O que me atrai não é a faixa-livre, me atrai o espírito indômito da Hilda, aquela uma, aquela toda, a soberba Hilst.
Hilda Hilst, não era mulher de meia-fala, de meio-tom, de meia-imagem. Absolutamente à vontade entre as letras, apoderava-se selvagemente de todas as idéias que lhe brotassem na superfície do real, do místico, do sagrado, das profundezas da alma.
Quem afunda em seu poço fundo, não morre. E de lá, vê o mundo de cá, com muito mais intensidade, com muito mais altivez e soberbice. Absolutamente incapaz, de não sentir, de não ser, de não desejar em si, luminosidades abissais.
Hilda Hilst, o espírito da coisa.
Dez Chamamentos Ao Amigo
de Hilda Hilst
Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.
(I)
[Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]
2 comentários:
Olá, obrigada pela visita, blog muitíssimo interessante, beijo!
cheguei pelo blog do Marcelino Freire, há uns dias.
gostei dos posts. resolvi comentar.
boas dicas e bons poemas!
abraço
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