quinta-feira, 11 de junho de 2009

Há Tanto Tempo Que Te Amo



Há Tanto Tempo que te Amo é o típico filme em que o fato de o diretor acumular a função de roteirista propicia imensa sinceridade em cada plano. A aliança entre expressões da imagem com os suspenses da trama cria uma relação de cumplicidade entre nós, os espectadores, e a complicada história de Juliette (Kristin Scott Thomas).

Um filme de ausências e de coisas não-ditas, um jeito bastante conhecido dos franceses fazerem cinema. Priorizar o que não é dito em vez da verborragia dos personagens. A palavra é substituída pelo olhar, as frases dão lugar aos gestos, a presença abre espaço para a ausência. O “sim” é trocado pelo “não”.

Sabemos pouco, muito pouco de Juliette. E não cabe a mim revelar o mistério que você vai descobrir ao assistir a estreia de Philippe Claudel na direção. Dois sentimentos trabalhados logo no início da trama permanecem por todo o filme: o desconforto com o segredo de nossa protagonista e a eterna sensação de outsider, peixe fora d’água que nadou por determinado oceano, foi obrigada a abandoná-lo e, quinze anos depois, percebe que a água segue o mesmo fluxo, com ou sem ela. O jeito é encaixar-se.

Por que ela esteve ausente? Por que sua irmã, Lea (Elsa Zylberstein), ora está próxima, ora mostra-se ressabiada? Por que quando a pequenina P'tit Lys (Lise Ségur) é repreendida todas as vezes que pergunta sobre o passado de Juliette? Por que todos riem quando ela revela a verdade? Por que ela só encontra cumplicidade em outro “peixe fora d’água”, Michel (Laurent Grévill)? Por que todos fingiram que ela não existia?

Há Tanto Tempo que te Amo é uma sucessão de “por quês”. As respostas surgem, aos poucos, para reforçar ainda mais as dúvidas. Pensamos sempre no passo seguinte, na próxima emoção, nas consequências das revelações de Juliette e de que maneira elas afetarão as relações com quem a cerca.

Philippe Claudel pinta sua personagem sem adereços e nos joga em seu mundo de inadequações. O diretor não quer atingir o mental, o raciocínio. Prefere passar pelas afeições e alcançar os sentimentos. E o faz. Quando chegamos ao ápice da emoção, os créditos finais sobem e Claudel encerra, por ora, a nossa relação com o mundo de Juliette.
( crédito: Heitor Augusto )

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