segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Cisne Negro



Taí, gostei! Eu também sou assim, não confio em ninguém, desconfio de todos e só aprovo o que realmente acho interessante para mim !


Por André Barcinski, crítico da Folha.

Ontem, a Ilustrada publicou duas críticas do filme “Cisne Negro”, de Darren Aronofsky, que estréia hoje. Uma, do Inácio Araujo, que não gostou do filme (leia aqui). Outra, minha, que adorei (aqui).

A Ilustrada faz isso de vez em quando: contrapõe duas opiniões diferentes na mesma página. O mesmo aconteceu no lançamento de “Invictus”, de Clint Eastwood, quando as opiniões se inverteram: o Inácio curtiu, e eu não.

Acho atitudes como essas ótimas. Quanto mais gente falando de filmes, melhor.

Mas alguns leitores parecem não entender. Recebi vários e-mails estranhando a publicação de duas críticas antagônicas. “Afinal, a Folha gostou ou não do filme?” Dizia um leitor. “Em quem devo confiar, em você ou no Inácio?” perguntava outro.

Minha resposta é: não confie em ninguém. Desconfie de todos. Assista ao filme e tire suas próprias conclusões.

Outro leitor escreveu: “Eu não entendo o que é crítica de cinema... Se vocês levam mais para o pessoal ou para o técnico. Acho que é mais para o subjetivo (...) Ora, se é subjetivo, deixe que eu mesmo assista e critique o filme!”

Como eu responderia a isso?

Em primeiro lugar, acho que a crítica é subjetiva sim. E a opinião de uma pessoa sobre determinada obra depende de uma série de fatores: de sua formação, gosto pessoal, preferências estéticas, etc.

Acredito que a função do crítico é, em primeiro lugar, tentar arrebatar o leitor, tirá-lo da zona de conforto e fazê-lo refletir sobre o filme. E isso vale tanto para críticas positivas quanto negativas.

O que leva a uma questão importante: por que as pessoas parecem gostar só das críticas com as quais concordam?

Comigo sempre ocorreu o oposto: eu sempre gostei mais de ler críticas contrárias à minha opinião.

Gosto de me sentir abalado por uma opinião diferente. Acho que isso nos faz refletir por ângulos que preferimos ignorar. Você pode até não mudar de opinião, mas acho que isso vale mais do que só ler críticas que corroboram o que você pensa.

Por exemplo: eu adorava ler os textos do Paulo Francis, apesar de não concordar com quase nada do que ele escrevia. E não perco um texto do Rubens Ewald Filho, mesmo discordando de 99% de suas avaliações de filmes.

Também gosto muito de ler o Inácio escrevendo sobre o Clint Eastwood, diretor que ele adora e que eu acho supervalorizado.
A minha crítica de cinema predileta é Pauline Kael (1919-2001), da New Yorker. Tenho quase todos os livros dela, e percebo que os textos de que mais gosto são os que vão contra a minha opinião.

Outro dia revi “Nashville”, do Robert Altman, e fui ler o que Pauline tinha escrito sobre o filme. Ela tinha gostado exatamente de tudo que eu menos curtia.

E o que falar do Rex Reed, do New York Observer? O sujeito detonou um de meus filmes prediletos de 2010, “Ilha do Medo”, do Scorsese, e elegeu o insosso “O Discurso do Rei” o melhor filme do ano. Mesmo assim, adoro ler as tiraras vitriólicas e insanas do cara (só concordei com a detonada histórica que ele deu em “A Origem”, do Christopher Nolan).

Em 2005, Reed escreveu o seguinte sobre um filme sul-coreano que eu amo, “Oldboy”: “O que esperar de um país enfraquecido por kimchi, uma mistura de alho cru com repolho enterrada no chão até apodrecer e depois tirada da sepultura e servida em potes de barro vendidos como souvenir no aeroporto de Seul?”

Genial. E olha que eu não só adoro “Oldboy”, como adoro kimchi também

Fonte: http://andrebarcinski.folha.blog.uol.com.br/arch2011-01-30_2011-02-05.html

domingo, 30 de janeiro de 2011

Das volúpias


De repente, mas não tão de repente assim... a gente se descobre apegada a determinado artista. Eu já quis ser muitas coisas e bem pouca coisa eu sou, reconheço. Mas, uma bailarinda eu queria ser. Não uma qualquer. Isadora Duncan, eu seria. Assim, rasgando as formas contidas e me rasgando inteira no palco, feito vento, feito música, feito tudo...

