quarta-feira, 9 de março de 2011

Das perguntas

Foto arquivo pessoal: Buphal/2011

No final de semana, revendo fotos e sorrisos antigos, minha mãe me perguntou se eu era aquela mesma... moça ? Não, não sou. Nem poderia, eu acho, pensei. Mas ainda quero ser, aquela... a mesma, a moça, da foto. Sim, a que ela gerou, criou e qual ama incondicionalmente e para a qual faz bolinhos de chuva delíciosos quando chove e é carnaval!

E respondendo a pergunta, só uma parte mínima, sobre a filha dela...

É uma moça, de letras, sem rimas e que chora.
Escritora Anônima de Cartas Alheias.
Cultiva as lembranças, como bem maior.
Guarda as pessoas em relicários sagrados.

Não fez (e não faz) metade das coisas que deseja.
Mas, faz o que quer, com quem quer, quando pode.

É feliz aos poucos, porque demais, tem medo.

Não agradece muito a Deus, porque não pede quase nada. Só deseja que a família esteja protegida, bem protegida e unida. Só isso, de verdade. E, toma muito cuidado pra não chamar atenção divina sobre sua vida, que é boa, sem sustos, sem infelicidades.

Claro, que se pudesse, já teria viajado pelo mundo inteiro, conhecendo muitos outros seres e tendo assim, um livro inteiro de vivências pra contar e guardar.

Claro, que não podendo, cria, inventa, reinventa, refaz, desfaz, configura, fantasia, despe, transmuta e interpreta "Se eu seria personagem".

Acha mesmo que poderia ser um tanto de vários filmes, de vários livros, de várias músicas... nem gente precisava ser...

As pessoas que a conhecem, pessoalmente, são tocadas em algum momento por alguma mágica ao acaso. Não importa quando, nem como, ela apenas fragmenta um segundo e o transforma em eterno (naquele desejo mais intenso que o outro quer e não sabe como fazer).

Ela faz, adivinha, prepara, transforma o sonho mínimo em mínima realidade. Mesmo que seja rápido, mesmo que não fique gravado para ninguém ver. Ela tenta, sempre, ilusionar tudo...

Porque é assim que gosta de viver a vida, criando saudades.

De saudades também, quase morre. Às vezes, passa meses sem sentir. Daí, de repente, do nada, alguma coisa a toca, feito vaga-lume, feito sereno e o peito cai doente e ela sente febres por dentro e o coração cresce, se avoluma, e ela tira tudo e nem respira direito e tudo fica turvo e os olhos parecem estar cheios de pedrinhas e então ela chora, chora muito... tudo assim, de uma vez só, sem pausa... até ficar um vazio lá dentro, e então a dor passa e ela abre a geladeira e pega um suco para beber. E, a saudade fica dormindo de novo por tempo indeterminado.

É do pai, todas as dores que sente. Imensas saudades, tipo navio no fim do mundo em busca daquele moço que partiu para a terceira margem do rio. Nem pensa se um dia se encontrarão novamente, sabe apenas, que tiveram a sorte de se encontrar nesta vida (que é a única que ela conhece e que tem certeza, nasceu pra viver).

E, se hoje, ela tem tantas coisas boas pra guardar e lembrar, é porque este pai cultivou nela um jardim imenso de maravilhas.

Sorri assim, sem muitas galhofas.
Não é moça de grandes alardes, de gargalhadas, de carnavais.

É feliz, do seu jeito, do jeito dos que estão por perto, com tudo o que acontece, de uma forma ou de outra.

Não é vítima do mundo, nem de circunstâncias. Tudo é reflexo de suas próprias escolhas. Tendo sido elas, acertadas ou não.

Já escolheu muito, já deixou muitas pessoas escolherem. Acredita que a vida acontece a cada instante. Um dia após o outro. Não adianta ter pressa, milhares de coisas estão acontecendo agora, neste segundo.

Importante é saber que as pessoas passam. Algumas deixam coisas boas, outras só tristezas, outras nem merecem ser lembradas, nem se lembra.

Não gosta de achar que aprendeu com os erros. Tem certeza, com os erros... só perdeu. Perdeu inocência, perdeu amor próprio e perdeu sentimentos nobres.

Era mais pura, idealista e sonhadora há muitos anos atrás. Também sabe, era menos generosa, menos solidária, menos contemplativa e complacente, tem certeza.

Acredita que hoje é melhor do que era antes, porque perdeu a pressa, vive para cada pessoa, cada momento de cada vez.

Tem tempo para amar de várias maneiras (mãe, marido, sobrinhos, irmãos e amigos). Cada qual sabe o jeito que ela tem de amar e é bom se deixar amar, com certeza.

Não acredita em eternidades, nem em nenhum sentimento a todo prova. Acha que o ser humano é falho e não reconhece metade das suas próprias imperfeições.

Não tem medo da própria morte, mas tem medo de sentir dor. E, tem pavor, absoluto, de perder qualquer um daqueles que ela ama.

Pensa muito na Tabacaria do Fernando Pessoa e se apaixona pelos livros intensos que tratam das verdades esquecidas, que os homens de bem esqueceram.

Escreve sem parar, sem parar - lê. Anota muito, perde tudo. Recorta tudo, não cola nada. Fala pouco ao telefone, falaria tudo por carta.

Confia cegamente nos correios. Acredita em poucas pessoas reais. Gosta de algumas pessoas virtuais que de tão reais parecem ser amigas de infância.

Dorme em qualquer lugar, com luz ou sem luz, com som ou sem som. Deve ser a idade, deve ser...

Tira letra de pedra e aparece no Letreira sempre que tem vontade. Às vezes, tem muita vontade e não tem tempo, às vezes, tem tempo e não tem vontade. Como aqui é a casa dela, entra quando quer, abre as janelas quando quer e canta quando tem vontade.

6 comentários:

Laila disse...

Estou encantada com seu blog!
Que palavras sinceras e cheias de poesia discreta, sem ostentação.
Está lindo, parabéns!

Hugo de Oliveira disse...

Obrigado pela presença em meu espaço...eu gosto muito do seu.

abraços

Juliana Ribeiro disse...

Não sei se me descreveria assim tão bem e com tanta facilidade(foi o que pareceu), afinal essa é a minha maior dificuldade: me descrever.
Adorei aqui, tô seguindo!
E o que seria do ser humano, se não o ser mais complexo e mutável do Planeta Terra?

Anônimo disse...

PQP QUE TEXTÃO. MEU, ADOREI, LI UMAS DUAS VEZES. EU PODIA ESTAR NELE. TE SEGUINDO ! ANGELA.

Robson Ribeiro disse...

Tocante... Beijos.

Carmem Donega disse...

Amei!
kkk me senti um pouco como essa moça.