Junho é de choro mesmo e este ano não podia ser diferente.
Hoje morreu meu melhor amigo.
Hoje partiu a pessoa na qual eu mais confiava, o amigo ao qual deixei muitas vezes e deixaria tantas outras, minha vida em suas mãos. Meu amigo de noite e de dia, de sorriso aberto e crises existenciais. Meu amigo de invernos rigorosos e de verões escaldantes. Meu amigo morreu e não sei se depois desta morte minha vida um dia ainda será igual a antigamente.
Eu acho que não, morro com ele. O melhor da minha existência, o que sobrou das minhas raras belezas, só ele viu e com ele morre. Eu fui uma pessoa melhor durante este tempo, eu pensava que com ele seria possível ter uma lojinha onde "Tinha de tudo um pouco e o céu também"
Meu amigo, só não era meu marido, mas era tão amado como se fosse. Ele sabia que nossas alianças era de outras vidas, então ficava fácil viver a vida ao lado dele, mesmo que a distância.
Ele sabia tudo de mim, eu sabia tudo o que ele queria que eu soubesse dele. Eu sei, que sabia mais do que ele imaginava, porque eu o lia nas entrelinhas e mesmo calada, eu o entendia e seguia, paciente, ao seu lado.
Meu amigo não vai mais voltar, não pro meu coração, pra minha vida ... e juro, tá um precipício aqui sob os meus pés e eu tô chorando igual um animal abatido mas que ainda vive.
Eu sabia que um dia ele partiria, assim como meu pai partiu, assim como eu partirei.
Desta vida a gente sabe... só se nasce pra morrer... E, enquanto não morremos, vamos vivemos... construindo histórias, afetos e sentimentos. E, tentando ser fortes, para chorar nossos mortos e não morrer com nossas tristezas.
"Cê vai, ocê fique, você nunca volte!"
( Sua vida torna-se reclusa e sem sentido, a não ser pelo desejo obstinado de entender os motivos da ausência ... “Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio-pondo perpétuo.” ) - Guimarães Rosa, A Terceira Margem do Rio.