Save Tonight




na pegada do dia...

Hai kai





Sob o mesmo teto
Dormiram as cortesãs
A lespedeza e a lua.

* * *

 Matsuo Bashô

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Contracorrente


São Paulo quando faz aniversário é uma festa. Já participei de muitas, hoje, me recolho e fico quietinha em casa, esperando o aniversário passar. É que, quem mora em São Paulo sabe, a cidade fica um caos.

Já foi o tempo que São Paulo era a terra da garoa, agora é de temporais (e neste verão os temporais foram arrasadores) ! Já foi o tempo que São Paulo era uma metrópole cinzenta, fria e indolente... hoje ela é repleta de cores, é elétrica, está on-line e conectada 24 horas!

São Paulo é intrépida e é formosa, viu ?

Eu adoro esta cidade. Adoro as comodidades, adoro a cultura que exala de todos os cantos (sem preconceitos ou restrições de zonas distritais) , adoro as comidas (deliciosas e com qualidade de primeiro mundo), adoro a mistura de povos, adoro os bairros (tão distantes que mais parecem outras cidades!), adoro ter tudo na hora que quero, como quero, quando quero. 

São Paulo é assim, não fecha nunca... 


Quando Chove 
(do Livro Contracorrente - Frederico Barbosa)


Em São Paulo, quando chove,
chovem carros. Tudo pára
pontes, viadutos, Marginais. E a água retoma
seu curso original
Anhangabaú, Sumaré, Pacaembu. Ruas onde eram rios,
ex-rios, caminhos de rato, canais.
Rios sobre ruas,
Elevado, Via Dutra, Radial. Em São Paulo, quando chove,
chovem apocalipses
de quintal.


domingo, 23 de janeiro de 2011

Entre les murs


Podia ser apenas mais um filme sobre alunos desajustados numa escola problemática... mas, não é. É muito bom ! Os alunos não são atores e o ator principal convence, num ritmo ágil e inteligente.


Sinopse

François Marin (François Bégaudeau) trabalha como professor de língua francesa em uma escola de ensino médio, localizada na periferia de Paris. Ele e seus colegas de ensino buscam apoio mútuo na difícil tarefa de fazer com que os alunos aprendam algo ao longo do ano letivo. 


Leia mais no Cinemascópio

Trocando em Miúdos



Trocando em Miúdos
Chico Buarque
Composição: Chico Buarque & Francis Hime


Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim!
O resto é seu


Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças


Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter


Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado


Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu


Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Na antiga, Sobrado


Rodas de Leitura Compartilhada
Arte de Ouvir e Contar Histórias


Leitura compartilhada é a tradição de ler em voz alta e conversar em torno de um livro escolhido pelo grupo. Com essa proposta, pretende-se criar um espaço de encontro, onde o livro é o fio condutor, visando resgatar a narração e o compartilhar.


Mediação da psicanalista Marcela C. Schild Vieira, que desenvolve a proposta das Rodas de Leitura Compartilhada desde 2005.

Valor: R$20 por encontro.
SEGUNDAS, das 18h30 às 20h
Livraria da Vila
Av. Moema 493
Tel. 11 5052 3540

Patrimônio


Fonte: Adoro Cinema - Assessoria


A pressão da classe artística e de cinéfilos paulistanos contra o fechamento do Cine Belas Artes, em São Paulo, começa a apresentar os primeiros resultados.

Em reunião ordinária realizada na tarde da últiuma terça-feira, 18 de janeiro, o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) decidiu pela abertura de processo de tombamento da sala de cinema.

“Estou muito feliz com a decisão do Conpresp. A mobilização espontânea da sociedade foi incrível e inédita. Não lembro de mobilização por tema relacionado à cultura antes na cidade com tal dimensão. E a resposta da prefeitura foi imediata tomando a única decisão que daria tempo de manter a esperança do Belas Artes continuar existindo: a abertura do estudo de tombamento. Agradeço o apoio de todos e estamos otimistas que todo esse esforço será bem sucedido. O Belas Artes é um patrimônio cultural e afetivo da cidade e de seus moradores”, destacou André Sturm, proprietário do cinema, em comunicado à imprensa.

Nos próximos três meses serão realizados uma série de estudos técnicos sobre o Belas Artes. Os resultados dos estudos servirão como base para a decisão final do Conpresp acerca do tombamento.

