sexta-feira, 3 de julho de 2009

O branco da história...

Rodrigo de Souza Leão (4 Novembro 1965 – 2 Julho 2009)

O mundo fica mais pobre quando um poeta morre.

Ainda mais, quando este poeta era novo e um dos melhores da safra contemporânea (ainda que achasse que nele, a poesia estava seca).

Ele era esquizofrênico declarado e a sua prosa era alucinante. Tentava "guardar o sol em sete partes" e tinha amigos imaginários como Baudelaire e Rimbaud.
Matava um leão por dia e de lirismo se esbaldava.

Parada Cardíaca.
O coração partiu e sossega-leão nele não poderão mais aplicar. O poeta agora, descansa em branca paz.

"Todos os cachorros são azuis" está uivando pelo seu narrador e nós, por aqui, nos despedimos.

BRANCO
"Muito marfim. Esporra. Nuvem. Branco sobre branco. Um quadro de Picasso. Neve. Uma tela de computador em branco. Um grão de areia da praia W. Branco sobre branco. A pele caucasiana de virgens francesas. O branco dos olhos. Do dente. Do pâncreas. Da extremidade das unhas. O branco da barriga da baleia. Do urso polar. Branco sobre branco. Açúcar. Cocaína. Mármore. Todo o branco do mundo. Toda população branca. A tecla branca do piano. A teta branca. O branco das rosas. Das tulipas. Da mortalha. Do algodão. O peão do jogo de xadrez. Branco do banco branco. Onde sentada, as ancas brancas expelem cupidos brancos anjos de asas brancas. Da pele branca da cor de santo. O branco das garças. De algumas gaivotas que comem o infinito e mastigam o branco dos cabelos da aurora. O branco das galáxias. O branco que não tem nada a dizer. O branco da memória. O branco da história. O muro branco. O elefante branco. O rinoceronte branco. A cobra branca. Os albinos. O branco das noivas. Das lápides. Do lápis. Do cavalo branco. Do hamster. O álbum branco dos Beatles. O terno branco do pai de santo. Cocada. O branco do luto. Da vaca branca. Da magia. O branco da pelúcia do boneco. Ouro branco. Diamante branco. A casa branca. Branca de neve. O origami branco. O branco dos neurônios. Velas acessas. Cera. Sírios. A guitarra branca de Hendrix. O branco dos médicos. Da enfermeira. Da camisa de força. O branco das bombas nucleares. O cogumelo branco. As espumas das ondas. Milk shake de baunilha. Pão branco. O branco da folha de papel. O branco das zebras negras. O branco do cordão umbilical explode em várias cores. Nasce o negro também. O negro das zebras brancas. Tudo sendo engolido por um buraco negro. Tudo sendo regurgitado. O branco do leite. Do vômito."
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Um comentário:

f.mungo disse...

uma intenssidade absurda, dizer que o branco é tão branco, mais o branco do banco branco, foi lindo.