Era uma vez muitos e longos meses, uma mulher de Balzac, uma caixa de costura, uma Nina Bailarina, muitas linhas cor-de-rosa, ingleses na TV, uma canção francesa, uma Sopa de Príncipe.
sábado, 31 de maio de 2008
Escarlatina
colagem by sônia alves dias
a cabeça oca, vermelha touca, cobra coral. lambo-lhe a boca, os dedos do pé, os cabelos do corpo. labaredas de fogo, fogo de inverno , fogo de mercúrio. Vênus desceu do cosmo, Vênus sou eu. teia de aranha, caranguejo anda de lado e desanda. na Bahia tem Café e em Sampa tem Coca . corro atrás de quem está na frente e quem está atrás de mim corre também. cobra corre e escorre, lânguida e morna, boca vermelha língua cintilante olhos piscantes veneno fatal, sem repouso escoa e no asfalto preto incendeia V E R M E L H A .
coletânea pessoal, Entrenoites, Sônia Alves Dias.
Noite Estrelada
Se...
pincél sobre cortiça by Sônia Alves Dias
e se os olhos dela cantassem uma canção que soasse através de um piano que a levasse ao céu, ou pelos caminhos do inferno ? e se ela quisesse ser um Todo e estivesse submersa ? e se o seu corpo fosse o alicerce do nada ? e se ela quisesse beber um vinho amargo, e sua boca não alcançasse nem um copo d’água para matar a sede ?
e se o seu corpo mutante ganhasse asas e fosse um animal paleontológico que tivesse garras e estivesse preso por fios invisíveis , no meio de um cabelo desgrenhado e como objeto voador não identificado, sem forças cósmicas , caísse num rio ?
e se o rio fosse de Janeiro e no Pão de Açúcar brotasse flores e se os seus cabelos fossem crinas douradas que descessem como cascatas d’águas numa corredeira sem fim ?
e se o fruto que saísse do seu ventre estivesse morto , e há tempos congelado em seu coração amputado, e pendurado estivesse como num matadouro – exposto – com bichos a lhe devorar a alma ?
e se ela navegasse sem rumo e seus braços fossem remos fortes, feitos da melhor madeira – peroba vermelha ? e se ela deixasse que a água a tomasse inteira e ficasse lívida , lírica no grande cálice tombado sagrado ? e se não houvessem escadas que lhe conduzissem as Torres da Terra do Tombo, e se as portas não tivessem chaves, e se Ícaro irado reivindicasse suas asas e diante do sol molhado de larvas incandescentes sentisse prazer em derreter-lhe com todas as penas ?
e se seus cabelos fossem cordas violas, e se o olho do mundo zombasse dela ? e se ela não fosse mais nada ... mais barco mais rio mais ar mais vinho...
e se o copo quebrasse e se o corpo entornasse e se ela no chão se inundasse inteira ?
coletânea pessoal, Entrenoites, Sônia Alves Dias.
sábado, 10 de maio de 2008
Eventail de Mademoiselle Mallarmé
dança mal, mas bem lhe quer. em busca de Les fleurs , pós-blecaute-baudelaire, lança os dados com Mallarmé. é canção de fim de século na Boite XIX. vestida de branco com cabelos esvoaçantes, grafa o som em movimentos imaginários...
[ On the air ]
pisca. o letreiro luminoso. os olhos mornos. as luzes, nos outros. os olhos, do outro. a luz, em sua boca. o peito, acelerado. o letreiro, em estado lento. o leite, dos olhos. a pele, deleite. os braços soltos. o vento pouco. pouco, vendo. veneno, da noite. pisca. do outro lado, Mallarmé. aparição.
psicologia da composição. claro, enigma. na paulicéia, desvairada. sem joão, se agarra a pedra, do sono.
é fim de noite, seus seguidores já estão dormindo e ela imagina porque seus olhos continuam em branco... apenas piscando...
...piscante.
sábado, 3 de maio de 2008
Bonequinha de Luxo
Audrey Hepburn no filme Breakfast at Tiffany's, 1961
Personagem inesquecível e imperdível. Audrey está linda e leve no papel de uma "garota de programa" chamada Holly Golightly que apesar de querer agarrar um milionário, não tem a malícia explícita que vemos nos filmes de hoje. Nela, tudo beira à inocência e é tão delicada em gestos, falas e olhares que cativa no primeiro instante. O filme é muito bom e pode ser revisitado sempre, sem medo. Não saia da sala, sem ver esta linda moça em NY tomando café da manhã em frente a Tiffany´s e na chuva de olhos fechados em abraço apertado. Linda também é ambientação de uma NY antiga e o figurino que veste Audrey sempre fantasticamente bem.
Cena imperdível: Moon River na voz suave e doce de Audrey, sentada na janela da sacada, sendo observada pelo escritor, vizinho, do andar superior.
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