O Cine Belas Artes é localizado na rua da Consolação, 2423, São Paulo.

sábado, 15 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sem medo de rimas


devorando Cruz e Sousa

DANÇA DO VENTRE
Cruz e Sousa


Torva, febril, torcicolosamente,
numa espiral de elétricos volteios,
na cabeça, nos olhos e nos seios
fluíam-lhe os venenos da serpente.


Ah! que agonia tenebrosa e ardente!
que convulsões, que lúbricos anseios,
quanta volúpia e quantos bamboleios,
que brusco e horrível sensualismo quente.


O ventre, em pinchos, empinava todo
como réptil abjecto sobre o lodo,
espolinhando e retorcido em fúria.


Era a dança macabra e multiforme
de um verme estranho, colossal, enorme,
do demônio sangrento da luxúria!

domingo, 9 de janeiro de 2011

La mala leche para los "puretas"

Arte - Vinícius Quesada

Vontade de agarrar o mundo com os dentes e esmiuçar os detalhes... botar vestido riscado e cantar bem alto:

"Respeito muito minhas lágrimas
Mas ainda mais minha risada
Inscrevo, assim, minhas palavras
Na voz de uma mulher sagrada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada
Vaca profana, põe teus cornos
Pra fora e acima da manada...
Ê, ê, ê, ê, ê,
Dona das divinas tetas..."

* * *

Caetano Veloso
(Vaca Profana)

bom é quando a vida te surpreende


 com pessoas que você nem esperava...

Bebel (da Tijuca-Vila Mada-Alemanha), eu (que sou daqui, que não sou de lugar nenhum), Lelê (da Tijuca, Tijucana!), Marçal (uma figuraça do bem, que contagia todos com um humor irreverente e ingênuo),  Kiko (que com fome não é ninguém e pós-fome podia ser o dono do Baú), Nanachara (dos astros, dos talentos e dos recados surreais no celular),  Paty (da mama, da África)...


Cássio (Sr Doutor, por favor),  Paty (de novo... da mama, da África), Daniel (do som, livre) , Maria Fernanda (sabe tudo da psicologia humana), Raquel (com seu tripé ambulante e seu vozeirão tijucano)...

Kadu (da água pura) e Sheila (dona miúda só no tamanho)...

... time de primeira para começar o ano com o pé direito!

A corrente do bem

Paraty - 12/2010


2010 acabou. Fazer balanço de tudo o que aconteceu, rever o que deixamos para trás, comprar agenda nova, riscar compromissos antigos, pensar em tudo o que planejamos ser, fazer... se dar conta de tudo o que não fomos, fizemos... Não é fácil começar um novo ano, mas também não pode e não deve ser tão difícil !

O importante, sempre, é imaginar que podemos continuar tentando, criando, inventando novas coragens, novos desafios, novos prazeres...

Para 2011 eu quero uma vida mais leve, uma existência mais solta, um mundo para chamar de meu. Quero pensar muito em mim, quero fazer muito por mim, quero me doar por inteira (não só aos outros, que tenho certeza, recebem sempre o meu melhor... mas a mim mesma, que me deixo sempre para depois, para amanhã, para mais tarde).

Em 2011 eu vou dirigir a minha vida sem pressa, com toda a responsabilidade e zelo com que trato o mundo ao meu redor. Vou andar de carro por aí, vou andar a pé, vou cair no mar, vou cair na piscina, vou descer do salto, vou pisar mais no chão frio, vou estudar não só os conceitos universais... vou estudar meu rosto no espelho, ver as marcas que tenho, ter consciência de quem sou, desvendar meus mitos, descortinar meus medos, usar bastante vestido, deixar o cabelo crescer um pouco para fazer tranças curtas feito rapunzel antiga... vou beber bastante água, vou alimentar menos dores, vou operar o nariz para respirar melhor, vou tirar o que for preciso para meu corpo não interferir na minha vida prática... vou escrever muito mais e com menos cuidado, com menos cobrança... vou continuar sendo uma moça, daquelas de antigamente, que gosta de ter alguém para cuidar, para mimar, para brincar de ser feliz para sempre... mas, eu serei antes de qualquer coisa, uma eu mais viva,  com todas as cores, dores e amores que o mundo real exige.

Em 2011, não haverá corrente enferrujando tudo ao meu redor, haverá retrós de linha cortando o vento e desafiando um céu cheio de estrelas !