Leio porque... ainda que Kappus fosse versador ruim, Rilke era um missivista dos bons e a carta primeira já mostra a delicadeza e a simplicidade verdadeira do poeta angustiado e inadaptado que era. Escritor russo, amigo de Cézanne e do escultor Rodin, existencialista em mim, parceiro de nankim.
"Versos não são o que as pessoas imaginam:
simples sentimentos...
Eles são experiências.
Para a construção de um simples verso,
é preciso ver muitas cidades, homens e coisas,
é preciso conhecer os animais,
é preciso perceber como os pássaros voam e
conhecer o movimento que uma flor abre pela manhã"
(Os cadernos de Malte Laurids Brigge)
"PRIMEIRA CARTA"
(fragmento 1)
"... dir-lhe-ei ainda que seus versos não possuem feição própria somente acenos discretos e velados de personalidade. É o que sinto com maior clareza no último poema, "Minha Alma". Aí, algo de peculiar procura expressão e forma. No belo poema "A Leopardi" talvez uma espécie de parentesco com esse grande solitário esteja apontando. No entanto, as poesias nada têm ainda de próprio e de independente, nem mesmo a última, nem mesmo a dirigida a Leopardi. Sua amável carta que as acompanha não deixou de me explicar certa insuficiência que senti ao ler seus versos, sem que a pudesse definir explicitamente. Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem - usando da licença que me deu de aconselhá-lo - peço-lhe que deixe tudo isso."
Nenhum comentário:
Postar um comentário