segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Me segura que eu vou dar um troço


ADUANA

senha e sonho e sanha com que esta palavra penetra no baile
máscara de maria-ninguém de fatura recente
ou será arca de ganas do tempo do rei
cadê o cabaço lacre de selada estampilha exigido por lei
cadela safada muamba curtida no bodum das galés
saturnália entrudo ostra grudada ao casco do navio
fidalga de tamanco sem nem um pingo acre de sangue azul real
verbete acessado de uma enciclopédia cibernética de gafes
vestes inconvenientes de quem não sabe com quem está falando
usa papel-carbono pra burlar alfândegas
chega sem passaporte sem convite sem o répondez s’il vous plait
cara de pau dribla a catraca do guichê da chefia do cerimonial
não exibe pendurado no peito atestado de salubridade pública
miss maxixe
embigada
corta-jaca que se insinua nos finos salões
palavra empenhada sem lastro de chão ou teto patrimonial
nem pé-de-meia tem
casca grossa não tem no cu o que periquito roa
hectares de terras que possui são as que carrega debaixo
das sujas unhas
heranças de nenhumas capitanias heriditárias
necas de pitibiribas de sobrenomes ilustres
topless e desnuda de sesmarias
de família ignorada do frio da pá ao pavio da foice e do sudário
pó de pau de anta
vassoura de bruxa
vírus viridiana da próxima epidemia mundial de gripe
vetada pelo código de barras do produtor e do consumidor
inhaca de marafona impudica
vira-lata da chinfra arraia-miúda da folia da grei
espojada se emprenhando ao vento vário na caçamba de camião
ou ao relento ralando as coxas nuelas no lombo neutro do sexo
da mula sem cabeça

(Waly Salomão – Tarifa de Embarque – Editora Rocco, 2000. pp. 64/65.)

Nenhum comentário: