domingo, 27 de abril de 2008
Dois Palitos e um pé de trevo com 4 folhas
sexta-feira, 25 de abril de 2008
Ciranda de Bailarina
ISADORÁVEL
Dança a vida. Liberta de meias e sapatilhas. Dança solo. Dança em fundo de céu azul, pequenas nuvens. Improvisa. Todo gestual corporal é arte pura. Os movimentos de Isadora eram inspirados na natureza. Toda ela era mar, era vento e tempestade. Duncan bailarina. Caixa de música antiga, moderna.
No olhar cetíneo, aveludado
Pecadora
Tinha no olhar cetíneo, aveludado,
A chama cruel que arrasta os corações,
Os seios rijos eram dois brasões
Onde fulgia o simbolo do Pecado.
Bela, divina, o porte emoldurado
No mármore sublime dos contornos,
Os seios brancos, palpitantes, mornos,
Dançavam-lhe no colo perfumado.
No entanto, esta mulher de grã beleza,
Moldada pela mão da Natureza,
Tornou-se a pecadora vil. Do fado,
Do destino fatal, presa, morria
Uma noite entre as vascas da agonia
Tendo no corpo o verme do pecado!
Augusto dos Anjos
Auto Retrato
A fome do primeiro grito
Se te pareço noturna e imperfeita
Escapar de sua casa que é o rio
Olha-me de novo.
Hilda Hilst
Olhos fitos em rútila quimera
Eu
Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.
Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim... e não me via!
Andava a procurar-me -Pobre louca!-
E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma!
Florbela Espanca
Imagens da Memória
"CAMA DE CASAL, EXIJO NAS PORTARIAS DOS HOTÉIS,
Acordo
( . . . )
Desperto
(de olhos bem fechados)
Aberta
(de coração pidonho)
Sedenta
(de boca dormida)
Re(flex)o
De todos os sentidos
(sexo)
(re-action
-coupling)
Na luz refletida; revérbero.
Adormentada, contorno
(e)novelo(-me)
A noite, adormece
(en)rodeia(-me)
O tempo ...
Memoriza-{ Me
Em } morins
Whisky Uruguaio
Recomendo a capa.
Muito boa, adorei, recorto pra mim se achar nos jornais ou revistas. Ficou de uma beleza rara. Gostei das cores, das caras e das letras. Gostei de tudo.
A atriz, vestida de Marta.
É boa. Poderia ser melhor aproveitada. Pelo pouco que foi, foi bastante. Segurou o filme todo. Fez ponta de primeira. Saiu bem no retrato.
O ator, dono de Jacobo.
É viúvo. Solitário. Sujo. Sem muitas palavras, sem muito nada. No fundo nem foi tão ruim. Pensando melhor, não falou porque esta era a fala. Ausência delas, para bem dizer a verdade.
O ator-irmão, metido a cantor.
de bermudas, de apostas escuras, de desdizeres,
numa película limbática e erma.
É pra ti ver. Depois me dizer:
WHISKY!
Aí vai meu coração
Foi um triângulo. A obra da Tarsila escrita era acanhada. De poucas palavras deixadas, vê-se cores carregadas. Na desigualdade da vida, naquele tempos (meados de 30) heranças e paixões eram casos sérios e os casos amorosos não podiam, nem deveriam, ser revelados.
Tudo foi trancado à 7 chaves. Mas, a importância de Tarsila na vida de Luis Martins não foi mero acaso. Por muitos anos, mantiveram segredo (ou quase, tendo em vista que muitos sabiam desta gangorra solitária que balançava o coração tarsiliano). Até que pós-morte (como sempre, com o que se guarda por não se ter coragem de rasgar coisas do coração selvagem) a filha de Luis e Anna Maria descobriu que o pai mantivera por 18 anos um caso com uma outra mulher. Sim, era ela, a Tarsila das tantas artes: "Abaporu", 1928; "O Lago", 1928; "O Ovo" ou "Urutu", 1928; "A Lua",1928; "Cartão Postal", 1929 e "Antropofagia", 1929.
