sábado, 27 de setembro de 2008

Soares Feitosa

Não é aqui não.

Alguém gritou da balaustrada:
— Não é aqui não!
Era, era lá.
Uma casa antiga, um batente alto, era um orquidário.

Em tudo, uma paisagem velha como soem parecer essas florestas onde as orquídeas pendem e os pássaros chegam em rota migratória.

Não procurava pássaros, nem rotas, nem migrantes, nem orquídeas; haviam-me dito: numa velha casa, e sob uma roupa breve, os cabelos esquecidos porque os espelhos não eram convocados, mesmo assim, a beleza que sempre —... eram os olhos, isto, o olhar, ali, até...

Convocara sim as testemunhas e o dedo porque — foi dito entre os soluços e os silêncios — nem saberíamos catalogá-las, de tantas, as faltas, minhas, muito mais que as naus do catálogo dos aqueus, muito mais.

Suave como o entardecer, houvera um tempo, e agora, ali, distante, a ela, eu disse [as mãos estavam frias]:.

Não vou-te levar sozinha em viagem ilha.
Lá, deserta das outras, te tomarias de ilha e tédio.

Única maldição: sozinha!.

Aqui também — ela disse — o velho à balaustrada, ele grita o tempo todo: "Não é aqui não!"—

Ilha por ilha.
Imaginas que o mandei gritar — contra ti?
Ilha...?!.

É no convívio dos espelhos, mulher,
mulheres, que te queres bendita:
o passo da graça, nem que seja
à maneira de desembrulhar teus mortos.

Haverias de te esquecer de ti
porque das outras, o Poderoso não falava a sério, acho que não:

Parirás sob o medo!
Multiplicados sejam
os sofrimentos que não são.
Verdadeiros, só o tempo-espera,
só o tempo-só.

O resto, tudo volúpia!

Volúpia maior: a invasão da pélvis, os humores — e líquido em bolsa rasgada,
uma respiração ofegante, como se todos os deuses
de tuas narinas respirassem —
aonde vais nessa fúria?

O suor do meu rosto, sim, resigno-me!
Não posso fugir sem um espelho! (Ela disse)
.
Sagrar os espelhos, entre todas as mulheres,
dia e noite,
espelhos, a tua sina.

Eu te trouxe meias pretas.
Calça-as.
Está frio, está noite.
Lá.

Agora, gostaria de saber:
a quem o velho grita?

E, se quiseres deixar avisado,
toma o giz, escreve,
deixa-o à porta da geladeira, mas
o teu, escreve-o:
— Fui eu!

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