domingo, 30 de maio de 2010

Domingo de dengo

Porto Seguro - BA - 01/2010


Sou dengosa. Não daqueles dengos que enjoam, não daqueles dengos que causam estranhamento e olhares tortos. Sou dengosa no dizer. Na vida prática, sou rápida, sou intensa e sou ligeira. Agora nos meus domingos, nos meus feriados, nos meus intervalos de mulher moderna, trabalhadora e tomadora de decisões eu sou um dengo só.

Eu sou dengosa.

Tenho dengo pra olhar, tenho dengo pra querer, tenho dengo pra beijar, tenho dengo pra me mover. Faço dengo no cangote, faço dengo pra comer, faço dengo pra andar, faço dengo pra morder. Quero dengo pra acordar, quero dengo pra querer, quero dengo pra levantar, quero dengo pra viver.

Sou moça de dengos malemolentes. 

Peço dengo nas lembranças, peço dengo nas palavras, peço dengo em dias de sol e nos de chuva quero só dengar. Peço dengo em cartas escritas, peço dengo dos meus amigos, peço dengo dos meus sobrinhos e para os que amo, sou um dengo só. Peço dengo ao deitar, peço dengo em chapéu antigo, peço dengo em flor no cabelo e tranço os cabelos toda dengosa. 

Se fosse pedir algo ao mundo, não queria dinheiro, não queria amor de sobra, nem luxúria ao extremo... eu queria que me botassem dengo, mas me botassem dengo daqueles. Não dengo de luxo, comprado, bebido. Eu queria meu nego, era dengo dos bons. Daqueles que brotam do peito e que a gente sabe, não tem preço.

Caymmi me denga sempre. E, quando eu ouço sobre esta nega , eu tenho vontade de levantar os quadris dengosamente e sair caminhando por aí. Com um chapéu de palha com flor nele e com um meio-sorriso a dengar. E, encontrando um cantinho bom, deitar o corpo e me deixar ficar... assim, cheia de dengo... esperando que atrás deste dengo, todo mundo venha... todo mundo venha...

O dengo que a nega tem
Dorival Caymmi


É dengo, é dengo, é dengo, meu bem
É dengo que nega tem
Tem dengo no remelexo, meu bem
Tem dengo no falar também


Quando se diz que no falar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no andar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no sorrir tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no sambar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem


É dengo, é dengo, é dengo, meu bem
É dengo que nega tem
Tem dengo no remelexo, meu bem
Tem dengo no falar também


Quando se diz que no bulir tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no cantar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no olhar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem


É no mexido, é no descanso, é no balanço
É no jeitinho requebrado que essa nega tem
Que todo mundo fica enfeitiçado
E atrás do dengo dessa nega todo mundo vem
E atrás do dengo dessa nega todo mundo vem

6 comentários:

Primeira Pessoa disse...

caymmi era, ao meu sentir, o mais baiano dos baianos.
perdão: divido essa honraria em partes iguais com jorge amado.
esses dois sujeitos inventaram este estado de espírito, essa coisa dengosa, malemolente, chamada bahia.

cabral descobriu o brasil.
dorival e jorge amado despiram a bahia.

Anônimo disse...

ei mocinha dengosa, um dengo pra vc =)


beijo

Susanna disse...

coisa gostosa o dengo da gente e dentro da gente; um olhar dengoso é todo domingo inclinado na rede. adorei!
Bjs!

Juan Moravagine Carneiro disse...

"Lindo" Post...
abraço

micheliny verunschk disse...

Comadre dengosa, adorei foto e texto. Aliás, amo esse blog, sabia? Andei meio fora, mas agora voltei. Por falar nisso, vou mandar pro seu e-mail o endereço da gente e mais uma novidade de brinde ;)

bjks!

Lilian Goulart disse...

Você é um dengo só!