sábado, 12 de julho de 2008

O Muro

Acrílica sobre tela by Sônia Alves Dias

"- E agora ?
O quê ?

Foi um interrogatório ou um julgamento ?
Julgamento – respondeu o guarda.

E então ? O que eles vão fazer de nós ?

O guarda respondeu secamente:
Vocês receberão a sentença nas celas. "


Jean Paul Sartre - O Muro


Quando comprei este livro (O Muro) eu nunca havia lido Sartre realmente. Já havia passado por fragmentos, contextos históricos e outras anotações de cabeceira, mas ler mesmo com vontade de guardar alguma coisa só pra mim, não havia lido não. Frágil na época, eu queria um texto forte que me desse um soco no estômago, que me causasse estranheza e me fizesse parir alguma idéia nova pra viver. Sentia necessidade de reagir mais fortemente contra a dor da inexistência que esmagava meu coração, achei que Sartre poderia me dar isto...

Num primeiro instante, eu senti na pele os horrores de Steinbock, Ibbieta e Mirbal. Eu conhecia aquela noite (todos foram condenados a morte e aguardavam a execução numa cela sombria diante da presença de um médico que poderia até não existir... não houvera interrogatório, foram julgados-culpados). Sim, eu conhecia aquele medo, o frio, o desespero, o fim. Chance nenhuma de defesa.

Nesta hora a cabeça não para de pensar, tudo atropeladamente, de forma desordenada e sadicamente. A dor é grande, angustiante, cansativa e terrivelmente voraz. Toma conta do dedão do pé ao último fio de cabelo...

Na época, Sartre me surpreendeu.

O Fim é algo que eu não esperava.

Sorri bobamente ao fechar o livro, Kafka ainda era meu grande herói...

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