Aí vai meu coração, não é um livro de fofocas. Ao entrar no universo alheio, de paixões e dores transcritas em cartas antigas, sente-se um aperto no peito por cada página que se vira. Dói um pouco, porque no fundo, sempre imagina-se finais felizes. Descobrimos porém, que a vida não é tão colorida quanto merecia ser e a máxima modernista é mais verdadeira que nunca "só a antropofagia nos une" desde sempre, para sempre.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Tostare com Lavoura à tarde
Enquanto isto, em minha tarde ao léu releio Raduan Nassar, Lavoura Arcaica: “Eu disse aos berros, me agitando, e vendo em meu irmão surpreso, susto, medo e muito branco na sua cara, eu, que podia ainda gritar ‘tape os ouvidos, enfie os dedos no buraco’, eu, deslocado de um canto para o outro, eu de repente me pus de joelhos, me sentando sobre os calcanhares, e vendo sua mão trêmula, ele próprio decidindo encher de novo nossos copos, eu, tomado de dubiedades, já não sabia se devia esmurrá-lo no rosto ou beijá-lo nas faces;” (p. 47)
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Jorge da Capadócia
Quando eu conheci meu Pai, ao nascer, ele já era protegido de São Jorge. Tinha na carteira uma oração antiga, escrita à mão num papel já puído onde dizia que armas de fogo não o alcançariam e com as vestes de São Jorge ele andaria.
Era uma oração bonita que nos fazia acreditar que proteção maior não havia, e que a vida do meu Pai nas mãos de São Jorge sempre estaria.
Estávamos certos. Na proteção de São Jorge meu Pai sempre viveu, e no dia da sua morte, a lua do céu desceu. Que não creiam os céticos, nem eu pediria, se eu não tivesse visto, nem mesmo eu acreditaria. Mas, cantando e chorando naquela madrugada fria , Jorge da Capadócia, parecia nossa salve rainha. Pude ver um dragão no céu, e tenho certeza que na lua meu pai estava, sentado no cavalo protegido por São Jorge e nos acenando que em paz ficaria.
A oração que meu Pai carregava e que nos deixou, dizia assim:
"Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.
Jesus Cristo, me proteja e me defenda com o poder de sua santa e divina graça, Virgem de Nazaré, me cubra com o seu manto sagrado e divino, protegendo-me em todas as minhas dores e aflições, e Deus, com sua divina misericórdia e grande poder, seja meu defensor contra as maldades e perseguições dos meu inimigos.
Glorioso São Jorge, em nome de Deus, estenda-me o seu escudo e as suas poderosas armas, defendendo-me com a sua força e com a sua grandeza, e que debaixo das patas de seu fiel ginete meus inimigos fiquem humildes e submissos a vós.
Assim seja com o poder de Deus, de Jesus e da falange do Divino Espírito Santo. São Jorge Rogai por Nós. "
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Blue Nude II
domingo, 13 de abril de 2008
O Carteiro e o Poeta
Gil de Sêo Loro, é escritor, mesmo sem nunca ter publicado nada. Há 18 anos recebe minhas cartas sem datas e me manda cartas manuscritas ou d-a-t-i-l-o-g-r-a-f-a-d-a-s.
Nele, falta a coragem de pegar os livros prontos, as poesias que lhe devoraram (a alma) e (os dias) [ e (foram muitas) e (foram muitos) ] e despachar tudo para o além de Monte Mor.
Enquanto ele não voa, corto minhas asas todos os meses e mando junto com casulos pelo correio.
É carente e pedinte de letras alheias, quem quiser escrever: escreva-lhe.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Domingo de Mar no Cantão
carrocel no céu. ciranda-cirondar. cantão de cabeça-para-baixo. comichão nos pés, de´m areia andar. nos cabelos, ventania. nos olhos, caleidoscópio. nas mãos pequenas, pião de grude. boca-de-peixa, a dela espelha. no mar, um montão de chuva da noite passada. na bica, água pingando-contando - pura e fria, cristalina. no canto, escondido do mundo, um mundo novo , sem fotografia. no céu, carrocel... e ela, rodopiando dentro dos olhos dele...
ciranda cirandinha vamos todos "cirondar" ...
( em são sebastião, domingo de mar no Cantão )