Matriuska (Contos)
Romance. Cada conto deste livro forma um. Cada romance é um conto (de fadas ou do vigário, à livre escolha). Por fim, a sensação de que este livro, embora não pareça, é mesmo uma história de amor. Escrita com intensidade e firmeza raras na literatura brasileira.
Um mergulho de fôlego na alma feminina com um sentido de imanência poucas vezes visto desde Machado de Assis. Abraços partidos, sonhos aos pedaços, esperanças liquidadas. A mulher, a vida, com os seus mistérios, desejos, dores, deleites. Urbanos, demasiado urbanos, estes relatos curtos inovam ao mesclar técnicas de música e cinema. Puzzle pleno de magia crua tomada do cotidiano, da “vida apenas, sem mistificação”.
Entre o prazer da escrita e a escrita do prazer, Sidney Rocha distribui como que pílulas de Eros e Tanatos a cada uma das suas personagens e o resultado é um calafrio ardente. Como das coisas em carne viva. E a leve impressão de que, embora pareça, este livro não é mesmo uma história de amor.
Conhece Sidney Rocha? Ora. Faz tempo que ele existe. Desde que li, faz um tempo danado, sua novela Calango-tango, eu sentia falta do texto dele. Do trinado, do ciscado. Da prece que ele faz. Do rebuliço de seus personagens. Seus parágrafos certeiros. Seu jeito de prosear. Poética, assim, medonha. Estética sem cerimônia. Sim, ele também lançou o romance Sofia. De repente, eis que ele volta, com este livro de contos curtos. E assustadores. Porque inovadores. Porque musicais, etc. e tais. E porque dificilmente existe autor como ele. Falando de certas mulheres. De certos recalques. Sem ser chato, entende? Sem querer ser o dono-da-cocada. O pior sujeito é aquele que coloca borboleta na gravata para escrever. E não voa. Não sai da mesmice. Eta porra! Sidney tem o que eu aprecio em todo coração arredio: a pulsação. A verdade. O sentimento que está na linguagem. Nos sons que ele costura tão bem. Tão modernamente, sarava, amém!
Caro leitor, pode apostar: pegue este livro na mão e veja se eu não tenho razão. Resumindo: são contos-cantos que vêm inovar e sacudir a prosa brasileira. E depois seguir por aí. Descendo e subindo a ladeira. Deixando seu sangue na gente. Assim, tão raro e para sempre!
(Marcelino Freire)
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