quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Coracao de Baunilha

Eu sou moça de pequenas doçuras e travessuras. Colo bilhetes em agendas e escrevo poemas em rodapés de livros. Ainda hoje, escrevo com batom vermelho no espelho do banheiro, letras de canções para dar bom-dia ao marido em manhãs especiais. Desenho coração com flecha e leio mensagens que vem no envelope do açúcar União ("sorria mais" "invente menos problemas") enquanto adoço o chá devagarzinho...



Hoje, tenho menos sonhos, mas os que permanecem no campo do meu querer me fazem acreditar que meu coração é grande e o mundo inteiro cabe dentro dele.


Das histórias que criei para viver um dia, tem a que mais amo e creio que um dia irei realizar : ser a Moça do Beata de Bião.

Beata de Bião será meu café literário em Portugal!

Esta história é antiga e agrega um monte de delicadezas e até mesmo de ingenuidades (que não deixo ir embora, mesmo sabendo que podem ser irreais).

Beata de Bião nasceu no tempo da minha mãe, não dos sonhos dela, mas de apelido que ela teve na infância.

Minha avó (Ana da Glória) tinha muitos filhos (sete) na Fazenda onde morava com Miguel (meu avô). E, as meninas (cinco, entre elas minha mãe) não davam sossego à ela. Quando o dia não estava bom, minha avó ralhava e soltava todos os apelidos... tinha Jerimum Seco (tia Lú), tinha Vara de Furar Tripa (tia Dute) e tinha minha mãe : a Beata de Bião.

Beata de Bião era filha... de Bião. Moça que envelheceu sem casar (naquele tempo, uma desgraça em família) , que tinha os cabelos longos presos em tranças e usava um saiotão para ir à Igreja.

Quando minha avó dizia que minha mãe ia ser igual à Beata de Bião ela chorava de raiva e de medo. Ninguém queria, ao 13 anos, parecer com a Beata. Mas, Beata de Bião era moça prendada de deliciosos quitutes. Porém, como era reclusa e não recebia ninguém em casa para provar das suas guloseimas, tudo o que se sabia era o que se ouvia falar na pequena cidade de São José.

Minha mãe cresceu, se casou, teve filhos e até hoje quando lembra da infância, lembra da Beata com suas histórias fabulosas (do noivo que morreu na linha do trem, das delícias caseiras, do pai taciturno que fechava as janelas para não ver o sol nascer) e a lista é grande...

Portanto, quando meu café literário estiver pronto, dar-lhe-ei o nome de Beata de Bião e chamarei uma cozinheira prendada para fazer bolinhos caseiros para servir com chá de ervas fumegantes enquanto os transeuntes entram para folhear livros distraidamente, antes do sol se pôr.

E, Beata de Bião estará viva, não só nos "causos" contados pela minha mãe, mas na minha lembrança, de todas as histórias que me fizeram rir , enquanto eu crescia ao lado dela... com o coração cheio de doçura e saudade.

2 comentários:

Anônimo disse...

sonia


Eu sou moça de pequenas doçuras e travessuras. Colo bilhetes em agendas e escrevo poemas em rodapés de livros. Ainda hoje, escrevo com batom vermelho no espelho do banheiro, letras de canções para dar bom-dia ao marido em manhãs especiais !!!!!!!!!!!

bem bacana !!!!!!!!

aldirbrasil@yahoo.com.br


beijos

micheliny verunschk disse...

Sônia, você é uma moça bem bonita, de alma bem bonita. Gosto de você, sabia?

Me convida para ir um dia no teu café literário Beata de Bião e recitarei poemas de Cora Coralina e de Dora Ferreira e de Sophia de Mello pra fazer benfeita a ponte entre Brasil e Portugal.

Quanto aos bolinhos, experimentarei todos!