestados como se fosse uma biblioteca pública. Nele, todos os livros estarão a venda (tanto os novos quanto os usados). Eu, poderei ficar horas falando sobre um texto, um poema, uma sensação inesquecível de leitura, como tagarela que sou. Nele, haverá um velha gorda, que fará bolinhos de chuva e que servirá chá de cidreira e outras gostosuras . Haverá um balcão, tipo boteco, pra que alguns possam tomar um gole de conhaque "que bota a gente comovido como diabo" e dali recitar um trecho que arranque uma dor do peito. As pessoas não precisarão responder a pergunta "posso te ajudar?". Sem pressa poderão escolher: emprestar , comprar ou simplesmente ler. Lá, haverá também algumas obras de arte (que eu mesma farei) ilustrando livros especiais (tipo o poema CASO DO VESTIDO do Carlos Drummond). Tenho vontade de fazer um vestido de voil e escrever todo o poema por entre tecidos e rasguras, em tinta vermelha e com tanta paixão que seja impossível não querer ler... E se alguém passar e perguntar "Nossa mãe, o que é aquele vestido, naquele prego?" eu responderei "Minhas filhas, é o vestido de uma dona que passou..."
Eu penso em fazer isto com tantos outros poemas, e tantos outros contos e tantos outros textos que acho que dinheiro mesmo, não passará por ali, será um café literário só de prazer...
Se me vicio num escritor, quero comprar tudo dele pra me apaixonar inteira, ou não.
Quando conheço uma biblioteca nova, tenho a mania de querer ler tudo de uma prateleira toda.
Alguns livros são para ser lidos com lágrimas nos olhos, com a dor de uma perda , com um coração que merece ser arrancado do peito de tanta dor...
Não suporto marcadores de livros... nunca lembro onde estão e geralmente não estão na página que parei.
Como marcadores, uso coisas estranhas. Tipo, um flyer , um cartão postal ou nada... e sempre sei onde parei.
Eu gosto de livro de cartas, embora me sinta um pouco atrevida por ler correspondências alheias.
Eu não suporto gente que dobra as páginas dos livros ou que deixe marcas de café ou de mão suja dentro deles.
Eu adoro quem grifa livros, porque tenho a sensação que estamos na mesma sintonia e paixão pelas letras.
Também tenho a estranha sensação de ler algumas páginas inteiras e não ter lido nada... não sei se porque a história está chata ou porque se eu estava em outro lugar naquele instante.
Já dormi lendo, hoje não leio mais para dormir.
Não tenho rituais de leitura, embora na imaginação, haja sempre um lugar especial onde eu gostaria de estar para ler determinada obra.
Existem livros que só podem ser lidos ao lado de alguém, bem baixinho com olho no olho... meteóricamente.
Já fiz um desenho de um barco no quintal , cheio de livros no convés, onde eu pudesse deitar e ler sem medo da chuva ou do mar bravio.
Não discrimino literatura, mas algumas coisas... "não li e não gostei!"
Às vezes, compro o livro pelo autor, pois não quero perder nenhum instante dele.
Tenho a sensação de que morrerei com um livro nas mãos...
Já chorei por ter que escolher entre livros ou alguém.
Hoje acho que estou acima de escolhas e que em algum lugar, sempre haverá um livro meu ou que ainda me pertencerá.
Livro de papel , para mim, é eterno.
Meus livros, serão minha única herança, para os que depois de mim, virão.
Quem é o próximo a compartilhar seus hábitos de leitor?