sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O canto da louca desconhecida - VIII

Acrílico sobre tela (fragmento) by Sônia Alves Dias

Muros fechados, eu vejo. Por entre as pálpebras, chove e eu me derramo convulsivamente. Fujo pra fora de casa e, ruas sem sinalização, me conduzem à um labirinto onde minhas veias são minhas únicas rotas. Um homem me persegue implacavelmente , pois precisa me entregar algo... ( o que seria ? não sei... preciso fugir dele, não quero receber o que ele precisa me entregar! preciso fugir incessantemente ) . Quebro um vidro de um carro parado. Rasgo a veia do meu pescoço. O vermelho toma conta do ar, me tinge de escarlate fátuo. Sinto-me sufocar. Enfio os dedos entre a fina pele e as articulações e puxo todos os nervos para fora do meu corpo.A louca aparece indignada, em sua brancura infernal , em seu quintal extenso, com ervas daninhas ao lado do passeio descuidado. Espirro sangue, por todos os cantos. Há cor demais agora, entre nós. Ela tenta me arrastar pelos cabelos , que estavam cuidadosamente penteados e partidos ao meio , numa única trança sem nó.

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