quinta-feira, 25 de junho de 2009

Diadema e véu...

Mônica Salmaso e Teco Cardoso (com Nelson Ayres escondido no breu) - SESI/FIESP

Ela entoou Melodia Sentimental e olhou para o infinito. O peito apertou, a respiração ficou suspensa, a voz cálida parecia alcançar a alma da gente e meus olhos teimavam em marejar corredeiras.
O silêncio parecia pairar sobre nós.
Ouvir Villa Lobos sussurrado por Mônica é um momento sublime de contemplação e rara beleza.
Há intérpretes e há Mônica Salmaso. Séria, possui uma gaiatice que não é distribuida gratuitamente. Seus movimentos (contidos, até) cadenciam canções e o olhar busca a escuridão para alumiar tudo.
Teco Cardoso é moço sortudo, conquistou a musa e com ela faz linda parceria. É bonito de se ver, de se ouvir, de saber que ali tudo é poesia.
Ontem (24/06, dia de São João, dia de meu irmão, com todas as suas idades gravadas no tempo) eu fui pra Fiesp ver Mônica encantar.
Ao abrir o show com Melodia Sentimental, fez aflorar na pele décadas de bem querer. Confesso que pensei muito em morte, embora não a queira por perto de jeito nenhum! Mas, enquanto eu ouvia cada acorde da canção, eu pensava ... "no dia da minha morte, queria um instante assim... se eu pudesse escolher, quereria que este momento fosse o meu adeus..." . Coisa estranha de se pensar, bem sei, mas Melodia Sentimental é qualquer coisa mística e mágica e dolorida e de prantos e de espantos e de soluços e de desespero e é tanta coisa junta que o peito parece que vai explodir de tanta emoção...
Daí pra frente, o show tomou outro rumo na minha retina. A contemplação embevecida daquela moça, que parece não ter muitas vaidades, mas que tem tanta doçura no olhar que parece alcançar lugares escondidos na alma, causa lento topor no nosso corpo inteiro (e note-se, que ela não é uma artista que interage com a platéia circensemente, e esta reserva talvez nos faça mais cativos... quando ela sorri meia-lua, parece que do palco incandesce estrelas) .
O show de ontem era de três artistas consagradíssimos: o mestre Nelson Ayres, o instrumentista Teco Cardoso e Mônica Salmaso, intérprete perfeita.
Eu sempre me sinto privilegiada em me conceder instantes assim, que movimentam em meu ser cordas imaginárias e que me faz mergulhar num templo perdido em algum fragmento cósmico entre o céu e a terra. Ali, onde não há explicação, não há cor, não há palavras...
... apenas deslumbramento e serenidade em lugar sagrado, com velados segredos.



Melodia sentimental
(Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos)

Acorda vem ver a lua
que dorme na noite escura
que surge tão bela e branca
derramando doçura
clara chama silente
Ardendo o meu sonhar
As asas da noite que surgem
e correm no espaço profundo

Ó doce amada desperta
Vem dar teu calor ao luar

Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor

Acorda vem olhar a lua
que brilha na noite escura
Querida és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar

5 comentários:

Tamires Viana disse...

Descrição belíssima daquele momento.
Eu citaria também o especialíssimo "Veranico de maio" que transbordava alegria e sorrisos.

Mônica toca fundo na gente, toca dentro. Mas claro quando a gente se permite. =] Que venham os próximos shows.

Alba disse...

Sonia


Mônica Salmaso e Teco Cardoso e Nelson Ayres !!!!!!!!!!!
Melodia sentimental
(Heitor Villa-Lobos e Dora Vasconcelos), bonita!!!!!!!!!!!!

beijos

Anônimo disse...

Eu digo que a Salmaso é a voz mais linda da MPB, ainda mais depois que ouvi "É doce morrer no mar" (e outras tantas!).
Pena que não consegui ver nenhum show dela ainda...
Beijo!

: A Letreira disse...

Meninas, Mônica é tudo de bom!

Anônimo disse...

Aprendi muito